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Flow Podcast: a “conversa de bar” de Igor e Monark que conquistou o Brasil 

Dupla comanda um dos podcasts mais ouvidos do Brasil, e também uma empresa que investe na produção de conteúdo de áudio

(Leandro Fonseca/Exame)
TL

Thiago Lavado

Publicado em 19 de abril de 2021 às 07h00.

Última atualização em 19 de abril de 2021 às 11h07.

Igor e Monark: com uma conversa descontraída e sem amarras, dupla comanda um dos principais podcasts do Brasil (Leandro Fonseca/Exame)

“Não é entrevistado, é só uma conversa”, afirma Igor Coelho, sério e direto, sobre os convidados que participam do Flow Podcast . A frase, que está também no site do programa, reflete a rotina de um talk show que tenta trazer e gravar a atmosfera de uma “conversa de bar”, como pontuado por Igor, e também por Bruno “Monark” Aiub, o outro apresentador do programa.

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Lançado em 2018, o Flow cresceu e se tornou um dos maiores sucessos recentes na produção de conteúdo na internet no Brasil. Hoje é mais do que um podcast: o Flow passa ao vivo na Twitch, tem pílulas e cortes das conversas em canais no YouTube, e ainda está disponível nas plataformas de áudio, no formato de podcast. Monark e Igor afirmam que o produto nasceu em um momento de revolta com a vida, da vontade de fazer algo diferente. Hoje, eles contam mais de 100 milhões de visualizações mensais nas diferentes plataformas e redes em que o programa é exibido na íntegra ou em cortes.

A dupla comanda um show diário, que figura no topo dos mais ouvidos de aplicativos como Spotify , ao lado de podcasts conhecidos como “O Assunto”, da Globo, ou “Café da Manhã”, da Folha de São Paulo, ou mesmo NerdCast, do portal Jovem Nerd, que recentemente foi adquirido pelo Magazine Luiza para compor o superapp da empresa. O modelo do Flow, de gravar os programas e cortar longas conversas, de mais de 2 horas de duração, tem sido copiado por outros programas e se tornando uma espécie de padrão no entretenimento.

Nos últimos meses, além da audiência, a influência do Flow cresceu. Conversas recentes do programa tomaram aspectos políticos e nacionais: um episódio do Flow com a participação de André Marinho foi usado como fonte de informação por reportagem na coluna Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, e a vinda de Eduardo Bolsonaro ao programa viralizou nas redes sociais, especialmente após Monark dizer que o pai dele, o presidente Jair Bolsonaro, era burro. Com frequência, Monark entra para os trending topics do Twitter e precisa lidar com a visibilidade de suas opiniões.

Igor (camiseta preta) e Monark, no estúdio do Flow Podcast, em São Paulo
Foto: Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)

O Flow é muito conhecido pela participação de artistas, criadores de conteúdo, youtubers, e gamers. Nomes como Mart’nália, Vitão, MC Vitinho Avassalador, Alok, Latino entre outros, são alguns que compareceram ao programa nos últimos meses. Monark, inclusive, atribui parte da popularização do programa à vinda do streamer Gaulês, um dos mais influentes gamers brasileiros na Twitch. A conversa é até hoje uma das mais assistidas no canal no YouTube. “Foi muito especial, fez com que várias pessoas conhecessem o Flow. O Nando Moura [youtuber] foi um divisor de águas. Ele não falava com ninguém e tivemos uma conversa e a galera mais à direita viu que iríamos respeitar”, afirmou.

Mas a popularidade do podcast, assim como a capacidade de Igor e Monark de romper bolhas e falar com diferentes grupos, começou com a participação de agentes políticos nacionais de diferentes espectros. Durante as eleições municipais, participaram do programa nomes como Guilherme Boulos, Bruno Covas, Arthur do Val, entre outros candidatos em São Paulo. O ex-ministro Abraham Weintraub e o deputado federal Kim Kataguiri já haviam comparecido também. Depois, além de Eduardo Bolsonaro, a deputada Samia Bomfim também foi ao programa.

O Flow quer falar com todo mundo, sem papas na língua e sem restrições: o programa não tem pauta para discutir com os convidados, tampouco perguntas prontas ou roteiro do que será debatido. Monark e Igor sentam diante de uma mesa com o participante, que é convidado a contar histórias da própria vida, da profissão ou do que bem entender. O bate-papo com frequência acontece com a presença de uma garrafa de hidromel — tão constante que, segundo Monark, eles compraram uma participação na fabricante — e também de maconha (Monark é pró-legalização).

“Eu não tenho problema de um cara vir aqui e falar o que ele acredita. É justamente isso que eu espero dele, para ser sincero. Quando vem o Eduardo Bolsonaro, ele vai falar o que ele acredita e a gente vai colocar a nossa visão de um cara normal”, afirma Igor. “A Samia veio falar sobre comunismo. É um negócio que eu não acredito. Não estudei, mas tenho minhas convicções, sou informado, leio e ouço notícias, estou na internet o tempo inteiro.”

