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Ney Matogrosso revela detalhes de cena emocionante de "Homem com H"

Em evento no Rio de Janeiro, cantor compartilhou momentos marcantes de sua vida e adiantou informações sobre o cinebiografia, que estreia em dezembro

Ney Matogrosso: cinebiografia relata a história do cantor com veracidade (Luiz/ Rio2C/Divulgação)

Ney Matogrosso: cinebiografia relata a história do cantor com veracidade (Luiz/ Rio2C/Divulgação)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de entretenimento e redatora da Homepage

Publicado em 5 de junho de 2024 às 18h24.

Última atualização em 8 de junho de 2024 às 13h27.

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Nunca vi rastro de cobra, nem coro de lobisomem. Se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. Quem nunca ouviu "Homem com H" na voz de Ney Matogrosso é minoria no Brasil. Apesar de não ter sido escrita pelo cantor — a canção foi composta por Antônio Barros, em 1974 —, a música ganhou uma nova dimensão na versão do artista, hoje com 82 anos. E agora vai ser tema de filme.

Em dezembro de 2024, "Homem com H", nova cinebiografia sobre a vida do autor, chega aos cinemas brasileiros. Será estrelado por  Jesuíta Barbosa, produzido pela Paris Entretenimento e distribuído pela Paris Filmes. A produção segue acompanhada pelo próprio Ney, que participa do desenvolvimento do projeto e das decisões referentes ao roteiro.

Nesta quarta-feira, 5, o cantor participou de um painel na Rio2C, um dos maiores eventos da América Latina para indústria da criatividade, para falar bastidores sobre o filme. "Sempre quis ser ator, minha onda era o teatro", revelou o artista. "Esse desejo foi muito útil para a cinebiografia. Eu fiz questão de ler 10 roteiros, quis me preparar para contribuir da melhor forma possível e, depois de muita conversa, entendi o principal: nada vai contar a vida de uma pessoa inteira. É um ponto de vista da vida de alguém".

Foto de "Homem com H", cinebiografia de Ney Matogrosso (Paris Entretenimento/Divulgação)

Cenas emocionantes — e verdadeiras

Quem tem curiosidade para conhecer mais detalhes sobre a vida de Ney Matogrosso terá à disposição um material bastante verdadeiro e coerente com a realidade. Nas palavras do próprio cantor: "Não tem problema ser um ponto de vista. A unica questão que coloquei foi que não poderia ter mentiras. Já ouvi coisas absurdas ao meu respeito e aquele é um espaço para a verdade, para sentir junto", pontuou ele.

Momentos marcantes da carreira do cantor, inclusive alguns bastante tristes, estarão na obra. Ney participou ativamente da produção, tendo ficado pelo menos 3 dias por 12 horas seguidas acompanhando todo o projeto.

"Vi uma em particular sobre uma cena sobre um dos meus parceiros que morreu de AIDS. Jesuíta representava eu chegando em casa, falando que meu exame havia dado negativo, e que não tinha explicação para aquilo estar acontecendo. Foi um momento difícil para mim", iniciou ele. "A reprodução ali na tela foi tão verdadeira que não posso dizer que eu chorei, as lágrimas pularam do meu olho sem controle. E isso é retratado em detalhes, eu fiquei com ele até o fim, até o último momento. Faz parte da vida".

Sem revelar maiores detalhes sobre a obra, Ney Matogrosso não falou sobre a possível presença de Cazuza no filme. Mas comentou sobre sua relação de amor e amizade com ele.

"Se ele [Cazuza] estivesse vivo, estaríamos amigos, como ficamos até o fim da vida dele. Nosso romance durou três meses, foi rápido, mas foi intenso. E ficamos muito amigos até o fim da vida dele. Eu ia massagear os pés deles, porque morávamos próximos e ele tinha dor nos pés", comentou.

Ney Matogrosso e Jesuíta Barbosa, que interpreta o cantor em "Homem com H" (Instagram/Reprodução)

Sucesso e autenticidade

Ney Matogrosso marcou a história da música popular brasileira (MPB) com sua voz única, em um dos álbuns mais reverenciados dos anos 1970: "Secos e Molhados". Hoje, mais de cinco décadas após a dissolução do grupo, as músicas ainda são ouvidas por gerações — inclusive as mais jovens. 

"Eu fiz muito teatro para sobreviver como artista em São Paulo, uma época que eu não tinha dinheiro. A primeira peça que eu fiz era um musical com 70 atores, adaptação d'Os Lusíadas. Meu papel era anunciar os acontecimentos cantando", compartilhou ele. "A banda era incrível, e eu ficava no escuro, e pensei se eu sabia dançar. Comecei a me mexer naquela música, entendi que mesmo não sendo dançarino, tinha essa maneira de me expressar. Entendi o que poderia ser a pessoa, o personagem do Secos e Molhados".

Depois de todo o sucesso, aos 82 anos, o cantor quer aproveitar as oportunidades que aparecem sem pressão. "Não tenho metas na minha vida, as coisas vão surgindo, os encontros vão acontecendo. Dentro do que me agrada, eu realizo. Eu vou indo, até onde vou chegar não sei", brincou ele. "Sei que marcou gerações, e eu tento sempre me manter coerente com tudo. Vejo vídeos de crianças dançando e cantando as minhas músicas, mesmo depois de tantos anos, é algo que me marca também".

Oportunidades, para ele, são maleáveis. Mas o que precisa permanecer, de toda a forma, é a autenticidade. "Não vão me encaixar nunca em um rótulo, uma caixinha. Minha busca constante é me manter sempre coerente com a minha própria história".

Apoio às causas LGBT+

Diante de uma história de vida complexa e longeva, Ney Matogrosso também pincelou parte das críticas que recebeu por não apoiar a causa LGBT+. Na visão dele, os posicionamentos são infundados.

"As pessoas dizerem que não defendem a causa é um absurdo. Eu fui a primeira pessoa a por minha a cara a tapa, ali, na frente de todo mundo, em uma época que tinha muito preconceito. Tinha uma censura com o escrito, com o que eu falava. Quando fui numa rádio, havia um cartaz na minha mesa dizendo que a rádio era responsável por tudo o que eu dissesse", argumentou ele.

Por outro lado, o cantor reconheceu que há uma visão diferente de como as pessoas da comunidade LGBT+ são vistas. "O mundo está mais preconceituoso, mais careta, mas tem uma força caminhando na direção contrária que não tem como ser detida. Eu tento ser coerente, dizer uma coisa e ser aquilo que eu mesmo disse. Nunca escondi nada de ninguém. É minha vida, eu tenho direito de vivê-la como eu bem entender, desde que não ofenda outras pessoas."

Longe da aposentadoria?

Aos 82 anos, Ney Matogrosso surpreende com os cuidados com a saúde física e mental. Ainda presente em festivais e shows solos, o cantor segue querendo se apresentar até quando for possível.

Questionado sobre quando pretende parar, o artista disse que a única coisa possível de impedi-lo é a morte. "Minha mentalidade aberta, não sou restrito a nada, e talvez isso seja um caminho que se abe na minha vida. Até a hora que eu for impedido pela morte, mesmo. Temos que contar com ela, não tenho problemas nenhum com isso. Eu olho para tudo com a maior naturalidade, é a única certeza que temos hoje. Espero chegar na hora tranquilo, sem temer de medo."

*A repórter viajou para o Rio de Janeiro a convite dos organizadores do Rio2C

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