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Com sandália de plástico, brasileira é finalista do Cartier Women's Initiative Awards

A brasileira Isabela Chusid, fundadora da Linus, primeira sandália de plástico vegana nacional, é a única brasileira entre as finalistas na categoria América Latina e Caribe

Isabela Chusid, fundadora da Linus e finalista representante do Brasil em 2024 no Global Cartier Women's Initiative. (Fernanda Corsin/Divulgação)
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 20 de maio de 2024 às 13h17.

Criado em 2006, o Cartier Women's Initiative Awards, programa global da maison francesa, seleciona e premia mulheres empreendedoras de diferentes países e setores, que atuam em negócios que possuem impacto positivo em pelo menos um dos pontos do tripé da sustentabilidade: social, ambiental e econômico.

Neste ano, a Cartier selecionou 27 mulheres para representar as três melhores iniciativas e negócios para cada um dos nove prêmios regionais e para os dois prêmios temáticos. Além do prêmio em dinheiro para as vencedoras das primeiras, segundas e terceiras colocações, proporcionalmente, de cada categoria, todas as participantes recebem um programa de mentoria e cursos de liderança em negócios. O evento acontece na quarta-feira, 22, em Shenzhen, China.

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O programa conta com 11 prêmios, sendo 9 regionais e 2 temáticos, que reconhecem e financiam empreendedoras talentosas de impacto do mundo inteiro que se valem da sua atividade empresarial como uma força o bem.

As premiadas em primeiro lugar recebem 100 mil dólares em subsídios, enquanto as premiados em segundo e terceiro lugares recebem 60 mil dólares e 30 mil dólares, respectivamente.

Os prêmios regionais contemplam a América Latina e Caribe, América do Norte, Europa, África Subsaariana francófona (desde 2023), África anglófona e lusófona, Oriente Médio e Norte da África (desde 2011), Leste Asiático, Sul da Ásia e Ásia Central (desde 2019) e Oceania (desde 2023).

Já os prêmios temáticos, Science & Technology Pioneer Award (lançado em 2021), reconhece soluções disruptivas criadas com base em avanços tecnológicos ou científicos exclusivos, protegidos ou difíceis de reproduzir. E Diversity, Equity & Inclusion Award (DE&i). Lançado em caráter piloto em 2023, o prêmio busca incentivar soluções empresariais para fechar lacunas de acesso, resultados ou oportunidades para comunidades que têm sido sub-representadas ou mal atendidas. O DE&I é o único prêmio aberto a participantes independente do gênero.

Para esta edição,a brasileira Isabela Chusid, fundadora da Linus , primeira sandália de plástico vegana nacional, é a única brasileira entre as finalistas na categoria América Latina e Caribe. No ano anterior, a vencedora da mesma categoria foi Emily Ewell , fundadora da marca brasileira Pantys .

Em conversa com Casual EXAME, Wingee Sampaio, diretora da Cartier Women's Initiative Awards e Isabela Chusid falam sobre o programa, empreendedorismo e desafios.

Wingee Sampaio, diretora da Cartier Women's Initiative Awards (Divulgação/Divulgação)

Algum projeto da iniciativa te impactou nos últimos anos?

Wingee Sampaio: É como perguntar qual bebê é o mais fofo... Houve muitos projetos, vou apenas contar o que surgiu na mente neste momento. Há algumas edições tivemos uma mulher da região do Oriente Médio que era dentista e sua filha tinha necessidades especiais, ela descobriu que não existiam muitos programas escolares de educação infantil para crianças com necessidades especiais. Então ela teve essa inspiração, mesmo sendo dentista, para iniciar um programa escolar de educação infantil para crianças com necessidades especiais. Uma mãe-empreendedora resolvendo um grande tópico social. Acho que a história dela sempre me lembra o quão importante é um ecossistema de empreendedorismo mais inclusivo.

A maioria das ideias surgem a partir da dor, como o exemplo a da mãe-empreendedora. Como você vê o papel e as conquistas das mulheres empreendedoras?

