Brasil

Dilma poderá ser menos Dilma?

Reações ao pacote fiscal a presidente encurralada entre críticas ao aumento de impostos, vindas da direita, e ataques aos cortes de gastos, pela esquerda


	A presidente Dilma Rousseff: a presidente que se reelegeu com discurso anti-austeridade tem de mudar
 (Antônio Cruz/Agência Brasil)

A presidente Dilma Rousseff: a presidente que se reelegeu com discurso anti-austeridade tem de mudar (Antônio Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2015 às 21h41.

As reações ao pacote fiscal do governo mostram a presidente Dilma encurralada entre críticas ao aumento de impostos, vindas de setores à direita do espectro político, e ataques aos cortes de gastos, por representantes da esquerda.

Embora os ataques venham dos dois lados, o mercado só vê uma saída para o governo: perseverar no ajuste. E, para isso, a presidente que se reelegeu com discurso anti-austeridade tem de mudar.

A reação ao pacote fiscal foi a esperada. Empresários criticaram a CPMF e a oposição promete lutar contra o aumento de impostos. Ao mesmo tempo, servidores ameaçam entrar em greve.

O senador Lindbergh Farias, que desde o início foi contra o ajuste, lembrou que os cortes de gastos ameaçam justamente os grupos mais à esquerda, que mais têm defendido o mandato da presidente.

Em um momento em que as manobras pelo impeachment parecem sair das sombras, a presidente parece encurralada. Sem saída à esquerda, precisa urgentemente recuperar a confiança dos mercados.

Com o déficit se acentuando e o País correndo o risco de sofrer um 2º rebaixamento de rating, o único remédio possível é o do ajuste fiscal.

Dilma, que no 1º mandato mostrou mais fidelidade às suas antigas ideias desenvolvimentistas do que à linha mais ortodoxa dos governos FHC e Lula, terá que se dobrar ao pragmatismo e abandonar os sinais dúbios emitidos até agora.

”A Dilma vai ter de ser menos Dilma e mais pragmática”, diz Lucas de Aragão, sócio da consultoria Arko Advice, de Brasília. Será fundamental definir mais claramente a linha de ação do governo. Joaquim Levy, que perdeu seguidas disputas internas nos últimos meses, teria de ganhar força total na economia.

Ao mesmo tempo, o vice Michel Temer teria de recuperar a coordenação política.

Para Aragão, no que diz respeito a Levy, já há evidências de que o ministro ganhou força, sobretudo após o susto com o rebaixamento do Brasil pela S&P.

Os sinais de enfraquecimento de Levy, visto pelos grandes bancos e empresários como uma espécie de avalista do governo, teriam pesado na decisão da agência. ”A Dilma sabe que seria muito ruim para o Brasil ser rebaixado por mais uma agência”.

Aragão não vê a oposição da esquerda aos cortes de gastos como ameaça potencial a Dilma. Isso por um simples motivo. Os movimentos sociais sabem que é mais negócio ter Dilma, de esquerda, no poder, do que alguém mais à direita, o que seria o mais provável em caso de impeachment.

A oposição de setores do Congresso ao aumento de impostos mostra que dificilmente o pacote passará em sua totalidade. Porém, seria possível o governo aprovar ao menos parcialmente o pacote de ajuste, desde que melhore a coordenação política.

A presidente precisa de uma ”nova narrativa”, diz o consultor.

Um novo discurso, que incorpore a reconquista da estabilidade econômica, seria fundamental para ganhar a credibilidade necessária para reequilibrar a economia.

A narrativa construída pelo publicitário João Santana, que abusou de um discurso anti-mercado contra Marina Silva e Aécio Neves, ajudou Dilma a se reeleger. Mas não tem valor na hora de governar.

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