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É cadeia ou presidência para Lula após julgamento no TRF4

Para milhões de brasileiros, Lula ainda é o defensor dos pobres, apesar da Lava Jato

O ex-presidente Lula durante caravana pelo Nordeste em Feira de Santana (BA) (Ricardo Stuckert/ Facebook @Lula/Reprodução)
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Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 15h19.

Última atualização em 22 de janeiro de 2018 às 15h32.

Luiz Inácio Lula da Silva não é mais aquela potência política. Aos 72 anos, ele está mais grisalho, mais fraco – após um câncer e a perda da esposa – e menos querido do que na época da grande vitória nas urnas em 2002.

Mas que ninguém se engane: Lula ainda é a figura dominante da política brasileira. A recessão profunda e o escândalo de corrupção que tomaram o País desde que ele deixou a presidência diminuíram um pouco a popularidade dele. Mas para milhões de brasileiros, ele ainda é o defensor radical dos pobres. Isso embora tenha sido implicado na Operação Lava Jato, juntamente com diversos nomes do alto escalão do Partido dos Trabalhadores.

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Por isso, será crítica no processo eleitoral deste ano a decisão em segunda instância do Tribunal Regional Federal em Porto Alegre, nesta quarta-feira, de manter ou suspender a sentença de nove anos e meio de prisão do ex-presidente. Se a condenação for mantida, Lula será impedido de concorrer. Se for descartada, é provável que ele concorra — com chance real de vencer.

No País inteiro, as pessoas estão apreensivas – desde a base fiel de Lula no Nordeste a investidores e profissionais do mercado financeiro em São Paulo. O segundo grupo perde o sono com a perspectiva de candidatura de Lula, temendo que ele não tenha compromisso suficiente com a austeridade fiscal para sustentar a recuperação econômica após a crise.

"É uma decisão tremenda para o Brasil", disse Peter Hakim, presidente emérito da Inter-American Dialogue.

Desde que foi condenado, em julho do ano passado, as pesquisas de intenção de voto mostram aumento consistente do apoio a Lula. A última sondagem da Datafolha apontou que 36 por cento do eleitorado votaria nele. O rival mais próximo, Jair Bolsonaro, teve apoio de 18 por cento dos entrevistados. Já a aprovação do presidente Michel Temer não passa de um dígito.

A era Lula na presidência foi marcada pela expansão da economia alimentada pela alta de preços das commodities, mas a possibilidade de volta do ex-líder sindicalista preocupa muita gente no mercado financeiro. Uma pesquisa feita no fim de novembro pela XP Investimentos concluiu que, para quase metade dos mais de 200 investidores institucionais sondados, a vitória dele faria a Bovespa perder cerca de 25 por cento do valor e derrubaria a moeda brasileira.

"A candidatura de Lula aumentaria a incerteza em um momento em que a economia começa a dar sinais de vida", disse Eugenio Aleman, economista sênior da Wells Fargo Securities em Charlotte, no Estado americano da Carolina do Norte. "Se ele ganhar e quiser desfazer tudo o que foi feito no último ano, não seria bom para o mercado."

Enquanto a apelação para suspender a condenação tramitava pela Justiça, o ex-presidente viajava por todo o Brasil, animando potenciais eleitores com sua mistura característica de humor, anedotas e ideias de esquerda. Multidões nostálgicas pelos anos de fartura da presidência dele, cansadas da paralisação da economia e revoltadas com os escândalos de corrupção do atual governo são atraídas pelas promessas dele contra a austeridade.

Em um evento no Rio de Janeiro neste mês, o PT reuniu músicos, artistas e intelectuais para falar em defesa de Lula. A uma multidão vestida com camisetas vermelhas, Lula disse que tudo o que quer é a oportunidade de participar das eleições.

"O povo tem o direito de votar", ele declarou. "Se eu perder nas urnas, vocês sabem que eu vou aceitar o resultado."

Lula deixou a presidência em 2010 com cerca de 80 por cento de aprovação. Enquanto conduzia a sucessora Dilma Rousseff a duas vitórias eleitorais, a reputação dele foi abalada pela piora da economia e por crescentes acusações de corrupção.

Além da condenação por aceitar R$ 3,7 milhões – na forma, principalmente, de um apartamento no Guarujá – de uma construtora em troca de favores, ele enfrenta outras seis acusações criminais. Lula afirma que é inocente e que as acusações têm motivação política.

Muitos investidores afirmam que ele mudou desde que assumiu a presidência há uma década e meia, migrando mais à esquerda para obter apoio.

"Foi-se o tempo em que havia grande boa vontade do mercado com Lula", disse Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez. "Há percepção de que será candidato com discurso e plataforma diferentes do que foi em 2002."

De fato, muitos brasileiros estão revoltados com a perspectiva de Lula voltar ao Palácio do Planalto. A pesquisa Datafolha de dezembro concluiu que 39 por cento não votariam em Lula em nenhuma circunstância. Enquanto o PT organiza manifestações de apoio a ele nesta semana do julgamento, seus oponentes também planejam protestos para exigir que seja preso.

Para Hakim, uma decisão que impeça Lula de concorrer — apesar da participação de outros candidatos suspeitos de crimes — pode provocar uma reação severa dos mais pobres.

"Pode até ter roubado, mas foi o melhor presidente da história do Brasil, tirando Getúlio Vargas", disse Antonio Martins de Lima, 46 anos, que trabalha como assistente odontológico em Brasília. "Se ele se candidatar, voto nele mesmo condenado."

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