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Como a cirurgia bariátrica diminui o risco de câncer

Estudo revela como a intervenção cirúrgica auxilia na redução de até metade das taxas de óbito por câncer diretamente ligado à obesidade

Controle do peso é uma importante medida preventiva contra o câncer e outras patologias (Benoit Tessier/Reuters)

Controle do peso é uma importante medida preventiva contra o câncer e outras patologias (Benoit Tessier/Reuters)

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Publicado em 11 de abril de 2022 às 18h00.

Última atualização em 11 de abril de 2022 às 23h11.

De acordo com um estudo publicado pela revista The New England, a intervenção cirúrgica com o objetivo de auxiliar a perda de peso pode significar uma redução de metade dos casos de óbito devido a cânceres ligados diretamente à obesidade e, além disso, reduzir em até um terço a incidência de outros tipos da doença após um período de sete anos.

Assim, a incidência de cânceres de esôfago e de mama — o primeiro, duas vezes mais comum e o segundo 10% mais provável em pessoas com quadro de obesidade — pode apresentar uma queda significativa entre a população britânica.

Segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer — da Organização Mundial de Saúde —, o excesso de gordura corporal representa risco para o desenvolvimento de, pelo menos, treze tipos de câncer: o de esôfago (adenocarcinoma), estômago (cárdia), pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino (cólon e reto), rins, mama (em mulheres na pós-menopausa), ovário, endométrio, meningioma, tireoide e mieloma múltiplo.

Para Antonio Cavaleiro, coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Santa Catarina — Paulista, o controle do peso é uma importante medida preventiva contra o câncer e outras patologias. Segundo ele, o excesso de gordura no corpo gera níveis elevados de hormônios do crescimento, e isso pode levar as células a se dividirem de maneira acelerada, resultando em um possível câncer.

“Grande parte das pessoas obesas graves tem um nível crônico e baixo de inflamação que, ao longo do tempo, pode causar danos no material genético do indivíduo e levar à doença”, afirma o coordenador.

De acordo com Cavaleiro, o sobrepeso e a obesidade estão, inclusive, relacionados ao aumento de outras doenças que têm relação com inflamações crônicas, como refluxo, pedra na vesícula, hepatite não alcoólica, entre outras.

O quadro de obesidade pode ser desencadeado por diversos fatores — genéticos, psicológicos, sociais, metabólicos — e, assim como o excesso de peso, também pode estar ligado aos hábitos da vida moderna, ao estresse e à diminuição da atividade física.

“Para o bem da população, temos que evitar ou diminuir o sedentarismo, refeições industrializadas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar, que resultam no aumento do número de pessoas obesas, inclusive crianças”, diz Hugo Valente, endocrinologista do Hospital Santa Catarina — Paulista.

O cenário atual se mostra preocupante visto que o número de indivíduos com obesidade e excesso de peso no mundo tem apresentado aumento constante nos últimos anos, quadro agravado pela pandemia da covid-19. De acordo com o estudo Diet & Health Under covid-19, realizado pela IPSOS, que entrevistou 22 mil pessoas em 30 países, os brasileiros representam a nação que mais ganhou peso durante o período da pandemia: enquanto a média global de pessoas que afirmam ter engordado é de 31%, o mesmo índice entre os brasileiros entrevistados — que engordaram cerca de 6,5kg nesse período — é de 52%.

Além da melhora da qualidade de vida, o tratamento cirúrgico da obesidade também diminui o surgimento e/ou complicações de outras enfermidades, evidenciando a importância de um profissional qualificado para o acompanhamento desse processo que, devido à pandemia, apresenta uma demanda reprimida de cirurgias bariátricas e metabólicas.

“No Brasil, menos de 2% da população elegível para o procedimento realiza a cirurgia. Apesar do medo de sair de casa e dos receios para realizar os procedimentos bariátricos, as pessoas estão cada vez mais seguras com o avanço da vacinação e a evolução dos tratamentos para perda de peso”, declara José Luís Corrêa, cirurgião bariátrico do Hospital Santa Catarina — Paulista.

Quem são os pacientes elegíveis à cirurgia?

Os pacientes candidatos a realizar a cirurgia devem ter entre 18 e 65 anos e podem ser divididos em três grupos conforme o índice de massa corpórea (IMC) — que é a divisão do peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros).

IMC entre 30 e 34,9: pacientes que são diabéticos tipo 2, com idade mínima de 30 e máxima de 70 anos, com menos de dez anos de doença e com resultados clínicos pouco satisfatórios após dois anos com endocrinologista e mínimo de dois anos em dieta, exercícios físicos e medicações orais e/ou injetáveis.

IMC entre 35 e 40: aqueles pacientes que apresentarem pelo menos um quadro dentre os citados: diabetes; doenças cardiovasculares (Hipertensão, IAM, ICC, Angina e Fibrilação atrial); AVC; dislipidemia (colesterol e/ou triglicérides aumentados); artropatias, como problemas ortopédicos de coluna, quadril, joelhos, pés, etc; refluxo gastroesofágico; asma grave; colecistopatia calculosa; pancreatites agudas de repetição; esteatose hepática; incontinência urinária; infertilidade; estigmatização social; depressão e apneia do sono.

IMC > 40: todos os pacientes com mais de dois anos de tratamento clínico.

Para jovens entre 16 e 18 anos, a cirurgia pode ser realizada mediante a autorização da família, avaliação pediátrica e consolidação das epífises de crescimento dos punhos. Pacientes com idade superior a 65 anos também devem respeitar os critérios citados e ter a presença de comorbidades além de avaliação individual por equipe multiprofissional e avaliação criteriosa do risco/benefício. Já em casos de pacientes com histórico de abuso de entorpecentes ou quadro de alcoolismo, transtorno de humor grave, transtorno psicótico e ausência de entendimento do procedimento, pode haver a contraindicação do procedimento.

Procedimento e recuperação

Para a realização do procedimento, é necessário que o paciente permaneça, em média, de 36 a 48 horas internado, para que os procedimentos pré-operatórios possam ser realizados de acordo com o protocolo médico. Além disso, é preciso seguir rigorosamente a orientação dada pelo nutricionista e pela equipe quanto à alimentação (dieta líquida para gastroplastia na fase inicial). Outras recomendações comuns incluem: não carregar peso, evitar esforços físicos exagerados, estimular a deambulação após liberação médica, não ficar deitado em demasia e fazer o uso da meia anti-trombo.

De acordo com Corrêa, o paciente pode retomar a maioria das atividades habituais — como dirigir — cerca de sete dias após a operação, mas recomenda-se que permaneça em home-office nesse primeiro período. Atividades físicas como musculação e exercícios aeróbicos são liberados após 30 dias, e são tão importantes quanto a dieta no processo de emagrecimento.

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