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Afinal, o que muda agora que Cunha rompeu com Dilma?

Para alguns analistas, reação de Cunha foi um erro e pode render efeitos desastrosos para o próprio deputado. Entenda:

“Em um tabuleiro tão complexo, você não pode tentar dar xeque mate sem ter todas as jogadas pensadas”, afirma Roberto Romano sobre decisão de Cunha. (Antonio Cruz/ Agência Brasil)

Talita Abrantes

Publicado em 19 de agosto de 2015 às 16h07.

São Paulo – Muito antes de assumir a presidência da Câmara dos Deputados , a relação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o Planalto já não era a das melhores.

Líder do grupo de deputados da base que se organizava para contrariar Dilma Rousseff no Congresso, o pemedebista chegou a ser classificado como a grande pedra no sapato da presidente na reta final do primeiro mandato.

Os almoços recheados de críticas e as investidas contra o governo surtiram efeito: Cunha chegou à presidência da Casa em fevereiro deste ano com 267 votos – 49 a mais do que o combinado oficialmente pelos partidos – para desgosto do Planalto, que se opôs ferozmente à candidatura do deputado carioca.

De cara, Cunha foi claro sobre o tom que iria imprimir à sua gestão: ele não iria se curvar. Ao articular uma série de derrotas contra a presidente, ele cumpriu a promessa. “A rigor, ele não é um aliado do governo”, afirma Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Ou seja, mesmo antes de declarar oficialmente que não quer mais relações com o Planalto, Cunha já flertava (de maneira escancarada) com o papel de oposição.

Mas agora que ele vestiu esta camisa de vez, a crise do governo Dilma deve piorar – ao menos em um primeiro momento.

“Ele mandou um aviso claro: se cair, vou cair atirando”, diz Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Cunha sequer esperou o fim do recesso parlamentar para começar a retaliação.

Poucas horas depois de anunciar o rompimento com o Planalto, o peemedebista autorizou duas CPIs que contrariam Dilma: a do BNDES , que vai investigar supostos empréstimos irregulares, e outra para apurar pagamentos indevidos dos Fundos de Pensão das estatais.

“Eduardo Cunha comanda uma boa parte da Câmara, ele vai levar essas pessoas a votarem em oposição total às medidas e propostas do governo Dilma”, afirma Davi Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB). “É uma luta sem trégua”.

Decisão arriscada
O desfecho dessa dramática queda de braço ainda depende dos desdobramentos da Operação Lava Jato. E as acusações contra Cunha são graves.

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Júlio Camargo disse que Eduardo Cunha pediu propina de 5 milhões de dólares em um contrato de navios-sonda da Petrobras. No mesmo dia, o doleiro Alberto Youssef disse que estava sendo coagido por um deputado "pau mandado" do presidente da Câmara.

Dada a gravidade das acusações, alguns especialistas consultados por EXAME.com afirmam que a reação de Cunha pode render efeitos desastrosos também para o próprio deputado.

“Ele tem confiado demasiadamente em sua capacidade de controle da Câmara, do Regimento e dos deputados que têm interesse em sua agenda, mas pode ser que ele termine em uma solidão muito grande”, diz Roberto Romano, professor emérito de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas.

“Em um tabuleiro tão complexo, você não pode tentar dar xeque mate sem ter todas as jogadas pensadas”, compara Romano. “Cunha não testou esse rompimento”.

Com seis ministérios, o PMDB, pelo menos até o momento, não parece disposto a abrir mão do espaço que tem no governo.

Em nota, a direção nacional da sigla afirmou que a decisão do deputado é pessoal. Já a bancada do partido na Câmara, da qual Cunha já foi líder, deve decidir se segue o presidente da Casa só em agosto, quando termina o recesso parlamentar.

Se as suspeitas levantadas pelos delatores da Operação Lava Jato se confirmarem e Cunha, realmente, for indiciado, a questão é quem  permanecerá ao lado dele. “Dificilmente o Congresso irá apoiá-lo até o fim”, diz Valeriano Costa, professor da Unicamp.

