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Senhores críticos, é hora de dar uma chance ao ESG

Ressalvas feitas em escala crescente à sigla até que são pertinentes, mas podem reduzir a pó uma vontade crescente por mudanças no ambiente de negócios

Um bom início mas ainda tem muito para fazer (Divulgação/Divulgação)

Um bom início mas ainda tem muito para fazer (Divulgação/Divulgação)

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Publicado em 18 de agosto de 2022 às 16h41.

Por Renato Krausz

Tem muita gente dizendo que o ESG está mirando em tudo e não está acertando em nada. Ou pior, que está proporcionando meios de validar atividades predatórias de velhos algozes do planeta, ao usar ratings impenetráveis que no fim das contas dão uma boa nota a eles.

O coro dos descontentes costuma pegar pesado. O ESG já foi classificado como uma “distração mortal” por um ex-diretor de investimentos sustentáveis da Black Rock. Um eminente acadêmico norte-americano escreveu um artigo dizendo que o mundo seria melhor sem os investimentos ESG.

O clímax desse festival de bordoadas veio no começo deste mês, estampado na capa da revista The Economist, cujo título não poderia ser mais desanimador: “ESG: três letras que não vão salvar o mundo”.

A edição dedica páginas e mais páginas para desancar a sigla e propõe que o S de social e o G de governança sejam abandonados para focarmos somente no E de Ambiental (em inglês, Environmental). E vai além: como o espectro ambiental é muito amplo, o certo seria concentrar as forças do ESG, doravante apenas E, em emissões de gases de efeito estufa, e só.

Essas críticas são baldes de água fria despejados em série sobre quem vê – ou via – com alento o estado de espírito surgido nestes últimos anos no ambiente de negócios e na sociedade em geral. O diacho é que quase todas as críticas fazem um baita sentido. Porém não prestam para dar um novo norte a esta jangada chamada Terra em seu curso rumo a um futuro sombrio.

Uma excelente análise do catatau da revista veio do colunista Rodrigo Tavares, na Folha de S.Paulo, a começar pelo título do texto: “A The Economist errou, ainda que tenha razão”. E depois vieram consultores da McKinsey com um paper lançado dias atrás, “O ESG realmente importa? E por quê?”, no qual reconhecem a validade dos senões, mas ponderam que o que está por trás de todo esse movimento das três letras continua muito importante e o será cada vez mais.

Eu concordo. Não caio na ilusão de que o mercado possa resolver todas as encrencas socioambientais sozinho, sem regulação. Ocorre que o ESG influenciou também o ambiente governamental. Também não caio na ideia de que uma grande corporação possa se despir tanto assim de sua essência mais genuína, que é gerar lucro. Acreditar nisso equivale a enxergar verossimilhança nos tubarões que viram veganos no desenho animado Procurando Nemo.

Mas que o clima interno nas empresas mudou, não há dúvida. Parte das prioridades, idem. E também a forma pela qual elas estão buscando se relacionar com seus públicos. Isso engloba desde coisas mais simples, como rever prazos draconianos que estipulavam para pagar fornecedores, até direcionar esforços para mudar comportamentos ruins que se eternizaram na sociedade e, por consequência, nas culturas corporativas, como os preconceitos de todos os tipos.

O caminho ainda é muito longo. Mas só pelas sementes que já plantou até aqui, o tsunami do ESG já valeu a pena. Temos métricas para aprimorar? Claro que sim. Precisamos de mecanismos mais rigorosos para desmascarar o greenwashing e todos os outros tipos de washing? Com certeza! Agora condenar à sigla à morte pelo que ela tem de inconcluso é ao mesmo tempo muito injusto e pouco inteligente.

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