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Ir ou não à rua, e com que pauta? Após eleger Bolsonaro, direita se divide

A grande polêmica dos protestos está no fato de as primeiras convocações terem centrado fogo no Congresso e no STF, em um momento que pede diálogo

Apoiadores de Bolsonaro: o tom belicoso afastou movimentos e dividiu a direita (Amanda Perobelli/Reuters)

Apoiadores de Bolsonaro: o tom belicoso afastou movimentos e dividiu a direita (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de maio de 2019 às 11h10.

São Paulo — As manifestações do dia 26 de maio, convocadas por simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, estão provocando um racha na grande frente de direita que apoia o ex-capitão — um balaio que reúne militares, liberais, evangélicos, "lavajatistas", antipetistas desgarrados e cidadãos comuns fartos da corrupção e da falta de segurança no país.

O racha, insinuado com os ataques do escritor Olavo de Carvalho e de seus pupilos a militares que fazem parte do governo e aos ex-ministros Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, e Ricardo Vélez Rodríguez, da Educação, agora ganhou novas dimensões.

De um lado estão os que apoiam as manifestações, como os grupos mais radicais do "frentão" pró-Bolsonaro e a ala ligada a Olavo, com a qual se identificam Eduardo e Carlos Bolsonaro, filhos do presidente. A turma tem também apoio de boa parte da bancada do PSL no Congresso, inclusive o deputado Alexandre Frota (SP), desafeto dos olavistas.

Do outro lado estão parlamentares do PSL que não integram a brigada olavista, como os deputados federais Luciano Bivar (PE), presidente do partido, e Joice Hasselmann (SP), líder do governo no Congresso, além da deputada estadual Janaina Paschoal (SP).

Fazem parte do grupo, ainda, o partido Novo e movimentos e personalidades que apoiaram o presidente nas eleições, mas não participam do governo, como o MBL e o Vem Pra Rua, o músico Lobão e o presidente do Instituto Mises Brasil, de orientação ultraliberal, Hélio Beltrão.

A grande polêmica em torno da manifestação está no fato de as primeiras convocações terem centrado fogo no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF), inclusive falando em fechamento das duas instituições.

O tom belicoso afastou movimentos e dividiu a direita, a ponto de grupos tradicionais em outros atos, como o MBL e o Vem para Rua, terem avisado que não irão participar.

Os defensores do ato têm tentado amainar o tom do protesto, que deve agora focar na defesa do governo e da reforma da Previdência, e centrar fogo no chamado centrão, grupo do Congresso apontado como o vilão que tem impedido o governo de avançar.

Capitulação

A discórdia se deve não só à realização como à pauta das manifestações. Os que se opõem aos atos consideram a convocação extemporânea, num momento em que o governo depende do Congresso para aprovar a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, entre outras medidas.

"Não vamos conseguir aliados atacando quem pode votar conosco nos textos que são importantes para o governo", disse Joice. "A hora é de preservar a relação do governo com o Parlamento."

Quem apoia as manifestações parece acreditar que só pressionando os parlamentares as propostas do governo serão aprovadas. Muitos são contra qualquer tipo de negociação ou capitulação com o Congresso.

Parecem fazer pouco caso dos demais Poderes e acreditar que o Congresso e o Judiciário têm menos legitimidade do que o presidente e por isso devem se curvar à sua vontade.

"É hora de lembrar que os brasileiros escolheram pôr o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", afirmou Filipe Martins, pupilo de Olavo e assessor internacional da Presidência, no Twitter.

Foi a possível inclusão de bandeiras autoritárias na pauta das manifestações, porém, que selou o racha, afastando de vez apoiadores mais moderados do governo. Diante do que consideram "podridão do sistema", os mais radicais queriam a inclusão do fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal na pauta.

Mas a repercussão negativa levou nomes influentes do "bolsolavismo" nas redes a limá-las da agenda. Ao final, ficaram quatro pontos: aprovação da reforma da Previdência; aprovação do pacote anticrime de Moro; aprovação da MP 870, da reforma administrativa; criação da CPI Lava Toga.

A questão é que as feridas criadas pelas divergências podem ser difíceis de cicatrizar.

"Nada de anormal"

O presidente Jair Bolsonaro que as manifestações são um movimento espontâneo cuja pauta "não tem nada de anormal", mas reiterou que não irá comparecer aos atos.

"É um movimento espontâneo, eu respeito a soberania popular. Eles têm uma pauta definida e essa pauta não tem nada de anormal, é um direito da população de se manifestar", disse Bolsonaro a repórteres após participar de cerimônia na embaixada de Israel.

Os atos de domingo foram chamados por apoiadores de Bolsonaro para se contrapor às manifestações do último dia 15 contra bloqueio nos recursos para a Educação, no que acabou se tornando um ato contra o governo. O presidente inicialmente chegou considerar comparecer, mas depois decidiu não participar.

Perguntado se havia orientado ministros a também não comparecerem, Bolsonaro afirmou: "Todo mundo é maior de idade e sabe o que faz. Eu não comparecerei".

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