Redes sociais difundem e dividem protestos no Brasil
Redes sociais como o Facebook e o Twitter propiciaram um tipo de mobilização que há mais de duas décadas não era vista no país
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2013 às 23h45.
São Paulo - Os maiores protestos das últimas décadas no Brasil reúnem uma mistura confusa e conflitante de pessoas e mensagens. E a culpa é do Facebook.
Redes sociais como o Facebook e o Twitter propiciaram um tipo de mobilização que há mais de duas décadas não era vista no país. Mas, graças à velocidade, eficiência e anonimato do ativismo on-line, emergiu um movimento amorfo e desajeitado, fora do controle daqueles que inicialmente começaram a pedir mudanças.
"As redes sociais nos ajudaram a nos organizarmos sem termos líderes", disse Victor Damaso, de 22 anos, que participava de uma manifestação na quinta-feira à noite na avenida Paulista, em São Paulo.
"Nossas ideias, nossas exigências são discutidas pelo Facebook. Não há reuniões nem regras." As manifestações são majoritariamente pacíficas, mas, com a presença de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de dezenas de cidades na quinta-feira, vândalos e saqueadores lançaram uma sombra violenta sobre alguns dos protestos.
Em vários casos, policiais reagiram com gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta.
Páginas montadas no Facebook para a coordenação logística e hashtags do Twitter brotam sem parar nos últimos dias para convocar protestos em centenas de cidades. Grupos rivais parecem estar disputando o controle de uma das mais visitadas páginas de uma organização no Facebook e de uma conta correlata do Twitter.
"Todo o movimento que cresce corre o risco de atrair grupos e indivíduos com os quais não tem afinidade plena", disse a socióloga Angela Alonso, da Universidade de São Paulo. "É um preço do crescimento. Como, neste caso, não há liderança centralizada, a administração dessas adesões fica mais difícil e vem se mostrando mesmo descontrolada."
O Movimento Passe Livre, um grupo com cerca de 40 ativistas que iniciou as passeatas - afinal bem sucedidas - pela redução da tarifa dos transportes em São Paulo, anunciou nesta sexta-feira que não convocará novas atividades por enquanto, por causa da crescente tensão e violência nos protestos.
A partir dos protestos do MPL, uma convocação nacional por reformas rapidamente evoluiu para aquilo que agora ficou conhecido na internet como Anonymous Brasil.
O grupo parece usar navegadores criptografados, o que dificulta identificar os administradores da página, e adotou como mascote as máscaras de Guy Fawkes, símbolo do grupo global de hackers Anonymous. Não está claro, no entanto, se o grupo nacional tem ligação com o global.
Embora isso abra espaço para todo tipo de grupo marginal, as pessoas que estão no centro dos protestos em geral partilham de uma reivindicação por melhorias dos serviços públicos. Suas palavras de ordem - em cartazes e nas redes sociais - incluem o fim da corrupção e críticas aos gastos de mais de 25 bilhões de reais para a realização da Copa de 2014.
Os manifestantes, em geral pessoas da classe média, com menos de 30 anos e boa formação escolar, não querem nenhuma ligação com os grupos organizados que estavam por trás das causas que mobilizaram a geração dos seus pais.
Organização on-line
Ao contrário do que ocorreu no movimento pela redemocratização nas décadas de 1970 e 80 e nos protestos pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, as atuais manifestações não têm líderes nem afinidades políticas bem definidos.
"Os protestos recentes não são apartidários, com lideranças centralizadas", disse Angela. "Isso tem a ver com as novas tecnologias, que permitem organizar sem centralizar, mas também com o fato de que os ativistas são de uma nova geração, não se orientam mais por ideários aglutinadores como o socialismo e não visam tomar o poder de Estado."
De fato, os protestos no Brasil não têm como alvo um líder ou partido específico. Isso os difere das rebeliões da Primavera Árabe nos últimos dois anos e meio, ou mesmo dos recentes protestos na Turquia contra o governo do premiê Tayyip Erdogan.
Enquanto os governos árabes bloquearam o acesso à internet para atrapalhar a organização de protestos, no Brasil a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apenas intensificou os esforços para monitorar as convocações para protestos via internet e pelo popular aplicativo de celular WhatsApp.
A presidente Dilma Rousseff, militante de esquerda na década de 1970, elogiou o caráter democrático dos protestos.
A página do AnonymousBrasil, que já tem quase 1 milhão de seguidores, chegou a desaparecer por alguns instantes nesta sexta-feira. O grupo disse depois, via Facebook, que sua conta do Twitter havia sido "roubada" por um dos seus próprios membros, gerando conflitos com sua plataforma associada do Facebook.
O grupo diz que contas concorrentes do Twitter, como @AnonymousBr4sil e #AnonymousFuel, são mantidas por "usurpadores".