De acordo com Igor, o intuito de não ter uma pauta para embasar a conversa é parte da premissa do programa. “A gente não estuda o cara, e às vezes recebemos críticas por isso, mas não estudamos justamente para ter uma conversa que qualquer outra pessoa que sabe conversar teria”, explica, sobre inclusive se deixar surpreender por aspectos profissionais ou da vida dos convidados do programa, sem a necessidade de estar pronto para colocar o interlocutor na parede. “É entretenimento, não é jornalismo. Se tem um valor jornalístico, é um sintoma e não o propósito”, diz Monark.

Joe Rogan brasileiro?

Igor e Monark não negam que tenham se inspirado livremente no podcast Joe Rogan Experience, um fenômeno do mercado americano de áudio que fechou um contrato milionário com o Spotify no ano passado, estimado em cerca de 100 milhões de dólares. Polêmico como o Flow, o podcast de Joe Rogan já recebeu nomes controversos como Alex Jones, apresentador de rádio da extrema direita americana, e testemunhou momentos inusitados: foi no programa dele que o bilionário Elon Musk fumou maconha ao vivo em 2018— uma pintura do momento estampa uma das paredes do estúdio do Flow. Recentemente, alguns episódios de Joe Rogan têm sido inclusive removidos pelo Spotify pela polêmica.

Apesar disso, para Monark, a dupla não se vê como uma equivalência brasileira de Joe Rogan. “Ele tem uma abertura, um impacto cultural diferenciado. Está há muito tempo [fazendo o podcast] e é um cara com um perfil muito mais relevante do que o nosso. Já trabalhou em estúdios estourados, é um excelente comediante e lutador, além de narrador e comentarista do UFC. Nós somos dois gordinhos da internet”, afirmou.

Sem parceria milionária com uma empresa gigante, o Flow sobrevive de publicidade, assinatura de membros, inscrições diretas e por meio de plataformas, além da compra das Flowcoins, moedas que os espectadores podem comprar para enviar mensagens — e também publicidade de maneira mais barata. Recentemente, o programa foi um dos canais de anúncio do filme “Um príncipe em Nova York 2”, que estreou na Amazon Prime Video, pago pela própria Amazon. Igor e Monark não abriram detalhes do faturamento do negócio à EXAME, mas, em uma entrevista em dezembro do ano passado, afirmaram que o faturamento mensal via adsense era de cerca de 160.000 reais.

O projeto do Flow nasceu de um investimento dos dois e nunca recebeu aportes ou investidores. A maior parte da receita vem do YouTube, onde estão as maiores visualizações do programa. Todas as pessoas que trabalham no programa têm um salário fixo, incluindo os dois, e o restante é reinvestido no estúdio ou em projetos do grupo. Isso inclui outros podcasts gravados nos mesmos estúdios, como o Vênus, também de conversas, comandado por Yasmin Yassine e Criss Paiva, e o recente Enxuga Gelo, em que o rapper Froid fala com outros músicos da cena hip-hop. Uma plataforma que permite aos espectadores assinarem ao canal e comprar as Flowcoins foi desenvolvida pelo grupo para remunerar o projeto e driblar taxas de ferramentas semelhantes que existem em transmissões na Twitch, por exemplo. “A ideia é abrir essa plataforma para outros criadores no futuro”, diz Monark.

Monark e Igor do Flow Podcast
Foto: Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)

Esses projetos pertencem na integralidade ou boa parte ao Flow e os estúdios não são alugados. “Estamos fazendo mais dois estúdios e vamos botar equipamento dentro, para acontecerem outros programas. Estamos em um momento de investir”, afirma Igor. Ele conta que a receita do Flow aumentou na metade de 2020, o que os permitiu direcionar mais recursos e investir melhor.

Como criadores de conteúdo que já ganhavam a vida na internet antes do Flow, o grupo entendeu a necessidade da qualidade na produção do programa. Existe um investimento de produto altíssimo no estúdio, que conta com equipamentos caros de gravação e jogo de câmeras, necessários para fazer um programa tecnicamente excelente de se ouvir. O Flow é dirigido por Gianluca Eugenio, que às vezes aparece nas conversas e está com Igor e Monark desde o início, quando o programa foi concebido, ainda em Curitiba. Ele também tem participação em alguns dos projetos do grupo. A mudança para São Paulo, que aconteceu em maio de 2019, foi necessária para aumentar a frequência de convidados e reduzir os custos de levar os participantes do show até o sul do país.

Os projetos de futuro incluem trazer os presidenciáveis para uma conversa em 2022, além de aumentar a relevância e a base de pessoas consumindo podcasts no Brasil. “O que eu espero do Flow é que ele tenha relevância suficiente para ter todos os candidatos a presidente aqui para conversar no ano que vem, francamente, de ser humano para ser humano”, finaliza Igor.

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