Contra o desperdício de alimentos: startup Mercado Único capta R$ 2 milhões com TechStars e Strive
Em operação desde o ano passado, a Mercado Único conecta indústrias de alimentos e bebidas a pequenos e médios varejistas
Repórter de Negócios
Publicado em 28 de março de 2024 às 08h59.
Última atualização em 28 de março de 2024 às 15h00.
A humanidade desperdiçou o equivalente a 1 bilhão de refeições por dia em 2022, revelou estudo divulgado nesta quarta-feira, 27, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Um número que, segundo o próprio órgão, pode ser muito maior. Do outro lado desta história, 800 milhões de pessoas sofrem de fome.
Esses são alguns dados com os quais Leonardo Mencarini e Lucas Rolim começaram a conviver nos últimos anos. Os sócios se conheceram em 2022 durante um curso na universidade de Stanford e uniram as experiências em consumo e tecnologia.
Da parceria entre o advogado brasiliense Mencarini, que tinha acabado de vender a sua marca de vinhos, a Veroni, com o carioca Rolim, mestre em engenharia da computação e ex-Hurb, surgiu a Mercado Único, em operação desde o segundo semestre do ano.
Como funciona o negócio
A startup usa dados e inteligência artificial para evitar que produtos entre alimentos e bebidas perto da validade tenham como destino o descarte.Conectada a grandes fabricantes de alimentos, a Mercado Único faz o monitoramento dos estoques de produtos, estrutura estratégias de precificação e costura a ponte com pequenos e médios mercados, redes de hoteis e restaurantes.
“Hoje, quando há excedente de estoque, além de não gerar uma receita, há um custo para as indústrias. Nós ajudamos a gerenciar esse estoque excedente que gira em torno de 3 até 8% de tudo que é produzido”, afirma Mencarini, CEO da operação.
Aos pequenos e médios compradores, os produtos podem ficar entre 20% e 60% mais baratos, a depender de fatores como demanda, prazo de validade e volume. “Isso permite que o consumidor final, que não é o nosso cliente direto, tenha acesso também a produtos mais em conta e possa experimentar itens que não estariam dentro do orçamento”, diz.
Pelo lado da indústria, o modelo ainda ajuda a colaborar com índices de sustentabilidade. Segundo o relatório da ONU, citado acima, o desperdício de alimentos produz cinco vezes mais emissões de CO2 do que o setor da aviação e requer grandes áreas de terra onde são cultivados alimentos que não são consumidos.
A Mercado Único se junta a outras startups que buscam conter o desperdício de alimentos. Casos como o da Diferente, que vende frutas e verduras fora do padrão considerado perfeito para a comercialização, e da Super Opa, com um modelo de ofertas de produtos perto da validade e foco no consumidor final, a partir de uma estrutura B2b2C.
Quais são os próximos passos do negócio
Com poucos meses de rodagem, a startup, em operação por regiões mais concentradas no centro-oeste e sudeste, está anunciando o seu primeiro aporte, uma rodada pré-seed de R$ 2 milhões.
O dinheiro veio da aceleradora americana TechStars e da brasileira Strive, fundada por Tiago Gali, do C6 Bank, e por Eduardo Casarini, da Flores Online, além de um conjunto de investidores-anjo.
A movimentação garantiu a participação dos sócios no programa de aceleração da TechStars, nos Estados Unidos. “Eles estão nos ajudando a ter uma visão global do desperdício de alimentos e nos conectando com mentores e investidores americanos”, afirma Mencarini.
Com a entrada do dinheiro, os sócios irão reforçar o time de tecnologia e comercial. Até o final do ano, a ambição é chegar em até 10 indústrias como parceiras, entrar nos estados do Nordeste e em mais de 2.000 compradores, entre pequenos mercados e redes.
Pelos cálculos da startup, na equação final, esse números representariam 600 toneladas em quantidade de alimentos e bebidas recuperados. “No ano que vem, nós queremos transacionar 50 milhões de reais”.