Mudanças climáticas: por que somos preocupados, porém inertes?
Pesquisadores americanos encontram o motivo dessa estranheza que muitas pessoas sentem e que as impede de agir por achar que a causa está perdida
Bússola
Publicado em 1 de setembro de 2022 às 09h33.
Por Renato Krausz
Se você é uma pessoa que se preocupa com as mudanças climáticas e defende medidas firmes para combatê-las, certamente já se perguntou um dia por que esse assunto não aflige igualmente os seus, os vizinhos, colegas de trabalho e a sociedade em geral. Talvez você se espante ao ver gente em volta vivendo como se não houvesse amanhã – e, se continuarmos assim, não haverá mesmo.
Uma pesquisa americana publicada na semana passada por três cientistas na revista Nature Communications encontrou as razões para isso acontecer. O fato é que nós subestimamos a importância que as outras pessoas dão para o assunto. E como elas também subestimam a nossa, no fim todo mundo se conforma e ninguém se mexe para reverter a situação. Em escala nacional, esse sentimento pode obstruir ou atrasar em muitos anos as políticas públicas necessárias para brecar o aquecimento global.
A pesquisa foi feita com 6.119 norte-americanos, mas penso que suas descobertas valem igualmente para outras populações. Os americanos acreditam que no máximo 40% deles apoiam as políticas de combate às mudanças climáticas. Mas o número real é de maioria absoluta, podendo chegar a 80%.
Uma das pesquisadoras, a psicóloga Elke Weber, da Universidade de Princeton, já havia detectado algo estranho em pesquisas climáticas que realizou na década de 1980 com fazendeiros do seu país. Na ocasião, segundo uma reportagem recente da Bloomberg, ela identificou o que chamou de “viés de ação única”, que consistia, por parte de cada produtor, na escolha de uma só ideia em que apostava todas as fichas para conter as mudanças climáticas.
Nenhum deles cogitou que elas poderiam exigir respostas múltiplas. E o problema disso é que as pessoas, muitas vezes assustadas ou ansiosas com o assunto, são levadas a soluções inadequadas. A pesquisadora, então, continuou com a pulga atrás da orelha: por que muitos anos de mudanças climáticas em curso não bastaram para levar a sociedade a se proteger?
A nova pesquisa mata a charada. Descobriu-se que os defensores de ações consistentes contra o aquecimento global superam os oponentes em praticamente dois para um, mas os americanos acreditam falsamente que o oposto é verdadeiro.
“Eles caem na armadilha de: eu apoio isso, mas acho que outras pessoas não, então numa sociedade democrática isso significa que não há mais nada a ser feito” disse outro pesquisador, Gregg Sparkman, do Boston College. A declaração está no release da pesquisa publicado na EurekAlert!, uma plataforma mantida pela AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência) para divulgações científicas.
Sparkman acredita que a pesquisa pode fornecer um impulso moral para os defensores do clima e dar mais foco na agenda de ativistas que pensam estar enfrentando uma batalha difícil com as pessoas em geral.
Nathaniel Geiger, também coautor da pesquisa, afirma: “Minha pesquisa anterior mostrou que as pessoas preocupadas com as mudanças climáticas são mais propensas a discutir o assunto quando estão cientes que os outros compartilham suas opiniões”. Para ele, as percepções errôneas sobre o real estado de ânimo da opinião pública podem sufocar a discussão construtiva sobre o assunto.
A solução para isso, dizem os pesquisadores, é conversar mais sobre o assunto e sempre dar sinais favoráveis às ações climáticas com quem está em volta. E, sempre que possível, levar essas mensagens às autoridades eleitas.
Faz muito sentido. Precisamos saber que as pessoas que se encontram ao nosso lado nesse caldeirão em fervura muito provavelmente pensam igual a nós, que o vilão que alimenta o fogo é resultado de nossas próprias ações e que a nossa inércia para mudar isso advém do descrédito atribuído aos outros.
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