Lupércio Moraes, CEO da Sorvetes Rochinha: “Devemos comercializar 1 milhão de litros de sorvetes neste ano” (Sorvetes Rochinha/Divulgação)
Repórter
Publicado em 13 de novembro de 2023 às 14h59.
Última atualização em 13 de novembro de 2023 às 17h29.
Muitos negócios acabam sendo prejudicados pelo calor excessivo que chegou antes mesmo do verão, mas não é o caso das empresas de sorvete. A Sorvetes Rochinha, por exemplo, desde o início de novembro até esta segunda-feira, 13, vendeu uma média de 200% a mais em comparação ao mesmo período do ano passado, afirma Lupércio Moraes, CEO da marca.
“Em setembro deste ano vendemos 350% a mais do que em 2022, e com essa segunda onda de calor neste mês já tivemos um aumento de 200% nas vendas, em relação ao ano passado.”
Os crescimentos trazidos com essas ondas de calor são ótimos para o faturamento da marca, mas também desafiador para a gestão, diz o CEO, que afirma que o setor de sorvetes exige um planejamento olhando os resultados de longo prazo.
“É difícil dirigir a indústria deste setor. Se você não tiver dados históricos acumulados de longo período, você se engana no planejamento. As ondas de calor geram um aumento absurdo de vendas muito momentâneo, ainda mais no nosso caso, em que 75% das vendas são por impulso. Como cadeia de sorvete aproveitamos o máximo possível.”
Por outro lado, se for uma onda de calor muito prolongada, o CEO afirma que as vendas crescem de uma maneira tão absurda que não tem cadeia de produção e logística para dar conta. “Se olhar para o ano passado, por exemplo, e para as vendas de 350% em setembro deste ano, é um resultado estrondoso, porque como você estoca, compra matéria-prima e administra a frota de caminhões com essa demanda tão alta?”.
Para atender esse mercado que é volátil por causa do clima, o CEO afirma que uma das estratégias é acompanhar e acreditar nas previsões do tempo e ter uma boa frota disponível nas regiões com mais demanda.
“Nos aprofundamos muito nessa questão meteorológica. Por exemplo, sabemos que a cada 7 e 8 anos é um ciclo normal que o El Niño chega. Pegamos isso logo que chegamos na companhia em 2014,” diz Moraes.
Como o Brasil está intimamente ligado a questão de clima, toda segunda-feira, o CEO realiza uma reunião online com todos os líderes, como o da indústria, da logística, o de compras etc.
“Sempre avaliamos onde tem risco de falta de produto, se tem algum problema de abastecimento na cadeia ou crescimento de vendas. Fazemos isso desde a pandemia e está dando certo.”
Além da avaliação interna e do acompanhamento do tempo, o CEO diz que é muito importante que os varejistas acompanhem as variações climáticas para que também não impactam a cadeia logística em tempos de pico.
“Nesse ano o calor chegou muito cedo, tivemos que contratar gente de última hora, mobilizar frotas de caminhões, mas tem coisa que não conseguimos fazer de um dia para o outro, e aí que entra o varejista também. O dono da padaria, por exemplo, tem que acreditar na previsão do tempo que é passada na TV. Metade deles não acreditam e só compram quando a onda chega, e ficam pedindo via WhatsApp uma demanda que acaba gerando um colapso na logística,” diz Moraes.
O sistema é simples: ou você está estruturado ou você perde vendas, diz o CEO. “No caso do sorvete, a venda que você deixou de fazer hoje, você não vai conseguir fazer amanhã. Ou seja, é venda perdida, não volta. Amanhã você não tomará dois sorvetes, porque não tinha o que você queria hoje.”
Além do clima e do perfil de produto de consumo imediato, o CEO afirma que o setor de sorvetes é uma cadeia muito específica, considerando também a forma como o produto é transportado:
“Os caminhões que transportam sorvetes só levam esse tipo de produto, porque precisam chegar na temperatura de menos 35 graus, não é qualquer caminhão que tem essa estrutura, logo você também não acha esses caminhões tão fácil de última hora. É preciso ter uma infraestrutura que o permita operar em alta demanda quando vem esse tipo de pico de calor acontecer.”
Esse investimento em estrutura é complexo, uma vez que a La Niña durou três anos, 20/21/22, e foi a mais longa da história. “Como manter essa frota especial de sorvetes por três anos com uma produção abaixo do pico? É uma equação complexa,” afirma o CEO.