WS: Sim, para as mulheres empreendedoras, penso que é isso que vemos acontecer. O principal desafio para as mulheres empresárias é realmente esta ideia de expandir o seu negócio para atingir todo o potencial. Basicamente, o que acontece é que eles são capazes de iniciá-lo e mantê-lo, mas muitas vezes não têm recursos suficientes para realmente expandi-lo até o potencial máximo do que realmente poderia ser em termos de impacto e escala do negócio. Uma grande parte desse desafio é o financiamento. E, como resultado, muitos desses negócios não são tão grandes quanto poderiam ser. Nos concentramos em empreendedoras que iniciaram o seu negócio, tiveram o seu negócio em funcionamento e geraram pelo menos um ano de receita. Estamos focados especificamente nesses empreendedores do ecossistema, e eles se inscrevem em nosso programa, e selecionamos um grupo deles, e esperamos que os recursos que podemos fornecer a eles realmente os ajudem a preencher essa lacuna e realmente passar para a próxima fase e ter a chance de realmente crescer e escalar.

Os desafios são diferentes dependendo da região?

WS: Sim. Na verdade, não conhecemos uma região onde digam que é os desafios sejam iguais. Penso que todas as mulheres já enfrentaram algum nível de preconceito.

Além do financiamento, quais são os principais benefícios que os participantes recebem com a iniciativa?

WS: Focamos no financiamento financeiro, mas também há acesso para se inscrever no Fundo de Empréstimo da Iniciativa para Mulheres, que pode ajudar a expandir ainda mais seus negócios. É importante citar com mais ênfase a parte financeira porque no final das contas, todos os outros recursos que se você disponibilizar sem o financiamento, não há progresso para as mulheres. As outras peças são capital social. E isso é muito importante porque sabemos, através de pesquisas, que é menos provável que as mulheres conheçam outra mulher empreendedora como modelo. Estar em uma comunidade de outras mulheres empreendedoras de impacto e também estar na comunidade de apoiantes é muito importante para que tenham acesso a todo o conjunto de competências que a jornada do empreendedorismo exige e isso muda e evolui nas diferentes fases. E por último, mas não menos importante, está o capital humano, que consiste basicamente em programas de treinamento e mentoria que temos em vigor.

E por outro lado, quais são os retornos para a Cartier em relação ao programa?

WS: É o mesmo retorno para todas as pessoas no mundo, que é o fato de sabermos que quando estas mulheres têm sucesso nos seus negócios de impacto, estão a resolver algum tipo de mudança socioambiental e todos nós se beneficiam. Apoiamos a promoção do empreendedorismo inclusivo porque é a coisa certa a fazer. É um valor importante para a Cartier. Mas também acho que nosso CEO diz melhor: quando as mulheres prosperam, a humanidade prospera.

Isabela Chusid

Qual foi a sua motivação para participar do programa Cartier Women's Initiative?

Isabela Chusid: A Emily Ewell, CEO e fundadora da Pantys, vencedora do prêmio em 2023, foi quem me incentivou a participar do programa. Ela compartilhou a experiência dela e me disse que após a premiação muitas portas se abriram para a Pantys. Participar do Cartier Women’s Initiative, além do reconhecimento de um prêmio internacional, vai agregar muito valor à marca e nos ajudará a propagar a mensagem de que é possível ser uma marca sustentável e lucrativa, propor reflexões e manter o potencial de crescimento.

Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao empreender com a Linus?

IC: Um dos maiores desafios foi acreditar no meu próprio potencial e na capacidade de tirar um projeto desse porte do papel sem ter alguém me cobrando e me orientando. Além disso, encontrar fornecedores que comprassem a ideia e acreditassem no meu sonho não foi uma tarefa simples. Iniciar a produção de uma quantidade pequena (900 pares) no mercado calçadista é extremamente difícil - praticamente ninguém trabalha com esse volume para injeção. Por isso, convencer os fornecedores a desenvolverem e produzirem um material com as características que estávamos buscando foi um grande obstáculo, assim como lançar a empresa com um orçamento limitado de 50 mil reais. Desde então, reinvestimos a nossa própria receita, nunca captamos. Inclusive, gosto de ressaltar que foi essencial encontrar pessoas dispostas a apostar nesse sonho. Uma dessas pessoas foi uma mulher especializada em desenvolvimento de materiais, que acreditou na ideia e me ajudou a executá-la.

