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Bia Leite: precisamos melhorar 37 vezes

Estudo sobre empreendedorismo de impacto da periferia revela abismos

Com pouco recurso qualquer negócio tem menos fôlego para sobreviver (Luis Alvarez/Getty Images)

Com pouco recurso qualquer negócio tem menos fôlego para sobreviver (Luis Alvarez/Getty Images)

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Publicado em 17 de agosto de 2022 às 18h30.

Última atualização em 17 de agosto de 2022 às 18h37.

Nos últimos anos, quase todo projeto ou programa da Rede Mulher Empreendedora (RME) conta com repasse de vale-alimentação para as mulheres participantes durante o período do curso e/ou com doação de recurso financeiro para elas começarem ou engrenarem seus negócios (capital semente).

Além de oferecermos formação para desenvolvimento das habilidades, além de ouvirmos e respondermos às dúvidas das mulheres, além de inseri-las numa rede de suporte, cada vez mais insistimos no repasse direto de renda, como programa recorrente e essencial.

Entretanto, nos deparamos com quem não entende o porquê fazemos isso. Já ouvi que o vale-alimentação ou “bolsa alguma coisa” (como falam alguns) pode fazer com que a pessoa em situação de vulnerabilidade não evolua por conta própria, mas fique eternamente dependente de um auxílio.

Quando se observa o dado de que o capital inicial de um negócio da periferia é 37 vezes menor que um de fora da periferia, talvez se entenda que repasse de renda para a parte de baixo da pirâmide não é garantidor de estagnação, mas de movimento da economia. A análise foi revelada em estudo inédito da FGVcenn, em parceria com a Anip/A Banca e a Artemisia, em evento sobre a realidade e o futuro dos negócios de impacto da periferia.

Com menos recurso, um negócio terá muito menos fôlego para sobreviver até conseguir alcançar o break even (ou ponto de equilíbrio financeiro), muito menos possibilidade de investir em inovação e de se adaptar em momentos de crises.

É um problema real que atinge as famílias brasileiras. Conforme o estudo, os negócios de periferia, em sua maioria, são liderados por mulheres. E a despeito de começarem com muito menos recurso, ainda conforme a pesquisa apresentada, garantem uma rentabilidade maior do que aqueles negócios de fora da periferia que recebem muito mais investimento.

Portanto, a crença de que oferecer vales, bolsas, doações para a população em vulnerabilidade seria fomentar o não desenvolvimento, não se prova na realidade.

Eu me pergunto a razão pelo qual algumas pessoas não questionam o motivo de não se ver por aí mais apoio, no formato como os programas da RME, da Anip/A Banca e tantas outras organizações importantes e sérias do ecossistema empreendedor tem feito. Apoiar o desenvolvimento do país não é só dizer: “vai lá e faz que você é capaz”. É dar meios técnicos e materiais para isso.

Se até o presente momento um negócio de uma mulher da periferia começa com menos capital do que aqueles de fora da periferia, mesmo tendo condições de ser rentável e alimentar uma família, nós é que precisamos ser 37 vezes melhores em apoiar esta empreendedora a vencer a pobreza.

*Beatriz Leite é gestora de projetos, formada em gestão ambiental pela USP e pós-graduada em gestão de projetos pelo Senac. Atua há quase dez anos em negócios e organizações sociais, nas áreas de longevidade, desenvolvimento local, cultura e empoderamento feminino

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