Relatório: Amazônia perde em um mês área do tamanho do município do Rio
Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) da Imazon detectou 1.287 km² de desmatamento no mês passado, alta de 66% sobre os 777 km² do período anterior
Clara Cerioni
Publicado em 16 de agosto de 2019 às 11h50.
Última atualização em 16 de agosto de 2019 às 11h57.
São Paulo — O desmatamento na Amazônia Legal cresceu 66% em julho deste ano em relação ao mesmo período de 2018, segundo um relatório mensal, divulgado nesta sexta-feira (16), pelo instituto de pesquisa Imazon.
Segundo os dados, no mês passado o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) detectou 1.287 quilômetros quadrados de desmatamento, contra 777 quilômetros quadrados no ano passado. O município do Rio de Janeiro tem 1.255 km².
Em julho de 2019, o desmatamento ocorreu no Pará (36%), Amazonas (20%), Rondônia (15%), Acre (15%), Mato Grosso (12%) e Roraima (2%).
O SAD é uma ferramenta de monitoramento da floresta, desenvolvida em 2008 pela Imazon, uma associação sem fins lucrativos qualificada pelo Ministério da Justiça e que acompanha via imagens de satélite o ritmo do desmatamento e da degradação florestal na Amazônia Legal.
A organização não é ligada ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), que no início de agosto divulgou que o desmatamento cresceu 278% no mês de julho. Por usarem metodologias diferentes, as pesquisas desses institutos não são comparáveis. Os dois estudos, no entanto, indicam um aumento no desmatamento.
Especialistas da área de monitoramento apontam que a comparação mês a mês não é a mais adequada pois a visibilidade dos satélites pode ser afetada por fatores como nuvens e fatores sazonais, mas a tendência de alta do desmatamento é confirmada também pelos dados de períodos mais longo.
Os dados mostram, ainda, que em um ano, entre agosto de 2018 e julho de 2019, o desmatamento aumentou 15%, em comparação aos 12 meses anteriores. Foram 5.054 quilômetros quadrados de florestas derrubadas.
Acesse na íntegra o boletim do desmatamento em julho elaborado pela Imazon
Tensão internacional
Dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz monitoramento também via satélite mas com sistema próprio, apontam que o desmatamento da Amazônia cresceu 40% entre agosto de 2018 e julho de 2019 em relação ao período anterior.
Os dados, assim como a retórica do governo na direção do desmonte da política de preservação ambiental, tem gerado uma intensa reação internacional.
Nas últimas semanas, a Alemanha bloqueou recursos para preservação da floresta e a Noruega suspendeu os repasses para o Fundo Amazônia,mais importante programa de preservação no Brasil.
Em resposta, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu quea chanceler alemã, Angela Merkel, "pegue a grana” bloqueada para preservação ambiental no Brasil e refloreste a Alemanha .
Já em resposta a Noruega, que é a maior financiadora do fundo, com 94% de participação, Bolsonaro disse: “Noruega? Não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós”.
No mês passado, quando o Inpe divulgou os dados de desmatamento, Bolsonaro disse, sem apresentar evidências, que os dados de alta do desmatamento eram mentirosos e sugeriu que Ricardo Galvão, presidente do Inpe, poderia estar “a serviço de alguma ONG”.
Galvão reagiu em defesa do Inpe e foi exonerado. Seu substituto é Darcton Policarpo Damião, que é da Aeronáutica e tem doutorado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília.
"O governo vai ter problemas porque os dados do sistema Prodes, que mede o desmatamento anualmente com imagens de qualidade muito maior, vão ser publicados no fim do ano e devem mostrar um desmatamento muito acima do que o Deter vem mostrando", disse Galvão em entrevista para a EXAME.