Luis Borba e Eduardo Zanardi, da SuperOpa: queremos manter um ritmo de crescimento de três a quatro vezes por ano (SuperOpa/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 11h25.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2024 às 17h40.
A história da SuperOpa pode ser contada a partir de diversas perspectivas. Tem a narrativa do trabalho de conclusão de curso que vira negócio, a busca por encontrar consumidores para produtos prestes a vencer e o desejo de combater a insegurança alimentar.
Mas até seis meses atrás era uma história de sobrevivência, quando os planos não batiam com os números. A startup terminou o ano com R$ 11,2 milhões em faturamento, 277% de crescimento sobre os números de 2022.
Antes de junho de 2023, boa parte desse dinheiro não estava na mesa. Agora, as projeções são ainda maiores: 329% de expansão e uma receita de R$ 48 milhões em 2024. Por trás, está a descoberta do mercado corporativo, no modelo B2B2C.
A empresa paulistana foi criada em 2020 apostando na tecnologia para conectar fabricantes de alimentos a pessoas com poucos recursos - ou mesmo com aqueles que só desejam economizar. Na lista, entram arroz, feijão, leite, iogurtes e tudo mais que pode ser encontrado em gôndolas de supermecados.
A startup está na mesma frente de negócio que a Diferente, que vende frutas e verduras fora do padrão considerado perfeito para a comercialização.
Na procura por combater o desperdícios de alimentos, a SuperOpa fecha acordo com indústrias alimentícias - como Nestlé, Unilever, Camil e Natural One -, e oferece produtos com data de vencimento próximo por valores até 70% mais baratos.
O negócio surgiu como TCC no curso de administração de empresas, em 2015. O idealizador Luis Borba até procurou outros caminhos para a sua carreira no mercado financeiro, mas foi convencido diante dos apelos de professores que orientaram o projeto. Um deles, Leandro Zanardi, entrou como sócio-fundador.
“Quando eu avisei para a minha família, eles me chamaram de louco. ‘Você está super bem e vai sair para vender comida vencida?’. Foi meio complicado, mas deu um estalo na minha mente e eu queria fazer a diferença, mesmo ganhando menos”, afirma Borba.
A startup ficou operacional no começo de 2020, com um modelo de marketplace em que supermercados, distribuidores e fábricas dispunham os seus produtos na plataforma. O negócio andou, mas como a logística dependia de cada fornecedor as reclamações dispararam. Em lojas de aplicativos, a avaliação da SuperOpa caiu para 3.
A solução foi criar um centro de distribuição próprio e fazer o serviço de ponta a ponta, do armazenamento dos produtos até a entrega aos consumidores. “Agora, melhorou bastante, estamos em 4.1”, diz Borba. O movimento demandou, porém, mais investimentos, estrutura e pessoas, fugindo da expectativa inicial de criar um negócio com poucos ativos.
O crescimento acompanhou a mudança, mas as margens espremidas mal deixavam o negócio de pé. Em 2023, projetaram R$ 15 milhões em receita. A realidade se fez presente. As compras dos mais de 60.000 usuários da plataforma diminuíram, assim como o otimismo dos fundadores.
Foi quando começaram a olhar para o mercado de benefícios corporativos e para os vales e cestas que as empresas entregam aos funcionários, atendendo às exigências do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador).
“Com os R$ 180 que esse profissional recebe de vale-alimentação, ele consegue levar o equivalente a R$ 250 a R$ 300”, diz Borba.
A startup fecha acordo com as empresas, que passam a disponibilizar o benefício para as compras dos usuários na plataforma . Os trabalhadores ainda conseguem personalizar alguns itens de acordo com os seus gostos - o que o modelo de cesta tradicional não permite.
Assim, nasceu o FoodPass, uma espécie de Gympass da alimentação. O modelo foi testado nos últimos seis meses com 3.000 usuários de cinco empresas e já representa 70% do faturamento da SuperOpa.O foco da nova estratégia está nos trabalhadores de fábricas, metalúrgicas empresas de ônibus, hospitais e escolas, com ganhos em torno de três salários mínimos.
A guinada permite à empresa ter uma receita recorrente e também diminuir os gastos logísticos, com as entregas das cestas em um mesmo lugar. Os efeitos foram sentidos de imediato e a startup chegou ao breakeven no último trimestre de 2023.
“Foi a primeira vez na minha vida que eu tive facilidade para vender o produto porque de 2019 até agora tinha sido sempre um processo pesado para conseguir fazer um negócio chegar ao ponto de equilíbrio”, diz Borba.
Até por isso, a divisão irá concentrar os esforços a partir de agora. Segundo Borba, a startup já tem uma cartela contratada de 22.000 funcionários para incorporar ao modelo nos próximos meses. Daí, a expectativa de triplicar o faturamento.
Para conseguir embarcar esses novos clientes e acelerar o modelo, os sócios estão abrindo uma captação de R$ 800.000 em venture debt, modalidade de emissão de dívida. A oferta está sendo estruturada pela SMU Investimentos e a expectativa é, em uma segunda fase, tokenizar os ativos e listá-los na estar finance, empresa criada para atuar mercado secundário de startups.
“Como as contas estão se pagando, nós achamos que não fazia sentido a captação com equity”, afirma Borba. Desde que entrou no mercado, a SuperOpa recebeu apenas um aporte seed de R$ 8,2 milhões. O dinheiro veio dos fundos SMU Investimentos, Bossa Nova Invest, Google for Startups e também de um family office.
O valor será usado para melhorar o mix de produtos oferecidos aos clientes, aumentar o time de vendas, ajustar a infraestrutura de tecnologia e abrir mais canais de contato com as áreas de recursos humanos das empresas.
O objetivo é arrumar a casa para uma futura captação série A, estimada para o segundo semestre deste ano. “Nós queremos chegar capitalizados em 2025 e com capacidade para investir esses recursos, em busca de manter um ritmo de crescimento de três a quatro vezes por ano”.