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Rock Encantech compra Akropoli para crescer no varejo com open finance

Empresa de SP dedicada à inteligência do varejo assume startup catarinense focada em dados financeiros. A pauta não é mais só entender o que o cliente compra, mas como ele paga

Ricardo Toledo, da Akropoli, Carlos Formigari e Elinton Bobrik, da Rock Encantech: união de ciência de consumo e dados financeiros (Divulgação/Divulgação)

Ricardo Toledo, da Akropoli, Carlos Formigari e Elinton Bobrik, da Rock Encantech: união de ciência de consumo e dados financeiros (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 10h09.

Última atualização em 15 de dezembro de 2025 às 10h13.

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O varejo brasileiro vive uma corrida silenciosa por informação. A pauta não é mais só entender o que o cliente compra, mas como ele paga — e qual é a sua real capacidade financeira. Nesse cenário, cresce a pressão por dados que conectem consumo e finanças, base para crédito, ofertas e novos serviços.

A Rock Encantech, empresa de São Paulo que já opera um dos maiores ecossistemas de dados de comportamento do país, entra nessa disputa com força ao adquirir a Akropoli, startup catarinense de inteligência e infraestrutura de Open Finance, regulada pelo Banco Central.

A operação, cujo valor não foi revelado, amplia o alcance tecnológico da Rock Encantech e coloca a empresa em uma rota que mistura varejo, crédito e pagamentos. Para os varejistas, a promessa é acesso a uma base unificada que cruza comportamento de compra, localização e informações financeiras autorizadas pelo consumidor — algo que até agora ficava restrito a bancos e fintechs.

O movimento chega agora porque a combinação dessas bases se tornou viável. A Akropoli cresce cerca de 86% ao mês no acesso a dados financeiros, velocidade quase dez vezes maior que a média do mercado brasileiro.

Já a Rock Encantech monitora 130 milhões de consumidores e processa mais de 1,3 bilhão de transações por ano. Juntas, enxergam uma brecha para criar “um mercado novo”, como definem os fundadores.

A gente enxergou uma oportunidade gigante de juntar esse mundo de dados de consumo com o mundo de dados financeiros para gerar inteligência”, afirma Paulo Valadares, cofundador da Akropoli ao lado de Ricardo Toledo. “Esse volume de informação disponível vai criar um paradigma novo no mercado”, diz.

O futuro já começa a ser testado

Com 84 milhões de clientes ativos no Open Finance no Brasil, o setor vive seu primeiro momento de massa crítica.

A integração entre Rock e Akropoli pretende antecipar casos de uso como avaliação de crédito baseada em dados combinados, iniciação de pagamentos via Pix dentro do varejo e ofertas personalizadas segundo a capacidade financeira real do comprador.

A grande visão está em ter essa leitura holística do cliente e entregar valor que faça sentido no momento certo”, afirma Ricardo Toledo, cofundador da Akropoli.

As pessoas são bombardeadas por ofertas descasadas. Quando unimos ciência de consumo e dados financeiros, encontramos o que realmente importa para o cliente”, diz.

História da Akropoli

A trajetória da Akropoli nasce da experiência dos fundadores no mercado financeiro. Valadares fez carreira no Itaú, no banco IBI — criado originalmente pela C&A para operar serviços financeiros — e no Sicredi, onde liderou a área de crédito. Em 2020, já em Florianópolis, começou a estudar o impacto do Open Banking.

O estalo veio ao perceber que a regulação mudaria a forma como bancos e varejo avaliariam risco e ofertariam produtos. “Quando voltei de um seminário sobre Open Banking, vi que precisávamos mudar totalmente a estratégia. Era um novo paradigma”, diz. Ele chamou Toledo para empreender — decisão tomada “em 30 segundos”, como relatam.

Toledo, físico formado pela Unicamp, passou por modelagem de crédito e risco no Unibanco e abriu a operação de cartões do Itaú no México, experiência que define como sua “primeira startup”.

De volta ao Brasil, trabalhou com fidelização e mergulhou no ecossistema de inovação de Santa Catarina, participando de fóruns de Open Finance e criando o evento Fintech Trends.

A Akropoli nasceu com a missão de extrair valor dos dados do Open Finance. A startup participou do LIFT, laboratório de inovação regulatória do Banco Central, e foi finalista do Next–Fenasbac duas vezes. Hoje, processa mais de 12 milhões de transações mensais.

Como a Rock Encantech entra nessa história

A Rock Encantech já operava no extremo oposto: o varejo. Com dados de comportamento, CRM, retail media e analytics, atende empresas como Pague Menos, Assaí Atacadista, Arezzo&Co e Livelo. A empresa analisa um GMV anual superior a 310 bilhões de reais em compras identificadas.

A combinação com a Akropoli expande o alcance da Rock para dentro das jornadas financeiras. A empresa quer ajudar varejistas a operar serviços típicos de instituições financeiras: crédito, pagamentos, conciliação e prevenção à fraude.

O CEO da Rock, Carlos Formigari, reforça: “A união com a Akropoli permite integrar informações financeiras ao que já conhecemos sobre consumo e território. Isso cria novas formas de apoiar o varejo na oferta de serviços financeiros”, afirma.

A Akropoli passa a integrar o ecossistema Rock Encantech, mantendo time, sócios e autonomia operacional. Valadares e Toledo atuarão na integração tecnológica e no avanço dos produtos de Open Finance, IA, segurança e dados.

As primeiras entregas conjuntas estão previstas para o 1º semestre de 2026. Há pilotos em andamento para meios de pagamento dentro do Super App da Rock, conciliação avançada e antifraude combinando dados de consumo e infraestrutura transacional.

O que esperar dos próximos anos

O maior obstáculo não é só técnico. Unir comportamento de compra e vida financeira exige autorização do cliente, clareza de valor e uma mudança cultural no varejo, que historicamente opera com margens apertadas e aversão a risco financeiro.

Além disso, o setor começa a disputar território regulado, onde bancos têm décadas de experiência. Para competir, o varejo precisa provar que consegue equilibrar personalização, segurança e governança.

Toledo resume essa batalha: “O mindset de colocar o cliente no centro é o que determina se essas ofertas vão fazer sentido. Não é tecnologia pela tecnologia. É eficiência e relevância”, afirma.

Para os fundadores, a união com a Rock cria espaço para um novo tipo de ecossistema: um que conecta consumo, território e finanças em uma única camada de inteligência. Eles acreditam que isso pode redefinir crédito, preços, programas de fidelidade e até a lógica de risco no varejo.

Agora nosso esforço é dentro de um ecossistema maior, com uma visão conjunta para criar um paradigma novo no mercado”, diz Valadares.

O varejo brasileiro, que já adotou o Pix e abraça com rapidez tudo o que melhora conversão, pode ser o próximo terreno da disrupção financeira.

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