Brasil

Lula mobiliza militância e repercute mais do que Bolsonaro nas redes

Temas como o MST e legado da "era Lula" foram os mais elogiados na sabatina, puxados pela esquerda; já bolsonaristas focaram em críticas à corrupção e a falas de Lula sobre o agronegócio

Bolsonaro e Lula: os dois candidatos foram ao Jornal Nacional nesta semana (Foto Bolsonaro: Bloomberg / Foto Lula: Europa Press News/Getty Images)

Bolsonaro e Lula: os dois candidatos foram ao Jornal Nacional nesta semana (Foto Bolsonaro: Bloomberg / Foto Lula: Europa Press News/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 26 de agosto de 2022 às 18h21.

Última atualização em 26 de agosto de 2022 às 19h58.

Durante sua participação no Jornal Nacional nesta semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve mais menções — e maior aprovação — do que o presidente Jair Bolsonaro dias antes, segundo levantamento nas redes sociais da agência de inteligência .MAP.

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A conclusão foi feita com base em uma análise qualitativa amostral em um universo de mais de 1,4 milhão de posts diários no Twitter e perfis abertos no Facebook.

"A direita não baixa a guarda, estão sempre muito ativos, mobilizados e organizados, enquanto a esquerda tinha dado uma esfriada", diz Giovanna Masullo, diretora-executiva da .MAP. "Mas isso não aconteceu no JN. Lula conseguiu sobretudo levantar sua própria militância, e esse público de esquerda puxou a repercussão positiva."

  • A sabatina de Lula respondeu por 63% de participação na quinta-feira, 25 (até meia-noite);
  • Foram 704,7 mil postagens sobre a sabatina de Lula;
  • A sabatina de Bolsonaro teve 47% de participação na segunda-feira, 22 (até meia-noite);
  • Foram 405,8 mil postagens sobre a sabatina de Bolsonaro.

Masullo diz que a sabatina de Lula teve um pico sobretudo após a participação do candidato, com a repercussão das respostas do petista.

Na análise qualitativa dentre as postagens que falaram diretamente dos candidatos e seu desempenho, Lula venceu Bolsonaro na classificação de "positividade" dentro da metodologia da .MAP.

Dentre todos os públicos (incluindo perfis à direita, à esquerda e classificados como "opinião pública não militante"):

  • Das menções ao desempenho de Lula, o ex-presidente teve 86% de aprovação, segundo a análise qualitativa da .MAP;
  • O presidente Bolsonaro, no dia de sua sabatina, teve 42,5%.

Militância lulista empolgada

A onda de otimismo foi puxada majoritariamente pelos perfis militantes à esquerda. Mas um destaque nessa diferença ampla entre as duas sabatinas, aponta Masullo, é que a esquerda vinha tendo dificuldade em dominar o debate, o que não se mostrou nesta semana.

O grupo classificado pela .MAP como "opinião pública de direita" praticamente não entrou no debate, com só 1,74% de participação dentre as postagens sobre a sabatina de Lula.

Das poucas postagens, perfis desse grupo tentaram levantar assuntos como corrupção e declarações de Lula vistas como negativas ao agronegócio.

  • Corrupção teve 9% de participação (com zero de positividade, tema puxado pela direita com críticas a Lula);
  • Agronegócio teve 0,9% de participação, ficando também entre os mais comentados dentro da sabatina (também com críticas a Lula);
  • Na outra ponta, a esquerda alavancou uma pauta positiva sobre o Movimento Sem Terra (MST), com 1,5% de participação e 100% de positividade.
  • Outro tema puxado pela esquerda, a "era Lula" foi tema de 3,2% dos posts sobre a sabatina, com 100% de positividade.

Conversão dos indecisos?

Dentre o público classificado como "não militante", a participação do debate foi menor do que 1%. Masullo explica que, ontem, muitos perfis declararam voto a Lula, e tem havido uma movimentação de "encolhimento" do público não militante entre a opinião pública, como perfis famosos, o que explica a participação baixa dos chamados "nem nem", que não declaram voto nem em Lula, nem em Bolsonaro.

É um movimento de consolidação dos votos que se mostra também nas pesquisas, para ambos os lados, à medida em que a eleição se aproxima. O número de votos branco ou nulo ou indecisos, que já chegou a 20% na pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA, está hoje em 5%, segundo sondagem divulgada nesta semana.

Mas, dos poucos "nem nem" que se manifestaram, a positividade de Lula foi muito mais baixa do que a média (33%). "Ainda há um receio por parte de alguns públicos com relação a Lula, o que se mostra nessa frente", diz Masullo.

Críticas à Globo unem as tribos

Dos temas comentados na sabatina, nem todos dizem respeito só ao desempenho dos candidatos: o campeão dentro das menções na quinta-feira foi não Lula e suas propostas, mas a TV Globo, com críticas — da direita e da esquerda — contra a emissora e às perguntas feitas pelos âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos.

O tema "uniu as tribos", explica Masullo. "A direita entendeu que foram muito mais amigáveis a Lula do que a Bolsonaro, criticou a qualidade das perguntas. Já a esquerda criticou, por exemplo, a pergunta sobre Dilma [Rousseff, ex-presidente]", diz, afirmando que a Globo foi tema de seis em cada dez posts sobre a sabatina, mas com menos de 0,5% de positividade.

A análise foi encerrada à meia-noite de quinta-feira, com a repercussão imediatamente após o debate, mas o tema Globo deve continuar gerando embates nas redes.

Isso porque, na manhã desta sexta-feira, 26, o presidente Jair Bolsonaro, que não tinha falado sobre a sabatina de Lula até então, foi ao Twitter dizer que "ninguém deveria estar surpreso" com o que, na visão do presidente, foi um tratamento preferencial a seu adversário. O post já angariava mais de 18 mil compartilhamentos e quase 100 mil curtidas no fim desta sexta-feira.

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