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Como identificar os efeitos da crise climática no dia a dia?

Reconhecer os sinais da crise climática no cotidiano das populações é o primeiro passo para uma ação eficaz. Entenda no artigo de consultores em ODS e sustentabilidade para empresas

Adesivos simulam enchentes no RS em pontos turísticos de SP: 'E se a água subisse até aqui?' (YouTube Água Até Aqui/Reprodução)

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Publicado em 18 de junho de 2024 às 13h00.

Por Rafael Kenji e Thaís Scharfenberg*

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 3,6 bilhões de pessoas já vivem em áreas altamente suscetíveis às mudanças climáticas. Entre 2030 e 2050, espera-se que as mudanças climáticas causem aproximadamente 250.000 mortes adicionais por ano, somente por desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. A crise climática deixou de ser apenas uma previsão ou um alerta de cientistas e tornou-se uma realidade, com manifestações cada vez mais graves e evidentes, principalmente devido aos eventos climáticos extremos, como tempestades, secas, enchentes e queimadas.

Populações em países de baixa e média renda enfrentam maior vulnerabilidade devido à menor capacidade de adaptação e menor acesso aos cuidados de saúde. Em um país como o Brasil, onde 77% da população é dependente do serviço público de saúde, o SUS, o desafio de cobertura em saúde é grande, principalmente por ser um país de tamanho continental, com diversas realidades socioeconômicas e culturais.

A percepção individual da crise climática

A crise climática apresenta efeitos macro, como o aumento da temperatura média global, mas também efeitos locais, que são mais intensamente percebidos em crianças, idosos e comunidades marginalizadas, com o aumento do índice de mortalidade nessas populações. Verões mais quentes, ondas de calor mais frequentes e invernos menos rigorosos são sinais claros dessa mudança, piores quando acompanhadas de chuvas mais intensas e enchentes. Em áreas urbanas, o efeito é intensificado pelo fenômeno das ilhas de calor, afetando também o comportamento das pessoas.

A poluição do ar, exacerbada pelas emissões de gases de efeito estufa, contribui para o aumento de doenças respiratórias, como a asma. Desta forma, a crise climática passa a ser sentida no cotidiano das pessoas, mesmo que de forma sutil fora dos eventos extremos.

Além das condições relacionadas à saúde, o impacto gerado em outros setores afeta diretamente o cotidiano das populações. Mudanças no padrão das chuvas e a ocorrência de eventos climáticos extremos afetam a produtividade agrícola. Colheitas perdidas e solos degradados impactam a disponibilidade de alimentos, levando ao aumento dos preços e à insegurança alimentar. A redução das reservas de água doce, devido a secas prolongadas e à diminuição das glaciares, compromete o volume dos rios e o abastecimento de água potável. A crise hídrica se torna evidente em regiões que enfrentam racionamento e conflitos pelo recurso.

Os desastres naturais, deslocamento forçado e a insegurança alimentar e hídrica associada à mudança climática têm efeitos significativos na saúde mental, resultando em aumento de transtornos como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático (TEPT).

Cerca de 62% das pessoas em todo o mundo acham que não dormem bem. Muitas delas indicam como causa principalmente o aumento das temperaturas, principalmente nos meses mais quentes. O aumento do número de dias quentes no ano juntamente com a poluição do ar e os poluentes particulados em suspensão também complicam em grande medida as patologias dos indivíduos mais propensos a alergias e doenças pulmonares.

O impacto da crise climática na economia

A destruição de infraestruturas por eventos climáticos extremos gera custos significativos para reparos e reconstrução. Além disso, a prevenção de desastres naturais demanda investimentos crescentes. O governo do Rio Grande do Sul estima que a reconstrução do estado após as enchentes que destruíram várias cidades será em torno de R$ 19 bilhões. Este valor engloba assistência social, restabelecimento e reconstrução de infraestrutura que foi destruída e medidas de segurança e mitigação.

O aumento dos riscos associados a desastres naturais está elevando os custos de seguros e impactando a estabilidade do mercado financeiro. As seguradoras já ativaram a maior operação da história do país com a situação do Rio Grande do Sul. Na seca que atingiu o estado há 2 anos, as indenizações pagas somaram quase R$ 9 bilhões para o setor agrícola. A expectativa é que os números sejam ainda maiores quando computarem os seguros residenciais, de empresas e automóveis. Empresas e governos precisam alocar mais recursos para enfrentar essas adversidades.

Um dos relatórios publicados na Nature Climate Change mostrou que 22 setores da economia serão fortemente impactados com as mudanças climáticas, o que poderia custar US$ 520 bilhões por ano. De acordo com o Banco Central Europeu, as mudanças climáticas intensificarão a discrepância de renda entre indivíduos, setores e regiões, e também provocarão ajustes nos mercados de energia. Um aumento da variabilidade da inflação, estresse nos mercados financeiros, intensificação da inovação, aumento da migração e aumento da dívida pública também são esperados como resultado das mudanças climáticas.

Dessa forma, reconhecer os sinais da crise climática no cotidiano das populações é o primeiro passo para uma ação eficaz. A conscientização sobre esses impactos deve ser acompanhada por políticas públicas robustas e um comprometimento global para mitigar os efeitos e adaptar-se às mudanças inevitáveis. Somente através de uma ação coletiva e urgente é possível proteger o planeta e assegurar um futuro sustentável para as próximas gerações.

*Rafael Kenji é médico e Thaís Scharfenberg é internacionalista, consultores em ODS, ONU e sustentabilidade para empresas.

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