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'Overtourism' e a falta de tranquilidade de cidade histórica do Laos

A cidade histórica, que tem menos de 25 mil habitantes, atraiu cerca de 800 mil visitantes durante os primeiros nove meses de 2023

Mulheres carregando cestas ao amanhecer em frente a um templo budista em Luang Prabang, capital turística do Laos. (AFP/Divulgação)

Mulheres carregando cestas ao amanhecer em frente a um templo budista em Luang Prabang, capital turística do Laos. (AFP/Divulgação)

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Agência de notícias

Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 11h14.

Em Luang Prabang, capital turística do Laos, o fluxo de visitantes afeta a tranquilidade da cidade, onde monges budistas começam a pedir esmolas nas ruas lotadas assim que o sol nasce.

"Não havia ninguém na rua quando nos levantávamos, mas agora parece uma inundação humana", diz Shi Qii, um turista de 30 anos que veio da China.

Na lista de patrimônio mundial da Unesco desde 1995, Luang Prabang destaca-se por suas torres pagodes amplamente decoradas, testemunho do passado da antiga capital.

A cidade histórica, que tem menos de 25 mil habitantes, atraiu cerca de 800 mil visitantes durante os primeiros nove meses de 2023, segundo os últimos dados divulgados pela agência estatal de notícias.

A província de Luang Prabang aposta em atrair três milhões de turistas em 2024, ou seja, grande parte dos 4,6 milhões de visitantes esperados este ano no país, que espera obter receitas de 712 milhões de dólares (3,5 bilhões de reais), segundo a imprensa oficial.

O turismo, impulsionado pela recente construção de trens de alta velocidade, é uma das poucas fontes de moeda estrangeira para uma economia que está moribunda desde a pandemia, em meio à inflação e à enorme dívida com a China.

Mas em Luang Prabang, o fluxo de curiosos é acompanhado por perturbações que afetam a serenidade da cidade adormecida em uma curva do rio Mekong.

Investimento chinês

Todas as manhãs, monges vestidos com túnicas laranjas caminham pelas ruas para recolher dinheiro dos habitantes, um costume colorido que gera milhares de fotos todos os dias.

Moradores reclamam que a procissão, típica dos países budistas do Sudeste Asiático, se transformou em uma sessão fotográfica.

"Tiram fotos em vez de comprar alguma coisa para oferecer aos monges", lamenta uma comerciante de 30 anos, que vende cestos de oferendas contendo arroz glutinoso por 50 mil kips (2 euros ou 10 reais).

Mas "se não houver turistas suficientes, perdemos dinheiro", reconhece a comerciante, que não quis revelar o nome. Falar com a imprensa estrangeira é considerado perigoso no país, onde o poder comunista exerce um controle quase total da mídia.

O governo do Laos está empenhado no desenvolvimento da linha de trem de alta velocidade, que desde 2021 liga a capital Vientiane à fronteira chinesa, através de Luang Prabang, para tentar abrir este país montanhoso que não tem saída para o mar.

A nova estação de Luang Prabang fica a cerca de 30 minutos do centro pela estrada. Tem uma inscrição em laosiano e mandarim, o que lembra que a China financiou grande parte dos 6 bilhões de dólares (29,7 bilhões de reais) para construir a linha.

Os especialistas saudaram o potencial econômico oferecido por esta primeira ferrovia no Laos. Mas também se preocupam com os riscos que esta nova dívida representa para a modesta economia do país.

Moradores ouvidos pela AFP destacaram que as receitas geradas pelo trem chinês são distribuídas de forma desigual.

E os passeios de barco pelo rio Mekong ao pôr do sol têm se transformado cada vez mais em cruzeiros de karaokê. "O estilo mudou", reconhece o proprietário de três barcos. "Isso destruiu a tranquilidade".

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