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Renato Krausz: Afinal, onde está a sustentabilidade

Área que as empresas escolhem para cuidar da agenda ESG já é um sinal da prioridade e do foco que elas querem dar ao assunto

Ainda são exceções as empresas que possuem um departamento dedicado à sustentabilidade, seja uma diretoria ou mesmo uma gerência (Thithawat_s/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 09h00.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2022 às 17h34.

Por Renato Krausz*

Tempos atrás, a área de sustentabilidade das empresas era uma espécie de contradição, algo incapaz de se sustentar. Ela até podia existir, mas ninguém via, ninguém ouvia, ninguém queria saber. Fisicamente falando, ficava num cantinho qualquer, um lugar simbolicamente parecido com o andar número sete e meio do filme Quero ser John Malkovich, onde as pessoas trabalham encurvadas.

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A importância e a urgência dispensadas ao tema nos últimos anos mudaram a coisa de patamar. Há empresas, como a Tim, que criaram comitês estratégicos para o assunto. A Raízen, que já tinha uma área parruda de sustentabilidade alocada na vice-presidência de relações institucionais e comunicação, criou uma nova VP reunindo as áreas de estratégia, novos negócios, M&A e ESG.

Outras muitas empresas se mexeram para colocar a sustentabilidade onde ela sempre deveria ter estado. E, de certa forma, a área que elas escolhem para plugar o time responsável pela agenda ESG pode dar pistas do seu nível de comprometimento com a questão e o foco que desejam dar.

Uma pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mapeou isso entre as instituições do mercado financeiro. Eu já tratei aqui na Bússola da pesquisa “Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais” há duas semanas ( leia ) e vale voltar a ela pela quantidade de coisa interessante que trouxe à tona.

Ainda são exceções as empresas que possuem um departamento dedicado à sustentabilidade, seja uma diretoria ou mesmo uma gerência. Na maioria das assets, a liderança dos compromissos ESG fica nas seguintes áreas: 1) recursos humanos; 2) comunicação e marketing; e 3) compliance e risco.

Segundo a pesquisa, a escolha pela área de compliance e risco está ligada à percepção dos riscos que o tema gera para a instituição. De forma semelhante, quem opta pela área de comunicação e marketing deixa claro que tem conhecimento da importância das práticas ESG para sua própria reputação. Diz o relatório da Anbima: “Na pesquisa, é possível perceber que, em alguns casos, as disposições dessas empresas transcendem as preocupações com imagem e se traduzem em programas perenes de sustentabilidade”.

Há ainda quem aloque na área de facilities — o que demonstra uma preocupação com economia de materiais e ações práticas, porém sem levar as questões ESG para a estratégia do negócio — e quem deixa a implementação com terceiros especializados no assunto, o que pode para determinado perfil de corporação trazer vantagens, sem dúvida.

Nas instituições financeiras de maior porte, como os bancos, já surgem as áreas exclusivas para a sustentabilidade, e nelas trabalham profissionais especialistas a quem é dada a missão de garantir que os princípios ESG se espalhem por toda a organização. E, por fim, há empresas em que o assunto está na mão do CEO. Em geral, são companhias que foram fundadas por gente já “convertida” que logo no começo já coloca a sustentabilidade no DNA do negócio.

Enfim, a coisa está mudando rápido, e os profissionais de sustentabilidade saíram do ostracismo para o olimpo. Mas nada disso fará muita diferença se no fim das contas não alterarmos profundamente a maneira pela a qual fazemos negócios e consumimos. Aí o planeta pedirá arrego. E então será recomendável encontrar um lugar qualquer num sétimo andar e meio, como no filme, escondido e protegido, e ficar ali esperando pelo pior — que ao menos seja em boa companhia.

*Renato Krauszé sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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