Dia da Abolição da Escravatura: 5 livros para refletir sobre a data
A literatura é uma das formas de evidenciar a representatividade racial e acabar com estereótipos vinculados ao preconceito
Repórter de POP
Publicado em 11 de maio de 2024 às 08h53.
Última atualização em 13 de maio de 2024 às 13h36.
No dia 13 de maio, comemora-se o Dia da Abolição da Escravatura.A data comemora a assinatura da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que libertou os escravos em 1888. Mas não caracterizou, de fato, o fim dos efeitos da escravatura no Brasil.
A assinatura da lei foi um marco somente no papel. Na época,não foi formulada em conjunto de integração da população preta no Brasil, tampouco acompanhada por medidas que combatessem a descriminação racial. Hoje, a data é sinônimo de luta contra o racismo pelo movimento negro.
E em um mundo ainda tão imerso em desigualdades, a literatura é uma das formas de evidenciar a representatividade racial e acabar com estereótipos vinculados ao preconceito. É um espaço para experienciar vivências de diferentes pessoas, ver pelos olhos de inúmeros autores e se aprofundar em temas de grande relevância.
Por que o Dia Internacional contra Discriminação Racial é comemorado no dia 21 de março?Selecionamos, abaixo, cinco livros que refletem a escravidão no Brasil e os efeitos do racismo estrutural. Confira:
Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil
Autor: Beatriz Mamigonian
Sinopse: Em 7 de novembro de 1831, foi promulgada a lei que proibia a importação de escravos para o país e punia todos os envolvidos na atividade. O avanço legal se devia, ao menos em parte, à pressão exercida pela Coroa britânica. Como se sabe, o Estado brasileiro acabou se mostrando conivente com o tráfico ilegal de africanos e a escravização de suas vítimas nos anos seguintes. Apesar de ter tido impacto importante no avanço do movimento abolicionista, a imposição sancionada seria, no fim das contas, “para inglês ver”.
EmAfricanos livres, Beatriz G. Mamigonian toma a lei de 1831 como o eixo narrativo, ao qual se imbricam a análise da experiência dos ex-escravos, de sua administração pelo governo imperial e dos efeitos do contrabando. Baseado em pesquisa inédita, o livro avança até a campanha abolicionista na década de 1880, quando os militantes mais radicais forçavam o reconhecimento de todos os africanos ilegalmente escravizados como “africanos livres”.
Um defeito de cor
Autor: Ana Maria Gonçalves
Sinopse: Romance histórico que conta a história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens.
Cumbe
Autor: Marcelo D’Salete
Sinopse: Em "Cumbe", Marcelo D’Salete retrata de um modo fora do comum a luta dos negros no Brasil colonial contra a escravidão. O livro traz histórias em quadrinhos emocionantes, protagonizadas por escravizados, mostrando a resistência contra a violência das senzalas brasileiras. Cumbe, a palavra banto que dá nome à obra, é rica em sentidos: é o Sol, o dia, a luz, o fogo e a maneira de compreender a vida e o mundo. Também é um sinônimo de quilombo.
Torto Arado
Autor: Itamar Vieira Junior
Sinopse: Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social. Vencedor do prêmio Leya 2018. Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas ― a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.
A terra dá, a terra quer
Autor: Antônio Bispo dos Santos e Santídio Pereira
Sinopse: Contracolonização é o conceito-chave desta obra de Antônio Bispo, que contrapõe de forma desconcertante o modo de vida quilombola ao da sociedade colonialista. Com uma linguagem própria, de palavras "germinantes", o autor oferece um olhar urgente e provocador sobre os modos de viver, habitar e se relacionar com os demais viventes e com a terra. A partir da Caatinga brasileira, mais especificamente do Quilombo Saco Curtume, no Piauí, Bispo denuncia a cosmofobia – o medo do cosmos que funda o mundo urbano eurocristão monoteísta – e empreende uma guerra das denominações, enfraquecendo as palavras dos colonizadores. Desafiando o debate decolonial, compreendido por ele como a depressão do colonialismo, propõe a contracolonização, um modo de vida ainda não nomeado e que precede a própria colonização. Não se trata de um pensamento binário, mas de um pensamento fronteiriço e "afro-pindorâmico" para compreender o mundo de forma "diversal", integrado por uma variedade de ecossistemas, idiomas, espécies e reinos. "A terra dá, a terra quer" registra de modo inédito muitos dos saberes transmitidos pela oralidade por esse "lavrador de palavras" acerca do agronegócio, das cidades, das favelas, dos condomínios fechados e da arquitetura. Transitando por muitos mundos, Bispo semeia potentes traduções de questões cruciais para o nosso tempo como ecologia, clima, energia, trabalho, cultivo e alimentação. Diante da mercantilização da vida e dos saberes, este livro compartilha a força ancestral da circularidade começo, meio e começo.