A série 'Os Reis de Tubelo: Crime e Conspiração nos EUA' explora como teorias conspiratórias e rivalidades pessoais levaram a um caso bizarro e devastador. (Cortesia da Netflix/Divulgação)
Redator na Exame
Publicado em 16 de dezembro de 2024 às 10h41.
Em abril de 2013, a tranquila cidade de Tupelo, Mississippi, nos Estados Unidos, testemunhou um evento que mudaria a vida de Paul Kevin Curtis para sempre. Conhecido localmente como um talentoso imitador de Elvis Presley, Curtis teve sua casa invadida por agentes federais e policiais. A acusação? Enviar cartas contaminadas com ricina, um veneno mortal, para autoridades do governo — incluindo o então presidente Barack Obama.
Esse é o ponto de partida de “Os Reis de Tupelo: Crime e Conspiração nos EUA”, nova série documental da Netflix. Dividida em três partes, a produção explora a vida de Curtis, os conflitos que passou e como uma rivalidade pessoal e teorias conspiratórias culminaram na prisão e posterior exoneração dele. Entre os destaques está a intrincada relação de Curtis com James Everett Dutschke, rival local cuja inimizade alimentou o caso que chocou o país.
Paul Kevin Curtis cresceu em Tupelo idolatrando Elvis Presley, cuja presença cultural moldou a cidade. Ele e o irmão formaram um duo de imitadores chamado Double Trouble. Fora dos palcos, Curtis administrava uma empresa de limpeza, que o levou a trabalhar em um dos maiores hospitais rurais dos EUA, o North Mississippi Medical Center.
Durante esse período, segundo a série, Curtis afirma ter encontrado um freezer que continha partes humanas, um incidente que ele acreditava estar ligado a uma rede de tráfico de órgãos. Embora o hospital tenha alegado que o armazenamento era parte do protocolo para doações, Curtis tornou-se obcecado em expor o que ele considerava ser uma conspiração. A busca pela “verdade” o isolou da comunidade e até mesmo da própria família, à medida em que ele mergulhava cada vez mais fundo em teorias conspiratórias.
Curtis tentou chamar a atenção de políticos locais, incluindo o senador Roger Wicker e o representante Steve Holland. Ambos rejeitaram as propostas dele de legislar contra o suposto tráfico de órgãos, o que alimentou ainda mais a desconfiança em Curtis e o levou a confrontos públicos e problemas legais.
Durante os interrogatórios, ficou evidente que Curtis não sabia nada sobre a substância usada nas cartas e as investigações forenses também não revelaram nenhum indício de envolvimento. Após seis dias na prisão, portanto, ele foi liberto e todas as acusações contra ele foram retiradas.
O principal apontado como autor das cartas envenenas foi, na verdade, James Everett Dutschke, instrutor de taekwondo e rival de longa data de Curtis. A inimizade entre os dois era amplamente conhecida na cidade e se intensificava frequentemente nas redes sociais. Dutschke, irritado com as constantes provocações do "inimigo", supostamente orquestrou o plano para incriminá-lo.
A polícia encontrou evidências incriminadoras na casa de Dutschke, incluindo sementes de mamona, matéria-prima para a produção de ricina. Em 2013, ele foi condenado a 25 anos de prisão.
Embora Curtis tenha sido inocentado, "Os Reis de Tupelo" revela um último e surpreendente capítulo. Curtis agora acredita que Dutschke pode ter sido vítima de uma armação maior, alegando que ele próprio teria informações comprometedoras sobre a administração Obama. Apesar da falta de provas concretas, essa reviravolta final ilustra como as teorias conspiratórias continuam a impactar a vida de Curtis e reforça o poder destrutivo dessas crenças.