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Por que essa brasileira virou bilionária sem ser herdeira

De Joinville, Luana Lopes Lara já foi bailarina do Teatro Bolshoi e acaba de entrar para o clube dos mais ricos do mundo aos 29 anos

Luana Lopes Lara, a mais nova bilionária brasileira e COO da Kalshi (Edição EXAME)

Luana Lopes Lara, a mais nova bilionária brasileira e COO da Kalshi (Edição EXAME)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 18h09.

Última atualização em 4 de dezembro de 2025 às 15h03.

Aos 29 anos, a brasileira Luana Lopes Lara, bailarina de formação e matemática por escolha, se tornou a mais nova bilionária do mundo sem ser herdeira graças à participação que detém na Kalshi, plataforma americana de apostas em eventos do mundo real agora avaliada em US$ 11 bilhões.

Na prática, isso significa que a empreendedora de Joinville (SC) entrou para o clube global dos bilionários a partir de uma fortuna construída como self-made, termo em inglês usado para quem ergue o próprio patrimônio sem heranças familiares.

A nova avaliação da Kalshi foi impulsionada por uma rodada Série E de US$ 1 bilhão, anunciada nesta quarta-feira, 3, e elevou o valor de mercado da companhia para US$ 11 bilhões.

Com uma fatia estimada entre 10% e 15% da empresa — a chamada participação acionária, ou equity —, o patrimônio de Luana se aproxima de R$ 6 bilhões “no papel”, atrelado ao valor das ações, e não a dinheiro disponível em conta. Em outras palavras, a fortuna da executiva depende diretamente do desempenho futuro da Kalshi no mercado.

Esse tipo de riqueza só se converte em “dinheiro vivo” em um evento de liquidez — como a venda de ações, a aquisição da empresa por um grupo maior ou uma abertura de capital em bolsa, o famoso IPO, sigla em inglês para oferta pública inicial.

Até lá, o título de bilionária descreve o valor econômico da participação de Luana na companhia, e não um saldo imediato na conta bancária.

O que faz a Kalshi?

A Kalshi ocupa um nicho específico dentro do universo de apostas digitais, mais próximo do mercado financeiro tradicional do que das plataformas de bets, termo popular para casas de apostas esportivas.

O nome da empresa significa “tudo” em árabe — uma referência à ambição de transformar praticamente qualquer evento mensurável em um ativo negociável.

Na prática, a companhia funciona como uma espécie de bolsa de derivativos focada em contratos de eventos. Inflação, eleições e esportes são alguns dos temas das perguntas (como, por exemplo, "A bolha da IA vai explodir?", "Zohran vai ser eleito prefeito em Nova York?").

Na plataforma, os usuários negociam contratos baseados em perguntas de “sim” ou “não” sobre o futuro, e o preço de cada contrato varia conforme a probabilidade que o próprio mercado atribui a esse evento. Se o fato se concretiza, o contrato paga US$ 1; se não, paga zero.

Diferente de uma casa de apostas tradicional, a Kalshi é licenciada e regulada pela CFTC, agência americana conhecida como Commodity Futures Trading Commission, responsável por supervisionar o mercado de derivativos nos Estados Unidos.

Essa estrutura permite que a plataforma também funcione como ferramenta de gestão de risco. Um investidor preocupado com a possibilidade de recessão nos Estados Unidos, por exemplo, pode comprar contratos que pagam caso a economia americana desacelere oficialmente, compensando perdas em outras partes da carteira.

Nos últimos anos, a companhia passou a expandir de forma agressiva para o segmento de apostas esportivas, usando a infraestrutura regulatória já existente — hoje, esse braço responde por cerca de 80% do volume total negociado na plataforma.

Quem é Luana Lopes Lara

De Joinville para o mundo, Luana Lopes Lara cresceu dividindo o tempo entre as aulas de balé e a paixão pelos números.

Na adolescência, estudou na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, braço da companhia russa em Santa Catarina e, ao mesmo tempo, se dedicava a olimpíadas científicas.

Autodefinida como uma “nerd de matemática”, conquistou até medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia.

O domínio em exatas foi o passaporte para o MIT, o Massachusetts Institute of Technology, uma das universidades de tecnologia mais prestigiadas do mundo.

Lá, Luana se formou em Ciência da Computação e Matemática, dupla formação que combina programação com estatística avançada.

Foi também no MIT que conheceu o egípcio Tarek Mansour, com quem fundou a Kalshi em 2018, quando ainda estava na graduação, aos 22 anos.

Antes de mergulhar no empreendedorismo, Luana experimentou a lógica do mercado financeiro por dentro. Ela atuou em mesas de operações de grandes instituições de Wall Street, como a gestora Citadel, o fundo macro Bridgewater e a Five Rings Capital, casas que usam modelos matemáticos para tomar decisões de investimento.

A passagem por esse ambiente ajudou a moldar a visão de criar um “mercado de previsões” regulado, em que eventos do mundo real são tratados como ativos financeiros.

Hoje, Luana ocupa o cargo de COO, sigla em inglês para diretora de operações, responsável pela execução da estratégia da empresa no dia a dia.

Sob sua gestão, a Kalshi já movimenta mais de US$ 1 bilhão por semana.
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