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Ex-CEO das Americanas é preso em Madri, diz PF

Alvo de mandado de prisão por uma suposta fraude contábil no montante de R$ 25,3 bilhões, Gutierrez estava no exterior e teve o seu nome incluído da Interpol

(Leandro Fonseca/Exame)
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 28 de junho de 2024 às 10h42.

Última atualização em 28 de junho de 2024 às 11h19.

A Polícia Federal informou nesta sexta-feira, 28, que Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, foi preso em Madri, na Espanha. Alvo de mandado de prisão por uma suposta fraude contábil no montante de R$ 25,3 bilhões, Gutierrez estava no exterior e teve o seu nome incluído naDifusão Vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).

Gutierrez negou repetidas vezes que estava ligado às irregularidades no caso de fraude na varejista. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, o ex-CEO tem cidadania espanhola e vivia em Madri, na Espanha, há um ano. Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora da Americanas também com mandato de prisão, segue foragida.

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Na ação realizada pela PF na quinta-feira, cerca de 80 policiais federais cumpriram dois mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão nas residências dos ex-diretores das Americanas, localizadas no Rio de Janeiro.

Além disso, a Justiça Federal determinou o bloqueio de bens e valores de todos ex-diretores investigados, que somam mais de R$ 500 milhões.

A investigação aponta que os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste em uma operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.

Quem é Miguel Gutierrez

Miguel Gutierrez nasceu em 1961 e é brasileiro com dupla cidadadnia espanhola. O executivo se formou em engenharia mecânia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em economia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Gutierrez começou a carreira na Americanas em 1993, quando a empresa ainda era comandada por Carlos Alberto Sicupira, um dos acionistas de referência da companhia e parte do  trio 3G, ao lado de Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles.

O executivo assumiu a presidência da empresa em meados de 2003. Antes, passou por diversos setores e agradou os sócios da empresa por ter um perfil focado em estratégias para corte de custos nas operações, segundo informações daBloomberg.

Com perfil discreto, Gutierrez deixou a empresa em dezembro de 2022, após 20 anos no comando. Durante esse período, fez raras aparaições públicas. Sergio Rial, ex-executivo do Santander, assumiu o cargo, mas ficou apenas nove dias, e pediu demissão após identificar as fraudes contábeis nos balanços da empresa.

Gutierrez é apontado pelas investigações da PF como um dos principais investigados no caso de fraude na empresa, sendo apontado por levantamento internos da Americanas como um dos ex-diretores envolvidos.

O que a operação da PF descobriu até agora sobre a fraude na Americanas?

Segundo a PF e o Ministério Público, a operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado ao mercado, por meio de fato relevante, a existência de inúmeras inconsistências contábeis e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões.

Em junho de 2023, a Americanas informou oficialmente ao mercado que havia encontrado inconsistências nas demonstrações financeiras,reforçando a existência da fraude contábil.Na época, a empresa demitiu cinco diretores e divulgou um relatório preliminar apontou que as demonstrações financeiras vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior.

As investigações preliminares indicam a participação do ex-CEO Miguel Gutierrez, dos ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e dos ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes .

A investigação aponta que os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste em uma operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.

Também foram identificadas pela PF fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas no presente caso eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.

O MPF foi procurado por dirigentes da empresa que manifestaram interesse em colaborar com as apurações com informações, inclusive, sobre o funcionamento do esquema de fraude para ludibriar o mercado de capitais.

Foram ouvidos colaboradores, investigados, realizadas perícias e análises em materiais fornecidos pela empresa e pelos colaboradores.

"Uma delação premiada foi formalizada e auxiliou o avanço da PF nas investigações. O comitê e os atuais diretores cooperaram para as autoridades investigarem o ocorrido", diz o MPF, em nota.

A PF informou ainda que a investigação revelou fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecido como "insider trading”, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

O caso se encontra a cargo do Gaeco, que atua em auxílio ao procurador do caso, e que tem feito a investigação em parceria com a Polícia Federal. Caso sejam condenados, os investigados poderão cumprir pena de até 26 anos de prisão.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi realizada na Câmara dos Deputados para apurar o caso. O colegiado, porém, aprovou um relatório final sem pedir indiciamentos de nenhum ex-diretor da empresa. No parecer, o relator, deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), disse que "os elementos até então carreados não se mostraram suficientes para a formação de um juízo de valor seguro o bastante para atribuir a autoria e para fundamentar eventual indiciamento".

Quem são os alvos da operação que mira ex-diretores da Americanas

Pedido de prisão

Alvos de buscas

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