Ficar sem bateria virou um problema estrutural em bares, academias, clínicas e shoppings. Não é moda. É hábito. O celular parou de ser acessório e virou infraestrutura básica da vida urbana.
É nesse cenário que opera a Santa Carga, rede de totens carregadores com wi-fi marketing que acaba de completar cinco anos de franchising com 1.000 unidades ativas no Brasil. A empresa projeta crescimento de 23% em 2025 e faturamento acumulado de 65 milhões de reais entre 2025 e 2026.
Estamos contando essa história agora porque o marco de 1.000 unidades não é trivial no franchising brasileiro. Segundo a Rizzo Franchise, apenas 6,7% das franquias sobrevivem após dois anos de operação. A Santa Carga atravessou esse período crítico e agora mira 1.300 unidades em 2026.
“Produto bom não se vende sozinho. E não adianta ter um bom produto se quem compra não consegue ganhar dinheiro com ele”, afirma Rafael Soares, sócio fundador da Santa Carga.
O plano para o futuro é crescer sem inflar a estrutura, reforçando a base instalada, ampliando a venda de mídia local e usando Inteligência Artificial como apoio direto ao franqueado a partir de 2026.
Um setor que cresce, mas elimina rápido
A Santa Carga nasceu em 2019 e optou por um caminho pouco comum. Um modelo autônomo, sem funcionários, com investimento inicial de 19.900 reais. Cada franqueado é dono de um totem e responsável por instalar o equipamento, vender mídia local e gerir até 40 anunciantes por unidade.
“Franquia quebra por dois motivos: falta de caixa e falta de direção. No começo, a gente também subestimou isso”, diz Soares. “O que mudou foi assumir que o franqueado não pode ficar sozinho.”
Hoje, a franqueadora atua de forma mais próxima nos primeiros meses, considerados os mais críticos para ativação, vendas e geração de recorrência.
Onde o modelo ganha escala — e onde trava
O gargalo atual da Santa Carga não é demanda por franquia. É execução na ponta.
“Hoje não falta gente querendo entrar. O gargalo real está em escolher bem o ponto e fazer o básico bem feito no comercial”, afirma o fundador.
O crescimento recente da rede vem menos da abertura de novas unidades e mais da própria base instalada. A estratégia passou a priorizar a venda de mídia nos totens já em operação e a expansão dentro da mesma cidade, com modelos menores, como o Compacta S.
Esse movimento reduz custo, aumenta margem e diminui a dependência de novos franqueados para sustentar o crescimento.
O desafio de vender os 40 anúncios
Cada totem comporta até 40 anunciantes, com ticket médio em torno de 250 reais por mês. Não falta mercado, segundo Soares. Falta foco.
“O erro normalmente acontece quando o franqueado tenta vender para todo mundo ao mesmo tempo”, diz. “O que funciona é atacar um nicho por vez.”
Clínicas, academias, óticas, imobiliárias. A lógica é repetir discurso, entender a dor do segmento e ganhar escala local. “Quando o franqueado entende que não está vendendo publicidade, mas uma solução local pensada para aquele negócio, tudo flui melhor”, afirma.
IA deixa de ser suporte e vira braço do franqueado
A Santa Carga já usa Inteligência Artificial para tirar dúvidas e organizar informações internas. A virada, segundo a empresa, começa em 2026.
A proposta é que a IA atue como apoio direto à operação: ajuste de pitch por nicho, criação de listas de prospecção, organização de follow-ups e orientação comercial básica.
“A ideia é diminuir a distância entre quem sabe executar e quem está começando”, afirma Soares. “A IA encurta a curva, reduz erro e dá mais segurança.”
Crescer 23% é sustentável?
Para o fundador, sim — desde que o crescimento não seja vazio.
“O Brasil está vivendo uma mudança de era. As pessoas querem mais renda, mas também mais tempo e autonomia”, diz. “Agora, crescimento só é sustentável se for bem feito.”
O maior risco para 2026, segundo ele, não está no mercado externo, mas dentro da própria operação. Relaxar critérios de entrada, falhar na implantação ou ignorar sinais de insatisfação da base são os pontos de atenção.
“Crescer por crescer qualquer empresa consegue por um tempo”, afirma. “Crescer com gente real prosperando na ponta é o que faz o modelo durar.”
Da praia de Copacabana aos 1.000 totens
A trajetória de Rafael Soares ajuda a explicar o desenho do negócio. Filho de um soldador e de uma dona de casa, começou a trabalhar aos 12 anos. Passou por feira, praia, escritório, lan houses, bar, informática e exportação de açaí.
A virada veio após um prejuízo em um bar na Baixada Fluminense, quando um celular de cliente foi danificado durante uma recarga improvisada. O problema virou protótipo. O protótipo virou produto. O produto, franquia.
“Eu sabia que, se seguisse a vida de CLT que vi meu pai ter, minha vida nunca mudaria”, relembra Soares. “Empreender foi uma necessidade antes de ser uma escolha.”
Cinco anos depois, a Santa Carga opera em todos os estados do país, com 1.000 unidades ativas e a meta de chegar a 1.300 em 2026. Um teste claro para o franchising de baixo custo em um país que quer empreender, mas não pode errar muito.
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