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Com custo de UTI covid, Brasil poderia comprar vacina para toda população

Sob todos os aspectos, vacinação é o melhor custo-benefício, mostra estudo em hospitais do SUS. Um único paciente com covid-19 custa cerca de 25.000 reais na rede hospitalar

(Jonne Roriz/Bloomberg/Getty Images)
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Carolina Riveira

Publicado em 17 de março de 2021 às 06h00.

Última atualização em 20 de maio de 2021 às 13h17.

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É uma conta difícil. A análise pública sobre o combate à pandemia envolve os custos econômicos das quarentenas e os tristes efeitos pessoais de vidas perdidas. Mas um estudo da empresa de gestão hospitalar Planisa busca trazer um outro número a esse debate: o gasto dos hospitais para atender os pacientes da covid-19.

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Levantamento da Planisa feito em hospitais públicos estima que, com o valor gasto com pacientes de covid-19 que precisaram ser internados no ano passado, o Brasil conseguiria comprar vacinas para toda a população — e com sobra.

Ao todo, a estimativa é que o Brasil tenha gasto 14,5 bilhões de reais em atendimento hospitalar aos pacientes com covid-19 (sem incluir ainda atendimento fora dos hospitais ou no qual o paciente não precisou de internação). Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil internou no período entre março e dezembro passado 579.026 pessoas, valor que foi usado pela Planisa para a estimativa.

Com esse montante, seria possível comprar vacinas da AstraZeneca (a cerca de 30 reais) para 241,5 milhões de pessoas tomarem duas doses. Mesmo vacinas mais caras seriam abarcadas por esse valor em grande medida, o suficiente para vacinar mais do que os 210 milhões de habitantes brasileiros. Atualmente, o Brasil vacinou cerca de 4% da população.

O valor vem da amostra do estudo da Planisa, feita em nove hospitais de três regiões brasileiras. O custo de um paciente internado nesses hospitais foi em média de 25.006,21 reais, e cada paciente passou em média quase nove dias internado.

"Ou seja, com somente um paciente internado, é possível vacinar mais de 400 pessoas com duas doses. A imunização é mais barata do que qualquer tratamento", diz Eduardo Agostini, diretor da Planisa.

Foram 18.610 pacientes internados nos hospitais analisados no período. Só com esse grupo (menos de 4% do total de internados brasileiros), foram gastos efetivamente 465,3 milhões de reais. Com o valor apenas nesses locais, poderia ser possível comprar 15,5 milhões de doses.

Todos os hospitais analisados são do Sistema Único de Saúde (SUS) e geridos por Organizações Sociais, nos quais a Planisa atual com seu sistema de gestão. Nacionalmente, a empresa tem mais de 300 hospitais clientes em 19 estados e no Distrito Federal, com 27.000 leitos sob gestão.

Agostini afirma que, embora os números sejam relativos, o levantamento é importante para tornar transparente o quanto a vacinação é, sob todos os aspectos, o melhor custo-benefício.

"Falar em custo-benefício na saúde é sempre muito complicado. O valor da vida não se mede", diz o executivo. "Mas é importante mostrar para a população o quanto efetivamente custa um paciente internado. Quem paga isso somos nós. E tornar esse número transparente é um incentivo para dizer que temos de tomar cuidado e seguir o combo distanciamento e vacinação."

Uma boa notícia recente para o debate sobre as internações veio com a aprovação pela Anvisa do remdesivir, medicamento da farmacêutica americana Gilead.

O remdesivir não é um tratamento preventivo ou não mostrou, nos testes, ajudar a curar os pacientes do coronavírus. Mas se mostrou eficaz para reduzir o período de internação na UTI entre os pacientes com quadros graves. "Uma diária em UTI fica entre 2.200 e 2.800 reais, no geral. Então, reduzir esse tempo é importante para todos os lados", diz Agostini.

Mesmo sem levar em conta os custos, o próprio sistema hospitalar chegou ao limite. Em meio ao colapso do sistema de saúde em todos os estados brasileiros — incluindo na rede privada —, estados têm aberto novos leitos de UTI e de enfermaria, mas ainda insuficientes para dar conta do número crescente de internações. A Fundação Oswaldo Cruz afirma que este é o "maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil".

O Brasil chegou nesta terça-feira, 16, à triste marca de 2.798 mortes por covid-19, segundo o consórcio de imprensa, o maior número desde o começo da pandemia e o 18º recorde seguido. O país tem respondido por 20% das mortes mundiais e na contramão do resto do mundo.

Assim, enquanto as vacinas não chegam, uso correto de máscaras, busca por ambientes ventilados e distanciamento sempre que possível são mais baratos e eficientes do que ver a pandemia seguir avançando. Ganha o orçamento do SUS, a população e, com menos pessoas doentes, ganha também a economia.

 

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