O cenário atual é a razão para a necessidade do aperfeiçoamento constante de tratamentos mais inovadores (McClair Com/Divulgação)
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Publicado em 29 de agosto de 2023 às 14h00.
Por Helen Pessoni*
Nem todos os avanços tecnológicos no setor de saúde, que geram um tratamento mais assertivo e bem-estar ao paciente, convencem empresas e profissionais a investirem em inovação. A entrada em escala da tecnologia na medicina trouxe diversos avanços do ponto de vista assistencial, podendo até mesmo eliminar a necessidade de internação hospitalar. Ainda assim, parte significativa do setor de saúde vê a tecnologia como uma ameaça e, não raramente, criticam sem mesmo conhecer ou experimentar as novidades tecnológicas à disposição.
Este cenário é especialmente preocupante no âmbito das doenças vasculares, que são a principal causa de morte no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 180 mil brasileiros ao ano são diagnosticadas com trombose, por exemplo, e estudos mostram uma prevalência média de 38% de casos de varizes na população, sendo encontrada em 30% dos homens e 45% das mulheres.
Dados do Ministério da Saúde ainda apontam que ao longo de dez anos (2011-2021), o SUS respondeu pela realização de 552.332 operações de varizes, com uma média anual de 55.233 casos atendidos. Entretanto, sabemos que cerca de 45% das pessoas que passam por uma cirurgia assim, relatam a volta dos sintomas cinco anos depois.
Os diversos avanços no setor de saúde proporcionam a redução do tempo de recuperação, menor tempo ou exclusão de internação e a consequente diminuição dos riscos de intercorrência e menor volume de medicamentos ministrados. Neste mês, as campanhas de Agosto Vermelho e Azul, visam justamente alertar sobre a prevenção de doenças vasculares e estimular a mudança no pensamento de empresas e profissionais da saúde.
O cenário atual aponta para a necessidade do aperfeiçoamento constante de tratamentos mais inovadores.
A resistência ao novo é algo comum no ser humano que, instintivamente, busca conforto e segurança. E nada mais cômodo do que se apegar a métodos consolidados e ao velho “sempre foi assim” para justificar uma postura mais conservadora.
Esse posicionamento, porém, pode levar a riscos camuflados. Além de não oferecer a melhor assistência ao paciente, esses profissionais tendem a ficar tecnicamente defasados e, por fim, perder a cartela de clientes que tanto demoraram a formar, seja trabalhando como autônomos ou como empregados de uma empresa.
Não estou aqui falando de terapias alternativas ou “modinhas”. Faço referência às tecnologias comuns em outras partes do mundo e que já estão regulamentadas no Brasil. São equipamentos e métodos consolidados pela literatura médica.
O tratamento ambulatorial da veia safena, como o Endovenous Laser Treatment (EVLT), por exemplo, e outros procedimentos minimamente invasivos voltado para as varizes, começaram a ser implementados na Europa e nos Estados Unidos no final dos anos 1990 e início dos 2000.
A adoção dessas técnicas no Velho Continente também foi impulsionada pela busca por alternativas menos invasivas às cirurgias tradicionais e pela crescente demanda por opções que permitissem uma recuperação mais rápida e menor desconforto para os pacientes.
É importante lembrar que, no princípio, a safena era retirada a partir de uma cirurgia bastante invasiva, com vários cortes na perna. Depois, passou a ser tratada com laser, mas ainda no bloco cirúrgico e atualmente é tratada em um ambiente ambulatorial. E assim, em menos de uma hora de terminado o procedimento, o paciente pode voltar para casa caminhando normalmente. O ganho em qualidade de recuperação é enorme.
É claro que existe um nicho de mercado para isso, mas se não começarmos a utilizar as ferramentas, elas nunca ficarão acessíveis para mais pessoas. No meu entendimento, as condições jamais serão perfeitas no Brasil ou em qualquer outro lugar. No entanto, ao longo do tempo, os cientistas tiveram disposição e ousadia para levar a tecnologia adiante e nós também precisamos ter para utilizá-la.
Muitos argumentam que o preço desta inovação é um grande obstáculo. Alguns aparelhos, realmente, exigem um capital alto para a aquisição, mas existem estratégias para superar essa dificuldade.
Não é preciso comprar tudo ao mesmo tempo. Estude as necessidades dos seus clientes e comece pelo mais simples. Além de mais acessível financeiramente, é um jeito de você ir aprendendo e evoluindo no manuseio das ferramentas.
Outra opção é fazer parcerias. Lembro que meu primeiro aparelho de laser foi comprado em conjunto com outros três médicos. Nenhum de nós tinha dinheiro para comprar um equipamento daqueles, então dividimos os custos e o aparelho passava uma semana com cada um. Eu fazia a agenda de clientes e colocava todos que precisavam dessa tecnologia para serem atendidos na mesma semana. Era uma questão de organização e, assim, fui aprendendo, tive sucesso com os pacientes e, tempos depois, pude incorporar outras tecnologias com um capital totalmente meu.
Devemos ir além para cumprirmos o juramento de ajudar os pacientes na busca de uma saúde completa e que também sempre possamos evoluir como profissionais, nunca dando o nosso aprendizado por completo, avançando com a mente aberta para novas possibilidades.
*Helen Pessoni é médica, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e especialista em cirurgia vascular e endovascular pela Associação Médica Brasileira (AMB)
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