Revista Exame

O que falta às startups do Brasil é dinheiro

Para Dave McClure, criador de uma das maiores aceleradoras do mundo, o acesso restrito a capital dificulta o surgimento de novas empresas de tecnologia no país

Dave Mcclure: “Sem investidores, as startups usam dinheiro próprio, o que limita o crescimento” (JagadeeshNV//EFE)

Dave Mcclure: “Sem investidores, as startups usam dinheiro próprio, o que limita o crescimento” (JagadeeshNV//EFE)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2016 às 11h39.

São Paulo — O americano Dave Mcclure tem uma história de sucesso no Vale do Silício. Depois de ter trabalhado em companhias de tecnologia, como Microsoft, Intel e PayPal, tornou-se investidor e criou, na região de São Francisco, a 500 Startups, uma das maiores aceleradoras de empresas do Vale do Silício.

Desde 2010, a aceleradora — um tipo de empresa especializada em fazer negócios inovadores deslanchar — já recebeu mais de 1 500 startups.

Atento ao que se passa na América do Sul, McClure já investiu em mais de 30 startups brasileiras, como a ContaAzul, que desenvolve software de gestão financeira para micro e pequenas empresas. Para ele, o principal problema do ambiente de startups brasileiro é a falta de investidores.

Exame - O que falta fazer para o Brasil ter um mercado de startups bem desenvolvido?

McClure - O que faz mais falta no Brasil é o acesso a capital. O que mais chama a atenção é a ausência de novos grandes fundos de investimento. Isso é problemático.

Exame - Por que a falta de investidores é um problema?

McClure - Sem capital, as startups se desenvolvem mais lentamente e isso afeta o conjunto de empresas de tecnologia. Como demoram para crescer, demoram para ser vendidas e para comprar startups menores. Isso afeta toda a cadeia.

Exame - Num ambiente em que falta capital, como as startups acabam se virando?

McClure - A falta de investimento faz com que as empresas usem o próprio capital logo nos primeiros anos, o que muitas vezes acaba matando o futuro do negócio. Uma startup só consegue se estabelecer se tiver acesso a financiamento por um longo período. Se a empresa iniciante começa a depender muito cedo do próprio faturamento, dificilmente ganhará escala. É simples assim.

Exame - A ausência de novos fundos não está ligada à falta de boas empresas e de empreendedores?

McClure - Os empreendedores brasileiros têm uma boa formação. Isso não quer dizer que o país como um todo não tenha áreas que precisam melhorar. Falo do ensino de assuntos cruciais na área de tecnologia, como economia, computação, marketing e design.

Exame - Entrar num programa de aceleração de startups é suficiente para resolver essas deficiências?

McClure - Pode ajudar, mas não salva um projeto ruim. A aceleradora é um lugar em que os empreendedores têm acesso a material de educação para complementar a formação. Eles também ampliam a rede de contatos e têm uma estrutura jurídica e financeira mais formal para atendê-los.

Exame - Entre as dez startups mais valiosas do mundo, apenas o site de aluguel Airbnb passou por uma aceleradora. Não é pouco?

McClure - É, mas é questão de tempo para que o número cresça. A maioria das aceleradoras tem três ou quatro anos de existência, o que é pouquíssimo tempo.

Exame - O investimento em startups no Vale do Silício caiu 20% no primeiro trimestre. A melhor fase passou?

McClure - Houve uma desaceleração, mas os investimentos conti­nuam altos. Investidores do mercado de ações passaram a se interessar por tecnologia nos últimos anos, e com isso o investimento subiu. Agora o interesse caiu um pouco e está voltando aos níveis normais.

Acompanhe tudo sobre:CalifórniaEdição 1112Startupsvale-do-silicio

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025