Para que robôs dirijam, pedestre pode ter que ser reprogramado
Este foi o argumento usado por alguns defensores dos carros conduzidos por robôs após primeira morte de um pedestre atribuída a um veículo autônomo
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2018 às 08h00.
Última atualização em 19 de agosto de 2018 às 08h00.
Basicamente, este foi o argumento usado por alguns defensores dos carros conduzidos por robôs nos meses seguintes à primeira morte de um pedestre atribuída a um veículo autônomo. É crescente também a preocupação com a possibilidade de estarmos mais distantes de ter uma inteligência artificial capaz de dirigir no mundo real do que muitos previam anos atrás.
Com uma frase que lembra a famosa defesa de Steve Jobs das antenas defeituosas do iPhone 4 -- “não segurem assim” --, esses especialistas em tecnologia dizem que o problema não é que os carros autônomos não funcionam, é que as pessoas agem de forma imprevisível.
“O que dizemos às pessoas é: ‘Por favor respeitem a lei e por favor mostrem consideração’”, diz Andrew Ng, um conhecido pesquisador do aprendizado de máquina que administra um fundo de risco que investe em empresas especializadas em inteligência artificial, entre elas a startup de direção autônoma Drive.AI. Em outras palavras, não atravessem fora da faixa.
A dúvida sobre se os carros autônomos são capazes de identificar corretamente e desviar dos pedestres que atravessam as ruas é um tema candente desde março, quando um carro autônomo do Uber matou uma mulher que atravessava a rua empurrando uma bicicleta à noite fora da faixa de pedestre, no Arizona, nos EUA. Embora o acidente ainda esteja sendo investigado, um relatório preliminar dos órgãos federais de segurança dos EUA apontou que os sensores do carro haviam detectado a mulher, mas o software responsável por tomar decisões desconsiderou os dados do sensor, concluindo que provavelmente se tratava de um falso positivo.
A Waymo, do Google, prometeu lançar um serviço de táxi autônomo ainda neste ano, começando por Phoenix, no Arizona, e a General Motors anunciou um serviço rival -- usando um carro sem volante, nem pedais -- para algum momento de 2019. Não está claro se alguma das duas empresas conseguirá operar fora das áreas designadas ou sem um motorista de segurança capaz de assumir o comando em caso de emergência. Ao mesmo tempo, outras iniciativas estão perdendo força. Elon Musk arquivou o plano de fabricar um Tesla autônomo para cruzar os EUA. A Uber cancelou o programa de produção de um caminhão autônomo para se concentrar nos carros autônomos. A Daimler Trucks, que faz parte da Daimler, agora afirma que os caminhões comerciais sem motorista ainda demorarão pelo menos cinco anos. Outras pessoas, incluindo Musk, haviam previsto que esse tipo de veículo estaria pronto para as ruas em 2020.
Em resposta à ampliação dos cronogramas, defensores da direção autônoma como Ng afirmam que há um atalho garantido para antecipar a chegada dos carros autônomos às ruas: convencer os pedestres a se comportarem de forma menos errática. Se eles usarem faixas de pedestres, onde há indicações contextuais -- marcações no pavimento e semáforos --, o software terá maior probabilidade de identificá-los.
Para outros, o próprio fato de Ng estar sugerindo isso é um sinal de que a tecnologia atual simplesmente não é capaz de oferecer carros autônomos como se imaginava originalmente. “A IA de que realmente precisamos ainda não chegou”, diz Gary Marcus, professor de Psicologia da Universidade de Nova York que faz pesquisas sobre inteligência humana e artificial. Ele diz que Ng está “apenas alterando as regras para facilitar o trabalho” e que se a única forma de ter carros autônomos seguros é separá-los completamente de motoristas e pedestres, já tínhamos essa tecnologia: os trens.