Estoque baixo atrasa início da vacinação para crianças com Coronavac
Enquanto Rio, Salvador e Manaus avançam, pois ainda têm vacinas em estoque, outras capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre não têm cronograma definido
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de julho de 2022 às 10h15.
Última atualização em 19 de julho de 2022 às 10h15.
Por conta dos baixos estoques da vacina Coronavac , Estados e municípios atrasam o início da imunização de crianças de 3 e 4 anos contra covid-19. Isso faz com que a aplicação ocorra de forma desigual no País. Enquanto Rio, Salvador e Manaus avançam, pois ainda têm vacinas em estoque, outras capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre não têm cronograma definido. Algumas cidades começaram a vacinar as crianças mesmo sem imunizantes suficientes.
Em São Paulo, o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn , afirma que as vacinas disponíveis estão comprometidas com as pessoas que não completaram o ciclo de vacinação nos municípios. "São Paulo não tem e nunca teve estoque. O Estado faz a distribuição para os municípios onde as vacinas estão relacionadas aos faltosos de segunda, terceira e quarta doses", disse ao Estadão.
Nesse cenário, o Estado aguarda as negociações entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, responsável por fabricar a Coronavac, para receber mais vacinas.
Nas contas da pasta, são necessárias 2,2 milhões vacinas para a primeira e a segunda doses. Só na capital são cerca de 310 mil crianças nesta faixa etária, de acordo com a Prefeitura. "O cronograma passa a existir quando existirem as tratativas do Ministério da Saúde e do Butantan para a chegada dos imunizantes", conclui o secretário estadual.
A vacinação desta faixa etária começou de acordo com recomendação do Ministério da Saúde e a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgadas na semana passada.
A pasta afirma que "segue em tratativas para aquisição de novas doses" e que a "decisão será formalizada em nota técnica aos Estados, bem como o cronograma de entrega de doses adicionais". O órgão afirma ainda que a "nota técnica deve sair nos próximos dias".
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A formulação é a mesma da que é aplicada no Brasil em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos e adultos acima de 18 anos. A Coronavac deve ser administrada em duas doses, com 28 dias de intervalo, o que já acontece em outras faixas etárias.
O Instituto Butantan, responsável por fabricar a Coronavac, afirma que só vai se pronunciar sobre a produção ou importação de doses depois que o Ministério de Saúde incluir o imunizante no Programa Nacional de Imunizantes (PNI) e definir as quantidades necessárias. A imunização de crianças de 5 anos já havia sido autorizada pelos órgãos com a vacina pediátrica da Pfizer.
Nesse contexto de incerteza, algumas cidades iniciaram a vacinação mesmo sem a quantidade suficiente de vacinas. Das sete capitais que já iniciaram a aplicação - Salvador (BA), Fortaleza (CE), São Luís (MA), Boa Vista (RR), Belém (PA), Manaus (AM) e Rio de Janeiro (RJ) -, pelo menos três informaram quantidades apenas para o início da imunização (Fortaleza, São Luís e Belém).
O Estado de Pernambuco criou uma regra particular e começou a vacinar apenas crianças de quatro anos. "A decisão de iniciar a imunização das crianças com quatro anos visa a garantir a aplicação das duas doses desse público, diante do baixo quantitativo de estoque e a incerteza quanto à expectativa de envio de novos quantitativos pelo Ministério da Saúde", informou a secretaria de Saúde.
Nos 216 municípios maranhenses vivem 120 mil crianças entre 3 e 4 anos, mas o Estado tem 19 mil doses em estoque, como explica Tiago Fernandes, secretário de Saúde. É menos de 10% do necessário. "Assim que recebermos as novas doses do Ministério da Saúde, vamos criar estratégias para a vacinação em escolas e creches", diz Fernandez.
O cenário é semelhante no Ceará. A Secretaria da Saúde (Sesa) informa que 262.214 crianças podem ser vacinadas. A reserva técnica é de 64 mil doses, quantidade suficiente para proteger apenas 12% do público-alvo (considerando-se a necessidade de duas doses). Os municípios também têm seus estoques, não contabilizados nesses 64 mil doses, e podem fazer sua própria estratégia de vacinação.
Carlos Lula, ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), alerta para a queda do ritmo de vacinação infantil. "Nosso ritmo de vacinação é muito menor no público infantil do que nas outras faixas etárias. O Brasil só vacinou 39% das crianças de 5 a 11 anos (com duas doses)", argumenta.
Especialistas afirmam que a vacinação das crianças é particularmente importante diante do aumento de casos. Dados do Instituto Butantan mostram que 15% das internações ocasionadas por covid-19 são de menores de 5 anos no País. Além disso, a média de óbitos nesta população é de duas mortes por dia, o que torna o grupo o mais vulnerável à doença neste momento.
"O surgimento de novas variantes atingiu as faixas etárias mais baixas e mostrou a necessidade de incluir as crianças no Plano de Imunização para protegê-las, diminuir a circulação viral e o surgimento de novas cepas", afirma Marcos Gadelha, secretário da Saúde do Ceará.
O Ministério da Saúde recomendou na sexta-feira passada que Estados e municípios apliquem a vacina Coronavac para crianças de 3 a 5 anos. A Anvisa já havia aprovado a aplicação na quarta-feira, dois dias antes. O Instituto Butantan pleiteava a liberação do imunizante em crianças a partir dos 3 anos desde janeiro.
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