Como você acredita que o Cartier Women's Initiative pode impactar a sua marca?

IC: Ser finalista do Cartier Women’s Initiative, além de todo o reconhecimento e prestígio, projeta a Linus para o mercado global e endossa os nossos planos de expansão internacional. O prêmio eleva o status da marca e nos coloca mais próximo de nos tornarmos uma marca de lifestyle sustentável referência no mercado global.

Quais são as principais expectativas e objetivos que você tem ao participar do programa?

IC: Participar do Cartier Women’s Initiative mostra que estamos seguindo na direção certa. É uma oportunidade única de nos conectarmos com outras empreendedoras e termos insights sobre os mais diversos desafios enfrentados durante a nossa jornada como empreendedoras. Minhas expectativas são as melhores, porque além do aprendizado e conexões disponíveis, um programa de dimensões globais casa totalmente com o momento de internacionalização que estamos vivendo na Linus - nos dá projeção para amplificar nossa presença no mercado global. Além disso, as sessões de mentoria do programa, os cursos de liderança que estamos realizando e o programa INSEAD que vamos fazer, têm sido de imenso valor.

Como você espera que a participação no Cartier Women's Initiative possa contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional?

IC: A Linus está em um momento de expansão global. A troca com outras empreendedoras de diferentes países com certeza me ajudará a enfrentar os desafios sob outra ótica, muito mais preparada e com uma rede de empreendedoras com as quais posso trocar experiências dentro de um ambiente seguro. Além disso, o programa atua também como uma chancela para o que estamos construindo - o que pode nos abrir portas para futuras oportunidades. Isso sem falar das mentorias que tenho participado, que trazem valiosas contribuições para o meu dia a dia à frente da Linus.

Qual é o impacto que você espera que seu projeto tenha no setor da moda?

IC: Em prol de um futuro que tenha como prioridade o bem estar coletivo e individual, eu espero que cada vez mais marcas e empresas entrem para o que chamamos, aqui na Linus, de "o caminho do bem". Nós já nascemos com os pilares de sustentabilidade, atemporalidade e conforto, e nosso sucesso de vendas se deve ao fato de sermos mais sustentáveis - jamais buscamos ser mais sustentáveis para vender mais. Eu torço para que esse mindset e essa preocupação genuína se tornem default no setor de bens de consumo e que a indústria da moda veja por meio do case da Linus que é possível ter um negócio que realmente viva o ESG e também dê lucro - queremos mostrar que ser financeiramente sustentável, ao pé da letra, é nossa realidade. E, a partir daí, acredito que possamos ter uma indústria mais consciente e responsável de forma financeiramente acessível, estimulando, assim, seus consumidores a agir da mesma forma. Sabendo do impacto positivo que já estamos tendo no mercado calçadista ao fazer com que grandes players saiam da sua zona de conforto, queremos que eles continuem se movendo para transformar suas as cadeias produtivas.

Como você se vê contribuindo para a promoção do empreendedorismo feminino?

IC: Demorei para entender e até aceitar que a minha trajetória serve de inspiração para outras mulheres que querem empreender. A partir do momento em que essa ficha caiu, passei a dedicar mais tempo do meu dia dando mentorias e tendo conversas com empreendedoras que estão em momentos mais iniciais de sua jornada. Além disso, dada a cultura organizacional da Linus, o intraempreendedorismo é muito estimulado e como mais de 80% dos nossos colaboradores são mulheres, essa é uma forma de trazer o espírito empreendedor para elas e alavancar suas carreiras.  Quero usar meu contexto para desenvolver mais mulheres para posições de liderança. É a única forma de mudarmos a nossa realidade.

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