O volume de consumidores com contas atrasadas teve um crescimento de 8,32% em relação a 2022 (Getty/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 29 de junho de 2023 às 18h15.
Última atualização em 29 de junho de 2023 às 18h32.
Por Alisson Goulart*
Mudanças no cenário político, economia desafiadora, juros altos, desemprego, redução da renda familiar e falta de educação financeira levaram os brasileiros a uma situação triste de endividamento. Por aqui, são 66 milhões de endividados, segundo um levantamento realizado pela Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL).
Estamos diante de uma inadimplência histórica, preocupante e que deixa todos em estado de alerta. Afinal, em março de 2023, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 8,32% em relação ao mesmo período de 2022. A variação anual observada em março deste ano ficou acima do mês anterior. Em 12 meses, aumentou a quantidade de pessoas com dívidas atrasadas de um a três anos (13,18%).
Certamente, esses números ainda vão aumentar nos próximos meses, já que ainda estamos atravessando um período difícil em nosso país. Por um lado, temos a alta de juros, o que pesa na hora de acertar as dívidas, e por outro está a baixa renda das famílias.
É necessário encontrar um equilíbrio entre esses dois fatores e trazer mais recursos para que as dívidas sejam acertadas. Mas no momento, essa conta não fecha.
Há inúmeras razões que levam à inadimplência. A raiz do problema é a falta de educação financeira. Falamos muito mais em fazer investimentos do que mesmo em gerir as finanças.
De acordo com um levantamento do Banco Central e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), 70% das pessoas gastam todo ou até mais dinheiro do que ganham. Isso representa 150 milhões de brasileiros que não têm controle sobre a própria vida financeira.
Por isso, é necessário entender o perfil de cada inadimplente para ensiná-lo a ter um melhor relacionamento com o dinheiro.
Por vezes, há pessoas que ficam inadimplentes por situações ocasionais. O indivíduo se corrompe financeiramente por situações emergenciais, como ao ficar desempregado, sem fundo de reserva ou diante de algum problema de saúde em que precisa desembolsar um valor alto para uma situação não planejada. Isso acaba levando-o a uma inadimplência de curto prazo.
No entanto, há aquelas situações comportamentais. Neste caso, estamos falando de uma pessoa que tem dificuldade de se organizar para pagar as contas nas datas corretas e não sabe fazer um planejamento sobre o dinheiro que entra e o que sai. Este, sem dúvida, é um exemplo clássico de quem vive um dia de cada vez e acaba sendo o ingrediente perfeito para entrar em uma situação complexa de endividamento.
E ainda há o superendividado, ou seja, aquela pessoa que acumulou dívidas além de sua capacidade de pagamento. Essa condição ocorre quando os gastos e compromissos financeiros ultrapassam a renda disponível do indivíduo, levando-o a enfrentar dificuldades para honrar suas obrigações financeiras. Ela não consegue pagar suas contas em dia, acumula juros e multas, e pode sofrer consequências negativas, como restrições de crédito, cobranças e até mesmo ações judiciais por parte dos credores.
Portanto, em cada perfil é preciso ser analisado junto às empresas credoras. Para se livrar das dívidas, muitas vezes, é possível alargar o prazo das parcelas, diminuir o valor do total e quantidade de juros, entre outras opções podem existir durante uma negociação.
Deixar de ser inadimplente não é uma tarefa fácil, mas é algo possível. Regularizar a situação financeira é o melhor caminho, mesmo que isso signifique ter que ficar apertado todo final de mês.
Para conseguir liquidar as dívidas, é interessante rever e analisar a situação financeira, entender quem são os credores e as opções de negociação que estão disponíveis. Além disso, é interessante identificar as dívidas mais urgentes e priorizá-las, criar um plano de pagamento com base na sua capacidade financeira, cortar gastos desnecessários e, por fim, aprender sobre gestão financeira para não entrar em outro endividamento no futuro.
Tudo isso pode exigir tempo, esforço e disciplina, mas com um plano adequado e comprometimento, é possível regularizar a situação e caminhar a uma vida financeira muito mais saudável.
*Alisson Goulart é head de Inovação do Pagou Fácil, da Paschoalotto
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Existe justificativa real para tributação de incentivos fiscais?
Empreendedorismo: verificação de antecedentes ganha popularidade
3 perguntas sobre o mercado de complexos empresariais para Sidney Angulo