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Caos em Brasília abala estratégia de Temer de mostrar normalidade

A decisão de usar as Forças Armadas, anunciada pelo ministro da Defesa como resposta a um pedido de Maia, resultou em mais uma crise

Protestos em Brasília: mais do que os 35 mil manifestantes que tomaram a Esplanada (Ueslei Marcelino/Reuters)

Protestos em Brasília: mais do que os 35 mil manifestantes que tomaram a Esplanada (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 24 de maio de 2017 às 21h14.

Brasília - Apesar da tentativa de mostrar normalidade, o governo federal terminou esta quarta-feira com mais problemas do que imaginava e a imagem de que pode ter perdido a capacidade de manter a governabilidade.

Auxiliares do presidente admitem que a manifestação que tomou conta da Esplanada dos Ministérios e terminou em um show de violência foi maior do que o esperado.

Apesar da tentativa do Planalto de atribuir a manifestação exclusivamente à contrariedade com as reformas, já que o ato foi organizado antes das denúncias contra o presidente, os gritos de "Fora, Temer" e "Diretas Já" dominaram o protesto.

Mais do que os 35 mil manifestantes que tomaram a Esplanada, a violência que dominou o protesto e a falta de controle da polícia ajudaram a piorar o dia.

Depois de um pedido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que a Força Nacional de Segurança fosse usada para ajudar na segurança do Congresso, o governo optou por acionar as Forças Armadas em uma ação de Garantia da Lei e da Ordem.

A decisão, anunciada pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, como resposta ao pedido de Maia, resultou em mais uma crise, dessa vez com o presidente da Câmara.

Ao ser acusado de ter pedido "tropas da rua", Maia repetiu que este não havia sido seu pedido e que "esperava que o ministro da Defesa restabelecesse a verdade".

Temer terminou optando por enviar a Maia e ao presidente do Senado um comunicado, esclarecendo que a decisão foi tomada "com a única intenção de garantir uma manifestação pacífica e não destrutiva, buscando preservar a ordem pública e a segurança das pessoas", e que a medida já foi usada diversas vezes em outros Estados.

PMDB

O presidente começou o dia em uma reunião com a bancada do PMDB -17 dos 22 senadores do partido estiveram presentes- em que pediu apoio e negociou a retirada de Renan Calheiros (AL) da liderança da bancada, depois que o senador voltou a fazer oposição direta a seu governo.

A decisão da bancada foi de chamar uma reunião para sacramentar a mudança de líder sem que pareça uma interferência direta do Planalto, mas o Senador foi à tribuna reclamar, mais uma vez, do presidente.

"O PMDB não é um departamento do Executivo; o PMDB não é um subproduto do governo; o PMDB é um partido político. Coincidentemente, tem, lá na Presidência da República, um filiado do PMDB", disse.

Na Câmara, parlamentares da oposição aproveitaram o clima de tensão do lado de fora e momentos de desorientação da bancada governista para ocupar o plenário com gritos de "Fora Temer" e "Diretas Já".

Alguns deputados quase partiram para a briga, repetindo os momentos do dia anterior na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. A confusão impediu os trabalhos da Câmara por boa parte da tarde.

Um parlamentar da base aliada ouvido pela Reuters avaliou que as cenas de vandalismo poderiam ajudar o governo, já que a população repudia esses atos. Mas reconhece que foi um dia difícil.

"O governo ganhou fôlego com a vitória no STF. De lá pra cá só piorou", disse.

Sonia Fleury, analista política da Fundação Getúlio Vargas, disse à Reuters que as demonstrações em Brasília e no Rio de Janeiro mostraram um descontentamento generalizado que podem sinalizar mais protestos violentos à frente.

"No Rio também era um caos. Isto não é algo tão circunstancial, mas uma situação mais geral. Estamos vivendo uma crise muito mais profunda de descrédito total do sistema político", disse.

"Qualquer ação de parte dele (de Temer), como chamar as Forças Armadas, é ruim agora."

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