Dos 53,5 milhões de brasileiros na internet, quase um terço da população do país, 86 por cento usam algum tipo de microblog ou rede social, segundo o Ibope.
São Paulo - Os maiores protestos das últimas décadas no Brasil reúnem uma mistura confusa e conflitante de pessoas e mensagens. E a culpa é do Facebook.
Redes sociais como o Facebook e o Twitter propiciaram um tipo de mobilização que há mais de duas décadas não era vista no país. Mas, graças à velocidade, eficiência e anonimato do ativismo on-line, emergiu um movimento amorfo e desajeitado, fora do controle daqueles que inicialmente começaram a pedir mudanças.
"As redes sociais nos ajudaram a nos organizarmos sem termos líderes", disse Victor Damaso, de 22 anos, que participava de uma manifestação na quinta-feira à noite na avenida Paulista, em São Paulo.
"Nossas ideias, nossas exigências são discutidas pelo Facebook. Não há reuniões nem regras." As manifestações são majoritariamente pacíficas, mas, com a presença de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de dezenas de cidades na quinta-feira, vândalos e saqueadores lançaram uma sombra violenta sobre alguns dos protestos.
Em vários casos, policiais reagiram com gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta.
Páginas montadas no Facebook para a coordenação logística e hashtags do Twitter brotam sem parar nos últimos dias para convocar protestos em centenas de cidades. Grupos rivais parecem estar disputando o controle de uma das mais visitadas páginas de uma organização no Facebook e de uma conta correlata do Twitter.
"Todo o movimento que cresce corre o risco de atrair grupos e indivíduos com os quais não tem afinidade plena", disse a socióloga Angela Alonso, da Universidade de São Paulo. "É um preço do crescimento. Como, neste caso, não há liderança centralizada, a administração dessas adesões fica mais difícil e vem se mostrando mesmo descontrolada."
O Movimento Passe Livre, um grupo com cerca de 40 ativistas que iniciou as passeatas - afinal bem sucedidas - pela redução da tarifa dos transportes em São Paulo, anunciou nesta sexta-feira que não convocará novas atividades por enquanto, por causa da crescente tensão e violência nos protestos.
A partir dos protestos do MPL, uma convocação nacional por reformas rapidamente evoluiu para aquilo que agora ficou conhecido na internet como Anonymous Brasil.
O grupo parece usar navegadores criptografados, o que dificulta identificar os administradores da página, e adotou como mascote as máscaras de Guy Fawkes, símbolo do grupo global de hackers Anonymous. Não está claro, no entanto, se o grupo nacional tem ligação com o global.
Embora isso abra espaço para todo tipo de grupo marginal, as pessoas que estão no centro dos protestos em geral partilham de uma reivindicação por melhorias dos serviços públicos. Suas palavras de ordem - em cartazes e nas redes sociais - incluem o fim da corrupção e críticas aos gastos de mais de 25 bilhões de reais para a realização da Copa de 2014.
Os manifestantes, em geral pessoas da classe média, com menos de 30 anos e boa formação escolar, não querem nenhuma ligação com os grupos organizados que estavam por trás das causas que mobilizaram a geração dos seus pais.
Organização on-line
Ao contrário do que ocorreu no movimento pela redemocratização nas décadas de 1970 e 80 e nos protestos pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, as atuais manifestações não têm líderes nem afinidades políticas bem definidos.
"Os protestos recentes não são apartidários, com lideranças centralizadas", disse Angela. "Isso tem a ver com as novas tecnologias, que permitem organizar sem centralizar, mas também com o fato de que os ativistas são de uma nova geração, não se orientam mais por ideários aglutinadores como o socialismo e não visam tomar o poder de Estado."
De fato, os protestos no Brasil não têm como alvo um líder ou partido específico. Isso os difere das rebeliões da Primavera Árabe nos últimos dois anos e meio, ou mesmo dos recentes protestos na Turquia contra o governo do premiê Tayyip Erdogan.
Enquanto os governos árabes bloquearam o acesso à internet para atrapalhar a organização de protestos, no Brasil a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) apenas intensificou os esforços para monitorar as convocações para protestos via internet e pelo popular aplicativo de celular WhatsApp.
A presidente Dilma Rousseff, militante de esquerda na década de 1970, elogiou o caráter democrático dos protestos.
A página do AnonymousBrasil, que já tem quase 1 milhão de seguidores, chegou a desaparecer por alguns instantes nesta sexta-feira. O grupo disse depois, via Facebook, que sua conta do Twitter havia sido "roubada" por um dos seus próprios membros, gerando conflitos com sua plataforma associada do Facebook.
O grupo diz que contas concorrentes do Twitter, como @AnonymousBr4sil e #AnonymousFuel, são mantidas por "usurpadores".
Dos 53,5 milhões de brasileiros na internet, quase um terço da população do país, 86 por cento usam algum tipo de microblog ou rede social, segundo o Ibope.