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Como a iniciativa privada pode alavancar descoberta de novos medicamentos

Iniciativas de Venture Science podem tornar o futuro dos medicamentos mais doce

Como chegar à receita para novos remédios? (Erik Isacson/Getty Images/Getty Images)

Como chegar à receita para novos remédios? (Erik Isacson/Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 1 de novembro de 2022 às 17h00.

Última atualização em 1 de novembro de 2022 às 17h22.

Descobertas científicas, em especial as de novos medicamentos, demandam muita dedicação e estudo, além de recursos naturais e financeiros. Será que temos, no Brasil, todos os ingredientes para essa receita?

Quem já se aventurou na cozinha sabe que seguir uma receita é uma tarefa relativamente simples, ou pelo menos deveria ser. Durante a pandemia, mais especificamente no período de lockdown, todos estavam procurando novas atividades para fazer dentro de casa e, um belo dia, falei para mim mesmo que faria um bolo de laranja.

Impaciente que sou, peguei a primeira receita na internet, juntei todos os ingredientes em cima da pia, uma vasilha e estava pronto para começar. Acrescentei ovos, óleo, açúcar, suco de laranja, fermento e só estava faltando a farinha. Logo ao pegar o saco de farinha e segurá-lo mais firmemente, percebi que apesar do formato da embalagem de papel estar preservado, só o fundo dele se encontrava preenchido por farinha e o resto era ar.

Olhei para a vasilha, já com todos os ingredientes lá, misturados, e eu com apenas um terço da farinha necessária. Como bom brasileiro, segui a boa e velha arte do improviso. Separei um pouco da mistura numa vasilha menor, misturei, a olho, a farinha que tinha e joguei no forno. Não preciso dizer que todas as proporções estavam erradas e que o bolo, além de fino, estava tão fofo e úmido como uma perna de cadeira. Após 3 horas, estava eu, sentado no chão da cozinha, pedindo um bolo feito corretamente pelo aplicativo de entregas.

Toda essa odisseia culinária se replica na ciência brasileira há décadas. O Brasil tem o principal ingrediente para ser um polo de criação de novos medicamentos: nós temos a maior biodiversidade do planeta. Os chamados medicamentos da biodiversidade vêm essencialmente de substâncias presentes em plantas, fungos e animais. Como exemplo podemos citar o captopril, advindo do veneno da jararaca ou a dipirona, extraída da casca do salgueiro. Logo, pode-se imaginar o potencial presente em nossa fauna e flora.

O segundo ingrediente também está presente, que são pesquisadores e centros acadêmicos de qualidade para se realizarem as pesquisas sobre essa biodiversidade. Nesse aspecto, o Brasil tem uma das produções científicas mais prolíferas do mundo. Somos o 13° país com o maior número de publicações do planeta. A maior biodiversidade com uma das maiores produções científicas: a receita está indo bem.

Contudo, quando vamos olhar os resultados dessa soma, vemos que nosso bolo não cresceu. Até hoje apenas dois medicamentos de uso clínico foram totalmente produzidos e registrados no Brasil, o anti-inflamatório Acheflan e o Heleva, para disfunção erétil.

Dessa forma, podemos concluir que faltou farinha na receita, ou seja, faltou o acesso a capital. Analogias culinárias à parte, pesquisas científicas para novos medicamentos são custosas e, no Brasil, tradicionalmente, os investimentos em pesquisa são realizados por programas de fomento governamentais, muitas vezes atrelados às universidades. Tais investimentos precisam ser distribuídos por todo território nacional, em pesquisas de todos os tipos. Tal fato faz com que, muitas vezes, os recursos cheguem devagar, fragmentados e em quantidade insuficiente.

Para solucionar essa lacuna de investimentos, nos últimos anos, chega ao Brasil o conceito de Venture Science: um braço do Venture Capital dedicado a investimentos em pesquisa científica. O nome específico não é à toa. O Venture Science tem um conjunto de regras muito diferente do Venture Capital.

Enquanto um fundo tradicional mede o potencial de uma empresa baseado na sua habilidade de gerar receitas e recursos, uma pesquisa científica é uma grande consumidora de recursos, até ter uma patente valiosa para ser negociada.

Nesse ponto, não se deixe enganar, patentes de novos medicamentos podem facilmente chegar a valer na casa de centenas de milhões de dólares. Em 2021 o mercado de biotecnologia atingiu US$ 1 trilhão, valor maior que o PIB de países como Holanda, Suíça e Argentina no mesmo período.

Com um “exit” tão valioso, há de se questionar porque não investimos nessas pesquisas há mais tempo. A resposta para essa pergunta está na natureza do dos próprios fundos, geralmente com equipes formadas por profissionais da área de economia, especializados em olhar números, não tem a expertise necessária para avaliar o potencial e andamento de um trabalho puramente científico.

A MKM Biotech, empresa brasileira de investimentos pioneira em Venture Science, precisou montar uma equipe que conta com profissionais de dupla formação: negócios e medicina, biotecnologia ou farmácia, a fim de identificar boas iniciativas para receber investimentos.

Portanto, o surgimento dessa estrutura permite que cada vez mais investidores e fundos possam investir na cura de doenças, na descoberta de novas vacinas e no bem-estar da população como um todo. Ademais, sinceramente, caso tivéssemos a oportunidade de investir na cura de uma doença que está acometendo uma pessoa querida, quem não o faria? As iniciativas de Venture Science podem tornar o futuro dos medicamentos mais doce do que um bolo de laranja.

*Carlos Zago é CEO da MKM Biotech, empresa de investimentos em venture sciences e biotecnologia

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