Denúncia de Yunes é vista como "fogo amigo" contra Padilha
Pessoas próximas do governo se disseram "surpreendidas" pela declaração de amigo de Temer, que afirmou ter atuado como "mula" de Padilha
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de fevereiro de 2017 às 08h31.
Última atualização em 3 de março de 2017 às 12h32.
Brasília - As declarações do ex-assessor especial da Presidência e amigo do presidente Michel Temer, José Yunes, que implicam o ministro da Casa Civil , Eliseu Padilha , trazem um problema adicional interno ao governo.
Yunes esteve com o presidente nesta quinta-feira (23) no Alvorada, enquanto Padilha está afastado para se tratar de um problema urinário.
Fontes próximas a Yunes e Temer disseram terem sido "surpreendidos" com as declarações do ex-assessor. Auxiliares de Padilha afirmam, em caráter reservado, que a declaração de Yunes parece ser uma estratégia de "fogo amigo" para tirar o ministro da Casa Civil.
Yunes disse que intermediou o recebimento e a entrega de um "envelope" para Padilha. A encomenda, segundo ele, foi entregue em setembro de 2014, pouco antes da eleição presidencial na qual a chapa Dilma-Temer foi reeleita, pelo doleiro Lúcio Funaro, apontado por investigadores da Operação Lava Jato como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Além disso, a divulgação da capa da revista Veja com a informação de que Yunes afirma ter sido "mula" de Padilha também alimentou, no início da noite desta quinta-feira, as teorias de que o ministro da Casa Civil pode estar sendo "rifado".
Apesar do longo tempo de amizade entre Yunes e Temer, o que para algumas fontes seria um indicativo de que a declaração do ex-assessor possa ter sido combinada com o presidente, auxiliares do Planalto dizem não acreditar que Yunes acertaria esse tipo de declaração com Temer.
Yunes afirmou que resolveu falar sobre o assunto para contestar a versão do engenheiro da Odebrecht, Cláudio Melo, que, em delação premiada, disse que Yunes recebeu em seu escritório a quantia de R$ 1 milhão para ser repassado para campanhas peemedebistas, via caixa 2.
Em dezembro, a Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S.Paulo, revelou que o lobista Lúcio Funaro foi quem entregou a Yunes dinheiro vivo oriundo da Odebrecht. A quantia foi de R$ 1 milhão. Yunes deixou o governo após vir à tona delação do ex-executivo da companhia Claudio Melo.
Ele narrou no depoimento para a Lava Jato reunião em 2014 em que Temer teria pedido dinheiro a Marcelo Odebrecht para o PMDB. Dos R$ 10 milhões, R$ 6 milhões foram para campanha de Paulo Skaf e R$ 4 milhões para o ministro Eliseu Padilha distribuir.
Padilha foi quem pediu que Lúcio Funaro fizesse a entrega de R$ 1 milhão a Yunes. O ex-assessor, que esperava receber o dinheiro de um desconhecido, foi surpreendido com o lobista no seu escritório em São Paulo. Os dois não se conheciam pessoalmente, mas Yunes sabia de quem se tratava.
Na ocasião, via assessoria, Padilha disse que "não pediu" nada a Lúcio Funaro. Funaro está preso desde julho pela Lava Jato sob suspeita de comandar com o ex-deputado Eduardo Cunha esquema de arrecadação de propinas de grandes empresas.