Ezra Kebrab, CEO da Caliza: Há uma grande lacuna de pagamentos rápidos nas transações transfronteiriças (Caliza/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de julho de 2024 às 10h59.
Última atualização em 15 de julho de 2024 às 16h00.
O sangue da fintech Caliza é americano, mas o Brasil é o único país em que a startup está em operação. De olho em soluções de pagamentos instantâneas, como o PIX, a proposta da startup é oferecer uma plataforma white label para que bancos e fintechs disponibilizem contas internacionais aos seus clientes.
O modelo da API, a interface que permite a integração entre os sistemas, foi construído ao longo dos últimos 3 anos e entrou em operação nos últimos meses de 2023. Para a estruturação, a startup contou com uma captação de R$ 30 milhões, em rodada seed liderada pela Better Tomorrow Ventures e pela Abstract Ventures. O dinheiro chegou em 2021, mas foi anunciado apenas no ano passado.
Após os primeiros meses de operação, a startup tem novos recursos em caixa. Com um pré-Série A, levantou R$ 45,7 milhões (US$ 8,5 milhões). O investimento foi liderado pela Initialized Capital, um fundo com mais de US$ 3,2 bilhões sob gestão.
A rodada também contou com a participação da New Form Capital, Abstract Ventures, Class 5 Global, Quona, Kraynos Capital, Digital Currency Group e ainda dos investidores-anjo Doug Scherrer, CFO do Nubank, e Lucas Lima e Alex Liuzzi, da Remessa Online.
“Uma boa parte dos novos fundos que levantamos será usada no Brasil para o desenvolvimento de produtos para empresas envolvidas em comércio, manufatura, importações e exportações, bem como para intensificar nossas operações bancárias”, afirma o americano Ezra Kebrab, CEO da Caliza, que vive no brasil desde abril de 2023.
De acordo com o empreendedor, a plataforma caminhou para um volume de processamento anualizado em torno de R$ 4,9 bilhões, com operações que passam por pagamentos a fornecedores e financiamento comercial, gestão de tesouraria e liquidação de comerciantes.
Com a inclusão de novos serviços, a startup quer ir além e ocupar espaço no mercado de importações e exportações. “É um ótimo momento para capacitar empresas no Brasil, onde o dinheiro em espécie desapareceu nos últimos quatro anos. Há uma grande lacuna para que a mesma experiência ocorra nas transações transfronteiriças. O Brasil teve um crescimento comercial incomparável nos últimos anos, incluindo as exportações de soja, ferro e milho, crescendo como um grande player no cenário mundial”, diz Kebrab, que se inspirou em questões familiares para a criação da startup.
O empreendedor americano é filho de imigrantes de imigrantes da Etiópia e da Eritreia, e nasceu e cresceu em Washington DC. Ele explica que, assim como em São Paulo há a maior comunidade de japoneses fora do Japão, a capital dos Estados Unidos tem a maior comunidade de etíopes fora do país. “Tive a sorte de morar em uma cidade cosmopolita com muitas oportunidades e, ao mesmo tempo, estar envolta de amigos e familiares descendentes de africanos”, diz.
Já maior, ele foi para Nova York estudar engenharia em Columbia, onde teve a primeira experiência e a compreensão de que queria trabalhar com pagamentos.
“Meu pai já tinha experiências de pagamento quando precisava enviar dinheiro para os familiares na Etiópia, mas os meus primeiros problemas surgiram quando fui morar em Nova York”, afirma. “O meu irmão me mandou US$ 100 uma vez, mas o dinheiro só entrava na conta sete dias depois. Demorava sete dias para pagar. Pensei que precisava solucionar isso”.
Quando saiu da faculdade, trabalhou em uma startup e, nos últimos quatro anos, na Visa. Por lá, liderava o programa de aceleração da empresa projetado para ajudar fintechs a lançarem novas soluções globais de pagamento. Nesse tempo, ele descobriu como era difícil a jornada para as empresas entrarem em outros mercados, principalmente devido à falta de acesso a contas globais.
A soma das experiências deu o clique necessário para o desenvolvimento da Caliza.
A escolha do Brasil como primeiro mercado da startup aconteceu quase que automaticamente, considerando que o processo de pagamento aqui é bem avançado. “O Pix é uma das coisas mais impressionantes que vi. Por aqui, quase todos têm acesso a pagamentos instantâneos. Já é possível dar o próximo passo”, diz.
E o próximo passo, na visão de Kebrab, é permitir que bancos tenham serviços de conta internacional, um serviço em alta por aqui. Caso de empresas especializadas como a Nomad e a Revolut, ou bancos como Inter e BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME).
“Abrir uma conta em dólar fora dos EUA, é um processo caro e complexo, dificultando o acesso deste tipo de serviço para pessoas físicas ou pequenas empresas”, diz. “Em muitos casos, os bancos locais fornecem somente contas em dólar para multinacionais ou clientes de patrimônio privado com um determinado capital investido. Como resultado, empresas brasileiras e os indivíduos excluídos desses produtos globais pagam um preço substancial pelo acesso a comerciantes e serviços internacionais”.
Além da oferta de novos produtos para o mercado nacional, a startup trabalha com a abertura de uma operação até o fim deste ano no México, outro gigante na América Latina e colado nos Estados Unidos.