Acidente na Índia reacende debates sobre a precisão de aplicativos de navegação e a responsabilidade por tragédias em vias públicas. (Pavlo Gonchar/SOPA Images/LightRocket /Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 10h37.
Um acidente de carro no estado de Uttar Pradesh, na Índia, reacendeu debates sobre a confiabilidade de aplicativos de navegação como o Google Maps. O incidente, ocorrido no último domingo, 1º, resultou na morte de três homens cujo veículo caiu de uma ponte inacabada em um leito de rio, segundo informações da BBC.
De acordo com a polícia, o grupo teria seguido direções fornecidas pelo Google Maps, que os levou à ponte colapsada. O local, que havia desabado parcialmente devido a enchentes no início deste ano, era conhecido pelos moradores da região, que evitavam o trajeto. No entanto, os três homens, vindos de outra localidade, desconheciam o risco. A ponte não contava com barricadas ou sinalização indicando sua condição.
As autoridades registraram acusações de homicídio culposo contra quatro engenheiros estaduais responsáveis pela manutenção da estrada e um funcionário não identificado do Google Maps. Um porta-voz da empresa afirmou que o Google está cooperando com as investigações.
O acidente trouxe à tona questões sobre a infraestrutura rodoviária precária na Índia e abriu uma discussão sobre a responsabilidade de aplicativos de navegação em casos como este. Enquanto algumas críticas recaem sobre a precisão das informações fornecidas pelo Google Maps, outras destacam a falha governamental em sinalizar o local e proteger os motoristas.
O Google Maps é amplamente utilizado na Índia, com cerca de 60 milhões de usuários ativos, sendo a principal ferramenta de GPS no país. Ele também é essencial para serviços de transporte por aplicativo, e-commerce e entrega de alimentos.
Apesar de sua popularidade, o aplicativo já enfrentou controvérsias por fornecer rotas incorretas que resultaram em acidentes fatais. Em 2021, um homem morreu afogado em Maharashtra após dirigir seu carro para dentro de um reservatório seguindo orientações do app. Em 2022, dois médicos em Kerala perderam a vida quando seu carro caiu em um rio enquanto seguiam um trajeto indicado pelo aplicativo.
O Google Maps depende de dados fornecidos por usuários, atualizações governamentais e imagens de satélite para mapear mudanças nas estradas. No entanto, segundo especialistas, a quantidade de atualizações necessárias para um país com as dimensões da Índia torna impossível garantir precisão absoluta.
A falta de um sistema robusto para reportar mudanças nas condições das estradas agrava o problema. Países como Singapura já implementaram plataformas centralizadas para registrar alterações em tempo real, mas a Índia ainda carece de um sistema similar, segundo Ashish Nair, ex-funcionário do Google Maps.
“A vasta população e o rápido desenvolvimento tornam o desafio de obter dados precisos e atualizados ainda maior na Índia”, afirmou Nair, acrescentando que a solução depende de iniciativas governamentais mais proativas.
A legislação indiana oferece proteção limitada a plataformas como o Google Maps, classificadas como intermediárias pela Lei de Tecnologia da Informação. Contudo, se for comprovado que o aplicativo ignorou atualizações precisas e oportunas, pode haver espaço para acusações de negligência.
Especialistas jurídicos argumentam que, embora o aplicativo não seja diretamente responsável pelos acidentes, ele pode ser questionado em situações onde falhou em corrigir dados já notificados.
O caso destaca o impacto da dependência tecnológica em um contexto de infraestrutura rodoviária insuficiente. Especialistas apontam a necessidade de maior colaboração entre empresas de tecnologia e governos locais para prevenir tragédias semelhantes e aprimorar a segurança nas estradas.