Elon Musk, CEO da Tesla (TSLA34) (Patrick Pleul/Getty Images)
Após algumas semanas de incertezas, Elon Musk finalmente convenceu o conselho de administração do Twitter (TWTR34) a aceitar sua oferta.
A compra vai ser realizada até o final de 2022 e Musk vai se tornar assim o único proprietário do Twitter.
A rede social mais importante no âmbito da informação, com mais de 200 milhões de usuários ativos, vai sair da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).
Musk, empresário genial, visionário e muito habilidoso, ideologicamente liberal e libertário, alérgico as regras, já disse quer revolucionar a plataforma, eliminando todos os limites e restrições à liberdade de expressão, garantida pela Primeira Emenda da Constituição americana.
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Por isso, muita gente está se perguntando como será o Twitter "sob nova direção" do CEO da Tesla (TSLA34).
Os desafios e metas que ele propõe, pelo menos nesse momento, parecem muito ambiciosos e nada triviais.
Não por acaso, as reações à notícia do acordo de compra do Twitter foram fortes.
A liderança de Musk pareceu divisiva, com alguns usuários que já anunciaram que deixarão a plataforma por descontentamento.
Também não é por acaso que o próprio Musk, nos mesmos minutos em que o acordo foi oficializado, tuitou "Espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão".
Batalha pela liberdade de expressão
E é exatamente a liberdade de expressão a questão na qual Musk concentrou grande parte de sua campanha para a aquisição do Twitter.
"A liberdade de expressão é a base de uma democracia funcional, e o Twitter é o lugar digital onde questões vitais para o futuro da humanidade são discutidas", escreveu o fundador da SpaceX
Em suma, para Musk a rede social deverá, em primeiro lugar, mudar sua política em relação aos conteúdos publicados.
Seus críticos, ao contrário, acham que a liberdade de expressão deve ter limites, e que a rede social deve intervir contra difamação, discursos de ódio e notícias falsas, censurando essas mensagens.
Um capítulo espinhoso dessa novela pode ser o caso do ex-presidente americano Donald Trump, banido das redes sociais após os confrontos ocorridos em Washington em janeiro de 2021.
A pergunta que muitos se fazem é se o ex-presidente vai ter sua conta reativada.
Existe uma "resistência interna" a qualquer tipo de mudança, encabeçada por um grupo de funcionários do Twitter.
Eles já deixaram claro que não vão aceitar qualquer tipo de mudança, pois, sustentam, as decisões sobre as políticas da plataforma não são determinadas pelo conselho de administração, muito menos pelos acionistas.
Posição difícil de defender: quem manda em uma empresa é o dono, não seus funcionários.
O desfecho dessa história, muito provavelmente, será uma leva de demissões de quem não aceitar as mudanças.
Guerra contra as contas falsas
Outro capítulo aberto diz respeito às contas falsas (bots) e golpistas (scammers).
O Twitter está cheio de contas falsas, usadas para espalhar notícias falsas, mas também para configurar golpes reais.
Os golpes usando criptomoedas, por exemplo, são uma pedra no sapato da rede social.
E são um problema que afetou pessoalmente Musk.
O CEO da Telsa criticou repetidamente a falta de investimento da empresa para resolver esses problemas.
Disso vem sua promessa "vamos derrotar os bots ou morreremos tentando!", e "vamos autenticar todos os humanos reais".
Mas a autenticação dos usuários pode se tornar um problema importante.
Várias contas no Twitter usam o anonimato para postar conteúdo bombástico.
O exemplo mais impactante é o Anonymous, que já twittou uma mensagem eloquente dirigida a Musk: "Não nos obrigue a verificar nossas identidades como o Facebook faz, ou não estaremos mais no Twitter".
Portanto, como no caso da liberdade de expressão, esse novo rumo do Twitter de Elon Musk também corre o risco de se infringir com obstáculos importantes.
Twitter vai ter código aberto?
Outro ponto relevante nessa campanha de Musk para revolucionar o Twitter é melhorar a usabilidade da plataforma.
"Quero tornar o Twitter melhor do que nunca, melhorando o produto com novos recursos, tornando os algoritmos de código aberto para aumentar a confiança", disse Musk.
Isso pois os usuários de redes sociais frequentemente reclamam dos algoritmos que controlam suas vidas.
Mas os algoritmos não são o único problema.
Alguns usuários do Twitter preferem ver os tweets em ordem cronológica, outros em ordem de relevância.
Em suma, a usabilidade dos conteúdos é uma questão complexa.
E é por isso que Musk quer abrir o algoritmo para os usuários, tornando-o de código aberto.
Ou seja, todo o mundo vai poder entender como o Twitter seleciona as mensagens e os conteúdos que aparecem na tela.
Ele propôs essa mudança em uma pesquisa em seu próprio perfil do Twitter no dia 24 de março, seis dias antes de começar a escalada do controle da rede social.
Naquela ocasião, cerca de 83% de um milhão de usuários votantes disseram que sim, querem entender melhor sobre como esse código atua.
Em um TED Talk há algumas semanas, Musk disse que acha que os usuários do Twitter devem poder entender se um tweet foi rebaixado ou promovido no site, e qual a razão disso, para que não haja "manipulação nos bastidores".
Para o CEO da Tesla, as pessoas devem conhecer o código-fonte do Twitter para procurar erros e sugerir alterações e melhorias.
Mais um caminho complexo pela frente. Mas pode ser um passo histórico.
Botão Editar
Mas uma das primeiras novidades, porém, deve ser a chegada de um botão de edição.
Uma opção que vai permitir aos usuários editar um tweet já escrito, provavelmente apenas por alguns minutos após a publicação.
É uma mudança que muitos usuários do Twitter esperavam há muito tempo.
Mas também há muitos que pensam que essa novidade pode distorcer a rede social como a conhecemos.
Primeiro trimestre complicado
A compra de Musk chegou poucos dias antes da divulgação dos dados do primeiro trimestre de 2022, que, segundo os analistas serão negativos.
O Twitter não consegue aumentar o número de usuários há muito tempo. E isso acaba afetando os resultados da empresa.
Muito provavelmente o CEO da Tesla vai ter que desembolsar mais dinheiro para cobrir esses prejuízo, além dos US$ 44 bilhões já pagos para comprar a plataforma.
Mas Musk já deixou claro que não quer o Twitter como "fonte de lucros", mas para uma "volta à civilização" do ponto de vista da liberdade de expressão.
Em suma, a novela do Elon Musk no Twitter acabou de iniciar. Com certeza teremos capítulos muito intensos pela frente.