Tirá-lo do poder, contudo, não é uma missão simples – e a reação estrondosa desta sexta é só mais uma prova disso. “O Renan [Calheiros] e o Eduardo Cunha sabem jogar este jogo muito melhor que o [Aloizio] Mercadante, Miguel Rossetto e a própria Dilma”, afirma Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Por ora, o vice-líder do PT na Câmara já afirmou que pedirá o afastamento de Cunha da presidência da Câmara. O ponto é saber quem será mais habilidoso para dar a próxima cartada ou mais forte para derrubar a queda de braço.

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Líder do grupo de deputados da base que se organizava para contrariar Dilma Rousseff no Congresso, o pemedebista chegou a ser classificado como a grande pedra no sapato da presidente na reta final do primeiro mandato.

Os almoços recheados de críticas e as investidas contra o governo surtiram efeito: Cunha chegou à presidência da Casa em fevereiro deste ano com 267 votos – 49 a mais do que o combinado oficialmente pelos partidos – para desgosto do Planalto, que se opôs ferozmente à candidatura do deputado carioca.

De cara, Cunha foi claro sobre o tom que iria imprimir à sua gestão: ele não iria se curvar. Ao articular uma série de derrotas contra a presidente, ele cumpriu a promessa. “A rigor, ele não é um aliado do governo”, afirma Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Ou seja, mesmo antes de declarar oficialmente que não quer mais relações com o Planalto, Cunha já flertava (de maneira escancarada) com o papel de oposição.

Mas agora que ele vestiu esta camisa de vez, a crise do governo Dilma deve piorar – ao menos em um primeiro momento.

“Ele mandou um aviso claro: se cair, vou cair atirando”, diz Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Cunha sequer esperou o fim do recesso parlamentar para começar a retaliação.

Poucas horas depois de anunciar o rompimento com o Planalto, o peemedebista autorizou duas CPIs que contrariam Dilma: a do BNDES , que vai investigar supostos empréstimos irregulares, e outra para apurar pagamentos indevidos dos Fundos de Pensão das estatais.

“Eduardo Cunha comanda uma boa parte da Câmara, ele vai levar essas pessoas a votarem em oposição total às medidas e propostas do governo Dilma”, afirma Davi Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB). “É uma luta sem trégua”.

Decisão arriscada
O desfecho dessa dramática queda de braço ainda depende dos desdobramentos da Operação Lava Jato. E as acusações contra Cunha são graves.

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Júlio Camargo disse que Eduardo Cunha pediu propina de 5 milhões de dólares em um contrato de navios-sonda da Petrobras. No mesmo dia, o doleiro Alberto Youssef disse que estava sendo coagido por um deputado "pau mandado" do presidente da Câmara.

Dada a gravidade das acusações, alguns especialistas consultados por EXAME.com afirmam que a reação de Cunha pode render efeitos desastrosos também para o próprio deputado.

“Ele tem confiado demasiadamente em sua capacidade de controle da Câmara, do Regimento e dos deputados que têm interesse em sua agenda, mas pode ser que ele termine em uma solidão muito grande”, diz Roberto Romano, professor emérito de Filosofia Política da Universidade Estadual de Campinas.

“Em um tabuleiro tão complexo, você não pode tentar dar xeque mate sem ter todas as jogadas pensadas”, compara Romano. “Cunha não testou esse rompimento”.

Com seis ministérios, o PMDB, pelo menos até o momento, não parece disposto a abrir mão do espaço que tem no governo.

Em nota, a direção nacional da sigla afirmou que a decisão do deputado é pessoal. Já a bancada do partido na Câmara, da qual Cunha já foi líder, deve decidir se segue o presidente da Casa só em agosto, quando termina o recesso parlamentar.

Se as suspeitas levantadas pelos delatores da Operação Lava Jato se confirmarem e Cunha, realmente, for indiciado, a questão é quem  permanecerá ao lado dele. “Dificilmente o Congresso irá apoiá-lo até o fim”, diz Valeriano Costa, professor da Unicamp.

Tirá-lo do poder, contudo, não é uma missão simples – e a reação estrondosa desta sexta é só mais uma prova disso. “O Renan [Calheiros] e o Eduardo Cunha sabem jogar este jogo muito melhor que o [Aloizio] Mercadante, Miguel Rossetto e a própria Dilma”, afirma Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Por ora, o vice-líder do PT na Câmara já afirmou que pedirá o afastamento de Cunha da presidência da Câmara. O ponto é saber quem será mais habilidoso para dar a próxima cartada ou mais forte para derrubar a queda de braço.

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