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Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2014 às 09h22.
São Paulo - A distância, de sua prisão domiciliar na China, o artista Ai Weiwei foi dando as coordenadas de como queria que sua escultura, Very Yao, torre feita de 46 bicicletas, fosse montada na Oca, no Ibirapuera. A obra já esteve ano passado na Bienal de Curitiba, mas agora tinha de ser "mais claustrofóbica", conta a curadora Tereza de Arruda.
"É um monumento sobre as transformações em seu país, sobre o que era popular e agora está em desuso", afirma Tereza, emendando que as bicicletas chinesas da marca "Forever" já não são fabricadas. Ai Weiwei é o artista mais famoso da exposição ChinaArteBrasil, mas o visitante ainda encontrará mais de 100 obras de outros 61 chineses abrigadas nos três andares do pavilhão desenhado por Niemeyer.
É possível passar ao largo de Ai Weiwei quando se mostra arte contemporânea chinesa? É claro que não, mas para o artista e crítico Wang Nanming, de 50 anos, há outros criadores em seu país até mais políticos que Ai Weiwei. "Lá, estamos todos sob controle, muitos são perseguidos, presos", conta Wang Nanming com a ajuda da curadora chinesa Ma Lin, que traduz suas falas para o inglês.
"Acho que demorará mil anos para que a sociedade da China se torne realmente democrática", continua o artista, que participa da exposição com o vídeo Western-Eastern Divan Orchestra Performance, baseado em gravação do maestro Daniel Barenboim regendo a orquestra criada por ele e pelo teórico literário Edward Said para promover o encontro de músicos do Oriente Médio.
"Não basta apenas falar de tradição e cultura, mas também sobre a influência do Ocidente sobre nossa produção. Temos ensinamento sobre arte ocidental na China", continua o crítico.
A exposição, com obras realizadas nos últimos 30 anos, tem segmentos com curadoria de Tereza de Arruda e da chinesa Ma Lin. "No começo, os artistas chineses estavam muito manipulados pela questão mercadológica, mas, desde 2008, quando estourou a crise econômica mundial, tornaram-se mais autônomos, maduros", diz a brasileira, que vive em Berlim, mas está em contato com a arte contemporânea da China há mais de dez anos.
Já Ma Lin, da Universidade de Xangai, preparou um núcleo de trabalhos expostos no segundo andar da Oca. "São 21 criadores não orientados pelo mercado, que refletem sobre problemas sociais."
Como ela conta, uma das mais conhecidas artistas apresentadas em seu segmento curatorial por meio de fotografias e vídeo é a performer He Chengyao, que espeta agulhas em si mesma no seu projeto de "política do corpo".
A obra de Wang Nanming também está nessa parte da exposição, mas é possível ainda encontrar um grande quadro realista "muito chinês" de Xu Weixin, representando em fortes pinceladas um trabalhador de minas de carvão, um pouco de (rara) arte abstrata, e uma tela em que o pintor Wu Song mistura referência à tradicional pintura de ação da paisagem chinesa com delicadas figuras eróticas. É nesse andar que se vê também o processo de desgarramento da pop art dos anos 1990 na produção do país.
"Os artistas chineses não tentam mais se aproximar do outro se vestindo como ele", afirma Tereza de Arruda. De seu núcleo, no subsolo da Oca, vale destacar os belos trabalhos do casal Rong Rong & Inri, sequências de fotografias em preto e branco impressas em tecido e que se despendem do teto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.