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Nem 13 nem 50: na campanha de Boulos, o número mágico agora é o 12

Cifra diz respeito à diferença percentual de votos de Boulos em 2020, quando concorreu à prefeitura da capital paulista, e dos votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022

Guilherme Boulos - Foto: Leandro Fonseca Data: 02/04/2024 (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 13 de abril de 2024 às 08h02.

Nem 13, número do PT, nem 50, o do Psol. O número que realmente brilha os olhos dos integrantes da pré-campanha do deputado federal Guilherme Boulos (Psol) à prefeitura de São Paulo é o 12.

A cifra na verdade diz respeito à diferença percentual de votos de Boulos em 2020, quando concorreu à prefeitura da capital paulista, e dos votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

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Boulos conquistou 41% dos votos na eleição municipal. Lula levou 53% dos votos na capital na última eleição presidencial. Daí a diferença que a pré-campanha do deputado federal observa com atenção.

"Temos 12% dos eleitores que não votaram em Boulos e votaram em Lula", diz uma fonte da campanha de Boulos.

Nas contas internas, 4,5% desses 12% estão distribuídos pelo centro expandido, região majoritariamente de classe média da cidade. O restante — e maioria desse contingente — vive nas periferias da cidade, em especial nas franjas da Zona Norte e da Zona Leste. "É onde está esse eleitor que daremos atenção", diz um integrante do QG de Boulos.

No detalhe dos resultados de 2020, Boulos teve a melhor votação na Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste, com 56,42% dos votos. O psolista, porém, venceu em apenas 8 dos 58 distritos da cidade.

Em 2022, Lula venceu em 35 dos 58 distritos eleitorais de São Paulo no segundo turno da eleição presidencial. O melhor resultado de Lula foi em Piraporinha, no extremo da Zona Sul, reduto tradicionalmente petista, com 66,58% dos votos.

Ainda que a comparação não seja de eleições iguais, é possível entender alguns aspectos do raciocínio do QG de Boulos.

Em números absolutos, Lula teve3.677.921 votos no segundo turno de 2022 na cidade de SP, enquanto Boulos teve 2.168.109 votos na disputa com Bruno Covas (PSDB) na última eleição municipal. De forma simplória, o desafio do deputado federal seria conquistar mais de 1.500.000 de votos — e, obviamente, garantir os mais de 2 milhões que já teve em 2020.

Polarização e a cidade

A campanha de Boulos buscará investir na polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro na disputa pela cidade. As agendas de Boulos com ministros e em eventos com Lula deixam isso claro.

Na visão de integrantes do QG, a eleição já está polarizada — e essa característica será essencial.

Na capital, Bolsonaro é mais rejeitado do que Lula. Segundo pesquisa mais recente do instituto Datafolha, 63% dos eleitores de São Paulo afirmaram que não votam de jeito nenhum no candidato indicado por ele. Já a parcela que rejeita um nome apoiado por Lula é de 42% na cidade.

Mas está claro nos bastidores que isso não será suficiente para vencer as eleições. "A polarização é um dado concreto, mas não necessariamente vai ser foco da abordagem", diz outro membro do QG.

Para vencer a disputa, dizem, Boulos terá de pautar o debate sobre a cidade. A lógica hoje — e sem fatos novos — é a de que o resultado será apertado entre o psolista e Ricardo Nunes, atual prefeito. Ou seja, como o pleito vai ser definido por poucos votos, será preciso entrar no debate local "com força".

Boulos terá a vantagem de explorar o que seu entorno chama de "falhas da gestão" de Nunes.

No cardápio de assuntos, o tema comum a todos os candidatos, avaliam os integrantes da campanha, será a segurança pública, em especial a sensação de insegurança relacionada a roubos e furtos. "Esse é um tema que pega no centro, mas na periferia também. Unifica as classes sociais", diz um integrante.

Em outros assuntos, a estratégia é segmentar a mensagem por recortes geográficos e de renda. Por exemplo, entre moradores de periferia com renda menor sobressaem as preocupações com saúde e os gargalos de transporte público.

Na saúde, a crise de dengue e a fila de 445 mil exames também podem ser usados para demonstrar falhas da gestão do incumbente.

No transporte, em que pese a política de tarifa zero aos domingos adotada pela prefeitura no ano passado, a ideia é atacar a diminuição da frota, que acarretou no aumento da espera para os cidadãos. E embutir a mensagem de que as empresas de ônibus nunca receberam tanto subsídio da prefeitura como na atual gestão.

Segundo dados doInstituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a cidade de São Paulo teve redução de 20% no número de viagens de ônibus entre julho de 2019 e julho de 2023. Segundo a entidade, a redução faz com que a população tenha que esperar mais tempo pelas linhas e enfrentar maior lotação dentro dos veículos. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.

Já entre eleitores de classe média e do centro expandido, a ideia é explorar o sentimento de que a prefeitura atrapalha — ou pelo menos não ajuda — em tarefas básicas do dia a dia. "São questões relacionadas à zeladoria da cidade. "Esse sentimento de ineficiência se expressa na zeladoria mal feita e quando aciona o serviço público por soluções", diz um membro da campanha citando pesquisas internas.

O papel de Marta Suplicy

Como a periferia concentra a maior parte desses votos que a campanha vai concentrar em um primeiro momento, Marta Suplicy pode ter papel essencial.

Ex-prefeita de São Paulo, sua gestão traz lembranças positivas, especialmente em bairros como Grajaú e Parelheiros, na Zona Sul, na avaliação de membros da campanha de Boulos.

Na lógica da campanha, são regiões onde tanto PT quanto Psol têm força importante de militância e estrutura partidária para fazer o corpo a corpo durante o período eleitoral.

Rejeição

A questão da rejeição do pré-candidato, na casa dos 30% segundo o último Datafolha, também é um ponto de atenção da campanha. Mas o QG do deputado avalia que a população da cidade já conhece a trajetória do candidato, por isso, esse número não deve superar um patamar que inviabilize a campanha.

"O Boulos é uma figura pública consolidada nacionalmente", diz um aliado do deputado. "Isso traz o lado negativo, que é a rejeição, mas também tem o ponto que mostra que as pessoas conhecem sua história mais no detalhe. Algo que não acontece com o atual prefeito."

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