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Vantagens e desafios de ser um multifranqueado

Em artigo, o consultor Marcelo Cherto fala sobre as vantagens e desafios únicos de operar várias unidades franqueadas

Marcelo Cherto
Marcelo Cherto

Consultor de Franquias

Publicado em 13 de agosto de 2024 às 07h07.

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No mundo do franchising, vem ganhando importância a figura do multifranqueado, aquele empreendedor ou empreendedora que possui e opera várias unidades franqueadas, sejam de uma única marca, ou de marcas diversas, sejam todas do mesmo ramo, ou de segmentos diferentes.

Ser um multifranqueado apresenta uma série de vantagens e desafios únicos, que diferem significativamente da operação de uma única unidade franqueada. A principal diferença - para o bem e para o mal - entre um franqueado de uma operação só e um multifranqueado está na escala e complexidade da operação.

Uma das principais vantagens de ser um multifranqueado é a possibilidade de diluir riscos e alcançar uma certa economia de escala. De forma geral, operar várias unidades permite que o dono negocie melhores condições com fornecedores, otimize a logística e dilua os custos fixos entre as várias operações, aumentando assim sua margem.

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Se as várias unidades forem de uma mesma marca, há a vantagem adicional para esse franqueado de poder atuar mais próximo ao alto comando da empresa franqueadora, sendo mais ouvido e até envolvido em certas tomadas de decisões estratégicas.

Por outro lado, operar várias unidades de marcas diferentes ajuda a diversificar os riscos. Se um certo ponto ou marca enfrentar dificuldades, é possível que as demais unidades compensem as perdas, gerando, assim, uma maior estabilidade financeira.

Multifranqueados em geral têm como implementar práticas operacionais eficientes que acabam por beneficiar todas as suas unidades, inclusive compartilhando melhores práticas, treinando suas equipes de maneira mais uniforme e desenvolvendo sistemas de gestão que têm o condão de aumentar a produtividade e a qualidade da operação nos vários pontos de venda.

Muitas empresas franqueadoras mostram uma certa preferência por trabalhar com multifranqueados experientes, o que lhes permite ocupar com maior efetividade os respectivos mercados de atuação. É bem mais provável que um franqueado que já opera, com sucesso, quatro ou cinco franquias numa mesma cidade alcance rapidamente o sucesso com a sexta unidade, do que alguém que vai implantar ali a sua primeira operação.

Num caso desses, é evidente que ser um multifranqueado bem-sucedido dá ao empreendedor acesso a novas oportunidades e territórios exclusivos.

Porém, também é evidente que gerenciar várias unidades é significativamente mais complexo do que operar uma só. Requer habilidades avançadas de gestão, uma equipe de apoio qualificada e sistemas eficazes para monitorar e gerenciar o desempenho de cada unidade. Quem já assistiu a algum malabarista fazer aquele truque de manter vários pratinhos girando no ar simultaneamente, há de ter uma noção que não é nada fácil.

Além disso, o investimento para se tornar um multifranqueado é consideravelmente maior do que o necessário para se implantar uma única franquia. Não só por conta dos custos de aquisição e implantação das várias unidades, como também pela necessidade de se investir em infraestrutura, em treinamento e na contratação de uma equipe de gestão centralizada, formada por gente de bom nível e bem capacitada.

A operação de várias unidades exige um envolvimento constante e a capacidade de dar respostas rápidas. Isso pode ser bastante desafiador, especialmente para franqueados que estão começando a expandir suas operações e ainda não contam com a equipe central do nível que necessitam, a cujos integrantes possam delegar muitas das funções e atividades.

Uma vez perguntei a um grande multifranqueado, àquela altura dono de cerca de 100 unidades, qual foi a fase mais desafiadora que ele havia enfrentado, no processo de crescimento de seus negócios.

Sua resposta me surpreendeu: ele disse que o mais difícil foi passar de quatro ou cinco lojas para quinze ou vinte. Porque, nas primeiras quatro ou cinco, ele cuidava pessoalmente de uma série de tarefas, das quais, com 15 ou 20, já não conseguia dar conta sozinho, mas, ao mesmo tempo, ainda não tinha sido capaz de montar a equipe dos sonhos, à qual pudesse delegar, sem preocupação, tudo o que não conseguia mais fazer.

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O tema vem se tornando de tal forma relevante que, nos EUA, onde há multifranqueados com faturamento anual superior a US$ 1 bilhão e até com ações cotadas em bolsa, acontece, uma vez por ano, a Convenção de Multi-Unit Franchises, realizada sempre em Las Vegas.

Trata-se de um dos eventos mais importantes para multifranqueados em todo o mundo, reunindo especialistas e gente do setor para discutir tendências, compartilhar melhores práticas e explorar novas oportunidades de negócios.

Aqui no Brasil, a presença de multifranqueados ainda é limitada, por uma série de fatores estruturais, culturais e econômicos que afetam nosso mercado de franquias, tais como a dificuldade de acesso a capital e a financiamentos a taxas compatíveis com a realidade dos negócios, a falta de gente de bom nível para formar equipes gerenciais competentes, a cultura de empreendedorismo individual, com o dono resistindo fortemente a delegar, por acreditar que outros “não farão as coisas tão bem quanto ele”, à nossa estrutura tributária perversa, que penaliza quem cresce e ultrapassa o limite do Simples e por aí vai.

Contudo, com o aumento da profissionalização no setor brasileiro de franquias, percebe-se uma tendência crescente de surgimento de novos e mais multifranqueados, especialmente entre aqueles com experiência prévia no setor e com acesso a capital de investidores individuais, family offices ou fundos de private equity.

Além disso, há empresas franqueadoras que buscam encorajar e incentivar seus franqueados mais bem-sucedidos a adquirirem as franquias já em funcionamento com desempenho abaixo do seu potencial e a implantarem mais unidades, oferecendo suporte adicional em gestão e até acesso a financiamento.

Com isso, é provável que vejamos, também aqui, um crescimento no número de multifranqueados, a exemplo do que já ocorre em países mais desenvolvidos.

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