Licitação de Norte-Sul e Ferrogrão superestima demanda, diz Rumo
Ao apresentar interesse da companhia em antecipar a renovação da concessão, o executivo afirmou que os leilões da ferrovias não são atrativos
Reuters
Publicado em 23 de outubro de 2017 às 16h47.
São Paulo - Os leilões das ferrovias Norte-Sul e Ferrogrão, previstos para o início de 2018, não são atrativos, disse nesta segunda-feira o presidente-executivo da Rumo, Julio Fontana Neto.
"Estamos cumprindo obrigação de olhar, mas a questão econômico-financeira precisa de mais consistência, a demanda a nosso ver está superestimada", disse Fontana Neto a jornalistas.
Com 1,1 mil quilômetros, a Ferrogrão ligará produtores de grãos do Centro-Oeste ao porto de Miritituba (PA), escoando a produção a portos do Norte do país. E o trecho da Norte-Sul que o governo quer leiloar em 2018 tem cerca de 1,5 mil quilômetros entre Porto Nacional (TO) e Estrela d'Oeste (SP), ligando à malha paulista da Rumo, que leva até o Porto de Santos (SP).
Os comentários foram feitos durante apresentação da Rumo sobre interesse da companhia de antecipar a renovação da concessão da malha paulista, que termina em 2028. Uma renovação, prevista em contrato, elevaria a concessão por mais 30 anos.
Segundo executivos da Rumo, a renovação antecipada traria benefícios à companhia, que teria melhores condições de negociar contratos com clientes como as tradings que operam em Santos.
Não há previsão para quando o governo federal responderá se aceita renovar a concessão. No mês passado, o Ministério Público Federal pediu que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não renove antecipadamente a concessão de cinco ferrovias sem aval prévio do Tribunal de Contas da União (TCU) sem antes ter certeza de isso é melhor que fazer outra licitação.
Segundo o diretor de regulação e assuntos institucionais da Rumo, Guilherme Penin, a empresa tem tentado convencer o TCU de que a renovação antecipada seria benéfica para o país, porque os investimentos na malha ajudariam a acelerar o escoamento da produção do agronegócio brasileiro pelo modal ferroviário, mais eficiente do que o rodoviário.
Pelas contas da Rumo, hoje 70 por cento dos cerca de 35 milhões de toneladas da produção brasileira de grãos que fluem por regiões atendidas pela Rumo são escoadas por caminhões até os portos, com os 30 por cento restantes pela malha ferroviária.
"Essa equação deve se inverter, com cerca de 70 por cento escoado por vias ferroviárias até 2023", ano no qual Rumo estima que sua capacidade de transporte de carga deve subir para cerca de 75 milhões de toneladas, disse Penin à Reuters.
Nos últimos anos, a Rumo investiu quase 5 bilhões de reais, incluindo a compra de 150 locomotivas e 2,7 mil vagões, para ampliar sua capacidade de transporte na malha.
A estimativa da Rumo é de que isso ajudará nos próximos anos a reduzir em média 25 por cento o tempo médio de escoamento da produção entre Rondonópolis (MT) e o porto de Santos.
Alavancagem
Com uma combinação de aumento dos volumes e captação de recursos, a companhia vem reduzindo sua alavancagem financeira o que, segundo seus executivos, deve deixá-la pronta para novos investimentos ou elevar dividendos a partir de 2020.
Neste ano, a Rumo captou 2,6 bilhões de reais numa oferta subsequente de ações. Além disso, deve obter nas próximas semanas um empréstimo de cerca de 3,5 bilhões de reais do BNDES, referenciados na TJLP, recursos que serão usados em parte para desembolsos já feitos.
Com isso, a relação entre dívida líquida e Ebitda deve fechar 2017 ao redor de 2,5 vezes, ante índice de 4,3 vezes no fim de junho, disse o diretor financeiro e de relações com investidores da Rumo, Ricardo Lewin.
Na semana passada, a Rumo previu que seu Ebitda deve subir de cerca de 2,6 a 2,8 bilhões neste ano para 4,4 a 4,6 bilhões em 2020, enquanto o volume de investimentos deve diminuir de 2 a 2,2 bilhões para 1 a 1,3 bilhão no período.
A ação da Rumo caía 1,2 por cento às 15h48 na bolsa paulista, enquanto o Ibovespa tinha baixa de 0,5 por cento.