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Fundos ESG priorizam mudanças climáticas e esquecem combate à pobreza

Estudo mostra que não há nenhum ETF direcionado para a erradicação da pobreza, primeiro Objetivo do Desenvolvimento Sustentável

De que vale o céu azul em um planeta tão desigual? (Chris Conway/Getty Images)

De que vale o céu azul em um planeta tão desigual? (Chris Conway/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2021 às 08h30.

Última atualização em 17 de junho de 2021 às 11h50.

Por Renato Krausz*

A enxurrada de fundos ESG brotando desde o ano passado pode estar deixando gente sem saber ao certo que problemas eles estão ajudando a mitigar ou resolver. Somente no grupo dos ETFs (fundos de investimento que seguem determinado índice e são negociados em bolsa como se fossem ações) foram criados 87 novos nos três primeiros meses de 2021, segundo levantamento da consultoria francesa TrackInsight.

Com isso, já existem 758 ETFs com características ESG, entre eles dois brasileiros, oferecidos em pregões espalhados pelo mundo. O montante investido já é de US$ 264,4 bilhões. A TrackInsight mapeou todos e avaliou quantos estão alinhadas aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e a quais deles especificamente.

Para lembrar: os ODS são ao todo 17, com 169 metas. Foram definidos em 2015 pela ONU para que o planeta os atingisse até 2030 – mas não estamos indo bem na missão. Voltando aos ETFs: 316 dos 758 cobrem 15 dos 17 ODS. Não significa que os demais fundos se sustentem em lorotas, eles podem ter outros indicadores de sustentabilidade.

O ODS recordista de atenção é o de nº 13 – ação contra mudanças climáticas –, com 195 ETFs alinhados a ele. O clima é sem dúvida a prioridade zero do mercado financeiro quando o assunto é ESG. Em sua mais recente carta anual aos CEOs, o fundador da BlackRock, Larry Fink, praticamente só falou disso. “A transição climática representa uma oportunidade histórica de investimento”, escreveu. Ele não chegou a dizer se atualmente acorda e vai dormir pensando na neutralidade de carbono, mas acreditamos que sim. Ainda bem.

Em segundo lugar, com 32 ETFs, está o ODS 9 – indústria, inovação e infraestrutura –, seguido do objetivo nº 7 – energia limpa e acessível –, com 31 fundos. E depois a quantidade vai despencando até chegar a somente um ETF para os ODS de fome zero, educação de qualidade e vida na água.

E o mais surpreendente: o objetivo nº 1 – erradicação da pobreza –  e o nº 16 – paz, justiça e instituições eficazes não têm nenhum, repito, NENHUM fundo de investimento desse universo olhando para eles.

Talvez uma explicação seja o fato de essas questões serem vistas como mais dependentes de políticas públicas do que de ações do setor privado. Por outro lado, uma economia de baixo carbono e um planeta com temperaturas aceitáveis também carecem de leis, a despeito de estarem colhendo cada vez mais engajamento do mercado financeiro.

A verdade é que lei e dinheiro são necessários para quase tudo. Então por que não repensar o olhar corporativo para os outros ODS? Se eu pudesse, sugeriria isso com ardor. Porque num mundo sem paz e com pobreza, de que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar?

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