Sobre o estoque, o CEO afirma estar abastecido para atender as demandas do calor que promete ser histórico no Brasil. “Já era esperado um ano de El Niño forte, quem apostou nessa informação está abastecido, que é o meu caso.”
Os resultados da companhia comprovam essa preparação para este calor, apresentando crescimento desde a primeira onda em setembro e agora em novembro. “Essa segunda onda que começou agora em novembro deve durar, segundo estimativas meteorológicas, até março e abril deste ano. Quem acredita nisso e tem capital, conseguirá surfar melhor esse tipo de situação,” afirma o CEO.
Após 40 anos no mercado, a Sorvetes Rochinha ganha uma nova logomarca, o objetivo: expandir os negócios para além do litoral paulista, onde a empresa nasceu.
“Milhares de paulistas passaram a juventude no litoral norte e fizemos história nessas vidas há 40 anos, principalmente na grande SP e no interior. Mas conforme fomos penetrando em outros estados, sentimos a necessidade de contar não só a história que ficou marcada com o sorvete nas férias em São Paulo, mas também de fazer histórias em novos lugares,” diz o CEO.
Além de tornar a marca mais nacional e menos regional, a ideia da nova logomarca é transmitir o amor pelo sorvete que busca marcar novos momentos em família e com amigos.
“Criamos um elemento que são 2 picolés que formam um coração e queremos com ele mostrar o amor pelo sorvete, além de ser a marca que estará nas histórias das novas regiões.”
Além de São Paulo, a Sorvetes Rochinha está expandindo seus negócios para a região Sul do país, especialmente no Paraná e Santa Catarina. São cerca de 30 caminhões por dia que distribuem sorvetes para São Paulo e Paraná.
“Entregamos por dia cerca de 2.400 caixas de sorvetes e 35 mil picolés no varejo, em 2 mil pontos na Grande São Paulo, em 1.200 pontos no interior paulista e em 200 pontos no Paraná,” diz o CEO.
Para diminuir os efeitos da pandemia, que foram grandes no setor, o CEO afirma que como indústria a Sorvetes Rochinha deixou de cobrar os royalties (uma taxa regulamentar que a franqueadora recebe do faturamento da franquia) por dois anos, para evitar o fechamento de lojas.
“Mesmo assim, depois da pandemia, duas lojas acabaram fechando, mas abrimos mais 4 lojas em São Paulo. Estamos muito motivados com a expansão das franquias, porque estamos trazendo novidades para o mercado. É um canal que nos próximos 3 anos queremos crescer de maneira bem estruturada,” afirma o CEO.
Hoje são 23 franquias da Sorvetes Rochinha, já considerando a unidade de Alphaville que será inaugurada nesta terça-feira, 14, dentro do Alphaville Tênis Clube.
Para este verão, há três lançamentos na linha de impulso, segundo Moraes.
Uma das apostas da marca é o sorvete de abacaxi com gengibre, com base de água, que é vegano e com apenas 46 calorias.
Para o picolé, a marca aposta no lançamento O Pistache, um produto que é feito com 100% pistache e terá cobertura de chocolate branco. “Nossa receita tem a essência Rochinha: fruta pura em todas as suas camadas”, diz Moraes, que diz que buscou matéria-prima italiana para esse picolé.
Para as crianças, a marca lança o Geleco, um picolé de maça verde, recheado com uma geleia de uva. “Quando a criança morde, explode na boca, e é feito com base de fruta.”
Em dezembro, chegará á lojas o MINI ROCHINHAS, um sorvete que é bem comum na Disney e que tem formato de bolinhas.
O Brasil está no Top 10 dos países que mais consomem sorvetes no mundo. O setor faturou R$ 13 bilhões, segundo a ABIS (Associação Brasileira do Sorvete) em 2022. O setor encara uma retomada de crescimento pós-pandemia, segundo o CEO da Sorvetes Rochinha.
“Já sentimos a volta do consumo em 2023 e temos uma expectativa de crescimento de 30% do volume neste ano, em comparação com 2022. E no ano que vem esperamos um crescimento de 2 dígitos na casa de 25% no volume de produto vendido.”
A Sorvetes Rochinha, que deve comercializar 1 milhão de litros de sorvetes neste ano, deve faturar como franqueadora R$ 17 milhões neste ano. O faturamento total a empresa não foi aberto.
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