Repórter
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 07h02.
Aprovado na madrugada desta quarta-feira, 9, pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei da Dosimetria pode alterar de forma significativa as penas impostas a condenados por crimes contra o Estado Democrático de Direito, incluindo os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A proposta, relatada por Paulinho da Força (Solidariedade-SP), modifica regras de cálculo de penas e progressão de regime, e já está em análise no Senado.
A principal mudança é a unificação de penas para crimes cometidos no mesmo contexto, o que reduz o tempo total de prisão em casos como os de Jair Bolsonaro e outros líderes da trama golpista. A proposta ainda prevê progressão de regime mais rápida, remição de pena também em prisão domiciliar e redução específica para réus que atuaram em "contexto de multidão".
No caso de Boslsonaro, que foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a nova fórmula de dosimetria pode reduzir o tempo de prisão em regime fechado de 5 anos e 11 meses para 2 anos e 4 meses, segundo estimativas do relator.
Bolsonaro está preso desde o fim de novembro na superintendência da Polícia Federal em Brasília.
A proposta aprovada traz quatro eixos principais de mudança:
O novo modelo pode beneficiar diretamente nomes da cúpula do governo Bolsonaro. Estimativas indicam que:
As estimativas consideram remição por estudo ou trabalho e aplicação do concurso formal, além do novo percentual de progressão de regime.
A aprovação do PL também impactaria diretamente os réus de menor escalão condenados por participação nos atos de 8 de janeiro. Entre eles estão figuras como a cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, conhecida como “Débora do Batom”, Maria de Fátima Mendonça, apelidada de “Fátima de Tubarão”, e Antônio Cláudio Alves Ferreira — condenado por destruir um relógio histórico do Palácio do Planalto.
Débora, por exemplo, foi condenada a 14 anos de prisão, mas com as novas regras sua pena poderia cair para cerca de 3 anos e 2 meses. Por ter filhos menores, ela cumpre prisão domiciliar, regime que também passa a permitir remição da pena por estudo ou trabalho com a nova legislação.
Fátima e Antônio Cláudio, ambos com sentenças de 17 anos, também seriam beneficiados. No cenário mais favorável, poderiam cumprir penas reduzidas para 3 anos e 8 meses. O argumento central da defesa é que os três agiram sem exercer liderança, em meio a uma multidão — condição agora reconhecida como atenuante formal pelo projeto de lei.
“Nos três casos, eles cometeram o crime no contexto de multidão, o que reduziria a pena de um terço até dois terços”, explica o advogado constitucionalista Acácio Miranda.A votação na Câmara foi marcada por manobras de última hora, acordo entre PL, Centrão e União Brasil, e forte reação da base governista. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que o texto representa um “ponto de convergência” e não interfere nas decisões do STF.
Lideranças da oposição confirmaram que o ex-presidente Bolsonaro autorizou o avanço do projeto, em meio à pressão para viabilizar uma saída jurídica antes das eleições de 2026.No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) se comprometeu a votar o projeto ainda em 2025, mas a proposta enfrenta resistências em bancadas como a do PSD e do MDB. Caso seja aprovada, seguirá para sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
*Com informações do O Globo