Comp, o banco de dados dos salários, capta R$ 14 milhões com Kaszek e Canary
Startup brasileira desenvolveu plataforma com informações sobre salários e benefícios em tempo real; objetivo é ajudar companhias a definirem melhor suas estratégias de remuneração
Repórter de Negócios e PME
Publicado em 28 de março de 2023 às 09h00.
Última atualização em 28 de março de 2023 às 10h30.
Em meio à ressaca global do venture capital, uma startup de origem brasileira tem grandes feitos a celebrar. A Comp, plataforma de pesquisas sobre remuneração salarial, anunciou uma captação de 14 milhões de reaisnesta terça-feira, 28.
A rodada — a primeira envolvendo a empresa — foi liderada pela Kaszek, com participação dos fundos Canary, Norte e 1616, além de 40 investidores anjo que também são executivos de empresas americanas e startups brasileiras como Nubank, Creditas, General Atlantic, Gusto, Knoetic, Pipo Saude, Qulture Rocks e Caju.
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Quem são os empreendedores
A startup de pesquisas de remuneração é, na realidade, a segunda tentativa empreendedora dos jovens Christophe Gerlach e Pedro Bobrow, que se conheceram durante o período de estudos em universidades de Nova York, nos Estados Unidos. Juntos, eles fundaram uma empresa de delivery de comidas dedicada a entregas de refeições para outros estudantes da região. O propósito era auxiliar jovens com pouco ou nenhum tempo para cafés da manhã reforçados antes das aulas.
O perfil operacional do negócio logo fez com que Gerlach e Bobrow decidissem passá-lo adiante. Em 2020, a startup foi vendida. Com a aquisição do negócio após dois anos de operação e a graduação na universidade, Gerlach passou a trabalhar na General Atlantic, uma das principais firmas de investimento em startups do mundo.
Lá, passou dois anos dedicado exclusivamente ao setor de HRTechs, avaliando as ideias mais inovadoras de negócio e também com mais relação às tendências ligadas ao futuro do trabalho. “Foi uma ótima experiência. Discutíamos sobre ideias, inovações e tendências diariamente. Isso trouxe muito fôlego criativo”, conta Gerlach, em entrevista à EXAME.
Como surgiu a Comp
Em meio às discussões e efervescência de ideias geradas por inúmeras startups de recursos humanos emergentes nos Estados Unidos, Gerlach percebeu uma ineficiência compartilhada entre a maioria das empresas de tecnologia do Vale do Silício, e não apenas as HRTechs: os salários dos talentos que poderiam dar conta de toda essa revolução na indústria estavam sendo decididos com base em achismos.
De acordo com os fundadores, era comum que líderes de RH não tivessem acesso a informações atualizadas sobre o pacote de benefícios oferecido aos funcionários. “Reconhecemos que isso era um risco competitivo. Decisões estratégicas como a média salarial, o tamanhos dos times e benefícios extras oferecidos eram tomadas com base em achismos”, diz.
Segundo o CEO, o processo de definição de salários e benefícios — que passa, ainda, por pesquisas densas de mercado — leva em torno de 18 meses, o que torna o resultado final defasado e não condizente com a realidade. Com a Comp, a proposta é reduzir esse tempo a ínfimos minutos.
Os empreendedores se mudaram para o Brasil para fundar a Comp em julho de 2022. A ideia era trazer inovação de Recursos Humanos para a América Latina, mercado considerado estratégico por eles.
“Queremos criar uma fonte de verdade. Um lugar único onde empresas de qualquer porte possam retirar informações concretas para basear a atuação e decisões estratégicas do negócio”, explica Gerlach.
O que faz a empresa
Em essência, a Comp se propõe a ser uma fonte de informações real e gratuita para empresas de todo o Brasil. Com uma plataforma digital, a startup disponibiliza umabase de dados sobre remuneraçãoconstruída a partir de informações retiradas das próprias empresas usuárias. Atualmente, a Comp tem 350 clientes. Entre eles, companhias como Raízen, Creditas, Neon, Hotmart, Picpay, Dr. Consulta, SumUp, Loft, Gupy e iFood.
“Estimamos que cerca de 60% dos gastos das empresas estão relacionados à remuneração de seus funcionários. O que queremos fazer é permitir que elas utilizem isso à seu favor, e de forma eficiente”, diz Pedro Bobrow, cofundador da Comp.
Na visão dos dois, a falta de informações segmentadas e atualizadas de salários e benefícios,é uma ameaça à competitividade dos negócios, e também uma fragilidade nos quesitos atração e retenção de talentos, especialmente para cargos de tecnologia.
Na plataforma da Comp, é possível consultar informações sobre remuneração, remuneração variável e benefícios com base nos seguintes filtros
- Cargos e níveis;
- Valor por benefício;
- Tipo de fornecedor;
- Indústria;
- Número de colaboradores;
- Localização da empresa
Também é possível criar tabelas salariais personalizadas com base em grupos personalizados, estratégia interna, remuneração dos colaboradores, e outras considerações.“Quanto maior o número de empresas dispostas a compartilhar dados conosco, mais completo será o nosso produto”, diz.
Como a empresa vai crescer
Além da plataforma gratuita, a Comp também está desenvolvendoprodutos adicionais com algum potencial de monetização para a startup. Um exemplo está nastabelas salariais e produtos de análise de remuneração daconcorrência —o primeiro deles já tem seus primeiros clientes pagantes.
“Primeiro, queremos ser uma base de informação gratuita. Depois,a intenção é ser a fonte de dados analíticos que ajudará empresas em suas estratégias de remuneração com relatórios elaborados e estratégicos”, diz o CEO.
Com o aporte, a Comp pretende expandir sua plataforma e levá-la a outras indústrias do país. “Queremos ser a principal fonte de informações salariais do Brasil, e não faremos isso sem crescer a nossa base de dados. Para isso, queremos ter mais e mais clientes”, conta.