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Precisamos falar sobre sustentabilidade e políticas públicas

Mudanças climáticas é um dos temas urgentes, mas a lógica se aplica a outros pontos da agenda ESG

Levantamento, divulgado na última segunda-feira aponta a gravidade das questões climáticas (Marizilda Cruppe/Amazônia Real/Divulgação)
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Bússola

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 09h00.

Última atualização em 10 de agosto de 2021 às 17h03.

Por Danilo Maeda*

Muito já se falou sobre o relatório do IPCC divulgado ontem. Por isso, meu resumo do assunto vem em forma de parábola: diversas pessoas estão em um barco a remo, que navega por um rio cuja correnteza empurra em direção a uma cachoeira altíssima. Cair dali será um desastre. Já é possível perceber a proximidade da queda, pelo barulho da água e aceleração da embarcação. Assim que percebem o risco, algumas pessoas começam a remar na direção oposta. Outros ficam atônitos e paralisados. Um terceiro grupo rema distraído em direção ao abismo, sem perceber o risco a que estão expostos. Os esforços de quem rema para o lado certo são anulados pela força da água, que se soma à de quem age no sentido oposto e ao peso da inação dos demais. A tragédia é inevitável e o motivo é a falta de coordenação para que todos atuem em conjunto e no sentido correto.

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No mundo real, essa coordenação significa engajamento para ampliar a adesão e acelerar a implementação de uma agenda de combate às mudanças climáticas. Só assim poderemos promover a transformação que precisamos no tempo que dispomos. O relatório do IPCC torna claro que eventos extremos já se tornaram mais comuns, como consequência do aquecimento gerado pela emissão de gases do efeito estufa. E conforme a temperatura média do planeta continua a subir, esses eventos e suas consequências trágicas se repetirão com frequência e impacto cada vez maiores.

Por isso, é fundamental agir para que todos contribuam, em todas as esferas. Do contrário, seremos todos atingidos, com a cruel distinção de que os mais pobres sofrerão maiores impactos, pois faltam recursos para desenvolver soluções de adaptação e compensar a indisponibilidade de serviços ecossistêmicos. Na analogia do barco, é como se apenas algumas pessoas privilegiadas conseguissem se proteger durante a queda. Fora do campo metafórico, a perspectiva de milhões de refugiados do clima é um exemplo bastante real da profundidade e extensão do desafio.

Mudanças climáticas é um dos temas urgentes, mas a lógica se aplica a outros pontos da agenda ESG. Por exemplo: o efeito prático de uma bem construída política de diversidade e inclusão será limitado por uma constituição social brutalmente desigual como a brasileira. Para quem acredita no valor da diversidade, isso significa custos maiores para promover inclusão de grupos minorizados. E o objetivo sistêmico mais importante — nivelar o campo para as pessoas com menos acesso — não será atingido até que o mercado se comprometa e que existam políticas públicas eficientes para reduzir as diferenças de acesso à saúde, educação, infraestrutura, redes de relacionamento e outros ativos relevantes para uma vida econômica ativa.

Outro exemplo é o combate à fome. Com o agravamento do problema no Brasil durante a pandemia, vimos surgir várias iniciativas que buscam tratar a emergência, com doação de alimentos e recursos financeiros. Por mais louváveis que sejam, tais ações não são suficientes para endereçar as causas do problema. Ou seja: mesmo com recordes em doações de alimentos, ainda tem gente com fome no Brasil.

A solução para que as boas intenções não morram na praia com impacto positivo, mas limitado é atuar para dar amplitude e alcance a tais iniciativas, de forma que os benefícios se estendam a toda população. O nome disso é políticas públicas.

Ir além de sua esfera direta de influência e zelar por impactos sistêmicos positivos é mais que uma questão ética. É de sobrevivência.

Danilo Maeda é diretor de ESG no Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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