Equipes diversas são mais produtivas, felizes e disruptivas (FatCamera/Getty Images)
Bússola
Publicado em 14 de junho de 2022 às 15h48.
Por Beta Boechat*
Eu tenho o costume de chamar carinhosamente algumas marcas e empresas de “marca Tihany”. Explico o porquê.
Tihany era o nome de um circo que, vira e mexe, chegava na minha cidade quando eu era pequena. Era só aquela frota de caminhões chegar, a tenda levantar, que era festa o mês inteiro. O ar se tornava mágico, os carros passavam pelos palhaços no meio da rua, que tentavam convencer o povo de entrar no circo. Era lindo ver as luzes acesas em dia de espetáculo.
Passado o mês, as luzes se apagavam, a tenda baixava, os carros iam embora e aquele estacionamento ficava vazio, com ares de tristeza, como se nenhum malabarismo ou passe de mágica um dia tivesse acontecido ali.
Mês de junho na publicidade é parecido.
É lógico que devemos celebrar. Junho é o mês do orgulho LGBTQIA+, um mês que existe porque ainda vivemos em uma sociedade que oprime, exclui e mata pessoas, apenas por elas serem quem elas são.
Quando tudo parece ser tão urgente assim, celebrar parece uma loucura, mas não é. Celebrar é, antes de tudo, mostrar que ainda estamos aqui. Que sobrevivemos. Porém, cada vez mais, ano após ano, o que antes era quase um grito de desespero, hoje é um alerta gigante, principalmente para as marcas.
Em pesquisa recente da Gallup, uma, a cada cinco pessoas da geração Z nos Estados Unidos se considera LGBTQIA+. No Brasil, a realidade não é muito diferente. Questionar gênero e sexualidade é o que essa geração faz de melhor, e esse movimento não parece estar se desacelerando.
Assim como os millenials, que chegaram no mercado de trabalho fazendo um barulho enorme e jogando algumas regras para cima, questionando hierarquia, planos de carreira e visão de futuro, a geração Z vem não só para sedimentar algumas mudanças, como para aprofundar a quebra de estruturas que pareciam eternas.
Enquanto os millenials queriam representatividade, a Gen Z quer materialidade. Não adianta mais só colocar “o diferente” ali para dizer que aceita e apoia. Agora, “o diferente” tem de estar lá, todo dia, de cima a baixo, em todos os lugares. Diversidade não é mais desejo, é lei.
E isso tudo, por mais caótico e desesperador que pareça para empresas acostumadas há décadas com uma única forma de pensar, é mais que benéfico. Não são poucos os estudos que mostram que equipes diversas são mais produtivas, felizes, criativas, inovadoras, disruptivas. Que diversidade retém talentos. Que ninguém mais quer trabalhar em um lugar que obriga você a fingir ser outra coisa que você não é.
Qualquer pessoa se sente maravilhada quando o circo chega.
É lindo ver as cores e sentir o cheiro da pipoca no ar.
Mas não dá mais pro mês acabar e o terreno ficar vazio.
Procurei no Google, e parece que o Tihany ainda continua rodando por aí, fazendo crianças felizes durante alguns períodos do ano.
Tomara que, dessa vez, a tenda não se desmonte no primeiro de julho.
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