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Olimpíadas ofuscam Bolsonaro e política nas redes sociais

Disputa nas Olimpíadas e medalhas marcantes fizeram brasileiro "esquecer" política e pautas polarizadoras, mostra levantamento da Bites

Pamela Rosa, Rayssa Leal e Letícia Bufoni, do skate street: Olimpíadas unem todas as tribos políticas nas redes sociais (Ezra Shaw/Getty Images)

Pamela Rosa, Rayssa Leal e Letícia Bufoni, do skate street: Olimpíadas unem todas as tribos políticas nas redes sociais (Ezra Shaw/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 4 de agosto de 2021 às 06h00.

Última atualização em 4 de agosto de 2021 às 13h05.

Pamela Rosa, Rayssa Leal e Letícia Bufoni, do skate street: Olimpíadas unem todas as tribos políticas nas redes sociais (Ezra Shaw/Getty Images)

Quase não se fala de outra coisa na internet brasileira. Desde os primeiros jogos das Olimpíadas de Tóquio, há pouco mais de uma semana, os comentários sobre os esportes olímpicos e as vitórias dos atletas brasileiros dispararam nas redes sociais.

Mas o auge das Olimpíadas fez ainda uma outra obsessão recente ficar esquecida — a política.

Levantamento da consultoria de análise de redes sociais Bites feito a pedido da EXAME mostra que as menções diretas às Olimpíadas superaram as citações às principais pautas políticas ou ao presidente Jair Bolsonaro, que costuma ser um campeão de interações.

Até o começo desta semana, os Jogos ultrapassaram no Twitter tanto pautas do governo (como o voto impresso) quanto da oposição (como a CPI da covid-19 e a investigação sobre a compra da vacina Covaxin).

  • As Olimpíadas tiveram 16,2 milhões de menções no Twitter desde 4 de julho;
  • O presidente Jair Bolsonaro teve 15,7 milhões no período;
  • Em terceiro vem a CPI da covid, com 6,4 milhões;
  • Os termos CPI e Covaxin juntos tiveram 3,5 milhões;
  • E o voto impresso, 2 milhões. 

As Olimpíadas também coincidiram com o recesso do Congresso, que parou em meados de julho e voltou nesta semana. A CPI foi retomada nesta terça-feira, 3.

A magnitude incomum de um evento como os Jogos Olímpicos, somada ao recesso em Brasília, ajudaram a fazer a política ser ofuscada, diz André Eler, diretor-adjunto da Bites.

"A Olimpíada tem a vantagem de permitir que as pessoas falem de muitas coisas diferentes. Tem o fato de engajar todo mundo, os 'dois lados', quem apoia o presidente e quem não apoia, quem gosta de futebol e quem não gosta", diz Eler.

"E isso é uma coisa que não tem sido tão comum ultimamente."

O auge de menções foi no primeiro fim de semana da competição, que teve pratas de Kelvin Hoefler e de Rayssa Leal no skate street. Na sequência, em 27 de julho, Ítalo Ferreira também faturou o primeiro ouro do Brasil no surfe.

As olimpíadas no foco

Foram contabilizadas como comentários no Twitter as menções diretas a Olimpíadas em português, hashtags relacionadas e comentários sobre os atletas protagonistas brasileiros nos Jogos até então. Os dados sobre o dia 2 de agosto não dizem respeito ao dia completo. (Arte/Exame)

Nas buscas do Google, a "inversão de prioridades" dos brasileiros também ficou perceptível. No buscador, muito usado para procurar histórico dos atletas ou horário das competições, as Olimpíadas superam em ao menos 20 vezes a procura pelo presidente Jair Bolsonaro, que no geral é uma das mais altas do Brasil.

Alguns eventos específicos até colocaram de novo a política no radar, mas em patamar abaixo do esporte olímpico.

Nos perfis oficiais de Bolsonaro em Instagram, Facebook e Twitter, os picos de interesse aconteceram durante sua internação com obstrução intestinal e antes e depois de uma transmissão nas redes sociais em que defendeu a instalação de um sistema de voto impresso no Brasil, na última quinta-feira, 29 de julho.

Protestos sobre o mesmo tema no domingo, 1º de agosto, também ganharam algum espaço nas redes.

Apesar de posts específicos terem tido interesse acima da média, a tração geral de Bolsonaro — uma métrica criada pela Bites para medir a capacidade de repercussão e interações nas redes sociais — diminuiu desde o começo das Olimpíadas.

O volume de interação total nos posts caiu 41%, e a interação a cada post caiu 37% (desde a abertura das Olimpíadas, em relação aos 12 dias anteriores). Na prática, a base online do presidente continua forte e muito acima da oposição, mas houve menos assuntos para movimentar os apoiadores no período.

"Não é exatamente uma queda de interesse por Bolsonaro, mas mais propriamente a manutenção do interesse por ele no patamar de dias menos noticiosos, enquanto o interesse por Olimpíadas teve um grande pico", diz Eler.

Presença de Bolsonaro

(Arte/Exame)

Mas sair do radar é bom para Bolsonaro e outros políticos? Depende.

Para Maurício Moura, do instituto especializado em opinião pública IDEIA, as notícias sobre o presidente vinham sendo majoritariamente negativas em meio à CPI da covid-19, e a pausa na atenção pode ser benéfica para o governo — especialmente no caso de um evento agregador como as Olimpíadas.

"Tínhamos uma agenda muito negativa da CPI, principalmente em relação à vacinação. Foi muito positivo para o governo que isso saiu da pauta para entrar no lugar uma agenda muito antipolarizadora, que é torcer para o Brasil nos Jogos Olímpicos, independentemente da modalidade", diz.

Pouco antes do início dos Jogos, a avaliação negativa do governo também havia caído após a internação de Bolsonaro, segundo a última pesquisa EXAME/IDEIA. Ainda assim, a fatia de pessoas avaliando o governo como ruim ou péssimo segue acima de 50% desde abril.

Eler, no entanto, avalia que a estratégia online de Bolsonaro não parece ser de se esconder das polêmicas nas redes, desde que dentro dos temas pautados por sua base.

"Me parece que a estratégia do presidente não é sair do radar em momento nenhum. A live do voto impresso justamente alimenta o interesse por ele de novo [em um momento em que estava com menos interações]", diz.

"Esse conflito, com nomes como o do ministro Barroso, com o Supremo Tribunal Federal, às vezes com o Lula, parece ser relevante para o presidente. E são pontos que ele sabe que vão funcionar para motivar suas redes."

Já para a oposição, o recesso da CPI certamente não ajudou. "A oposição perde espaço sem a CPI, porque não tem mais um palco e não tem uma figura que galvanize o interesse. Já Bolsonaro pode fazer palco constante em manifestações, em suas declarações, que continuam tendo uma cobertura grande", completa Eler.

Levantamento anterior da Bites mostra que a tração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora se aproxime do Bolsonaro em alguns picos, é muito abaixo da do presidente nas redes sociais. Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência em 2022.

O fato é que, com as Olimpíadas perto do fim nesta semana e a retomada dos trabalhos no Congresso, a política deve voltar a ganhar mais atenção. E as polêmicas também.

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