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Após quase falir, ex-InLoco triplica faturamento usando geolocalização para evitar fraudes

A startup já está em 25 países e tem a maior demanda puxada pelos Estados Unidos, onde mantém um escritório no Vale do Silício

André Ferraz, da Incognia: startup está crescendo em receita com uma velocidade dez vezes maior do que a InLoco (Incognia/Divulgação)

André Ferraz, da Incognia: startup está crescendo em receita com uma velocidade dez vezes maior do que a InLoco (Incognia/Divulgação)

A história da startup Incognia, ex-InLoco, carrega um dos bons exemplos de pivotagem das empresas brasileiras. No começo da pandemia, ela esteve prestes a falir.

O seu modelo de negócios principal, o braço de mídia, baseado no uso de geolocalização para a entrega de publicidade digital para levar usuários para as lojas físicas dos clientes, basicamente parou nos primeiros momentos da crise de covid-19. A receita caiu em torno de 90%.

Na mesma época, grandes empresas de mídia começavam a avançar sobre o território de geolocalização, um cenário já imaginado pelos sócios-fundadores da startup.

Em meio ao caos, eles entenderam que a InLoco Media não sobreviveria sem uma grande estrutura por trás e venderam a operação para o Magazine Luiza.

O valor ficou por menos da metade do valuation de R$ 500 milhões. Uma precificação que a empresa tinha recebido há poucos meses, quando recebeu aporte de R$ 80 milhões.

Como a empresa pivotou

Criada de um projeto de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, a startup sempre teve como elemento-base de conhecimento a geolocalização, área que usa recursos tecnológicos para identificar pessoas e objetos.

Antes mesmo da crise, a empresa já vinha estudando outros usos e aplicações. Logo depois da venda da InLoco Media, anunciaram a nova aposta: um produto de identidade digital, usando geolocalização para a prevenção a fraudes.

“Ninguém tocou no dinheiro”, afirma André Ferraz, cofundador e CEO da Incognia, sobre a fonte de financiamento inicial do ativo.

Como a operação foi estruturada

Com os cinco sócios, amigos desde a época a faculdade, Ferraz direcionou o valor para o desenvolvimento do produto, hoje embarcado em mais de 200 milhões de dispositivos distribuídos por 25 países.

O negócio está centrado em um produto que usa informações de tecnologias como Wi-Fi, bluetooth e redes como o 4G e 5G para criar identidade digital para cada usuário.

A partir daí, a startup oferece dois produtos para os seus clientes na tentativa de coibir fraudes em dois momentos.

  • Abertura de conta: o sistema bate os dados informados no cadastro com a localização do usuário e um conjunto de outras informações
  • Validação de uso: a cada utilização, checa a localização do usuário, confrontando com o histórico de uso e outras informações que os smartphones oferecem

Entre as vantagens da plataforma, está a segurança, a privacidade — uma vez que não requer acesso a dados do usuário — e melhora da experiência do usuário, por não demandar outras ações como senhas, reconhecimento etc.

“Apesar do lançamento em um momento conturbado, a Incognia está crescendo [em receita] com uma velocidade dez vezes maior do que a InLoco”, afirma Ferraz.

Sem revelar números, o executivo afirma que a Incognia triplicou sua receita em 2022, ritmo que espera repetir ao longo deste ano.

“Uma loucura, a empresa chegou no limite de quebrar, muito perto mesmo”, relembra sobre a fase ainda como InLoco.

Quais os principais mercados de atuação

A expansão do serviço é puxada por empresas de economia compartilhada e bancos e instituições financeiras, cada uma respondendo por 25% do faturamento. Os outros 50% vêm de setores como games, redes sociais e ecommerces.

O tíquete médio no Brasil, onde tem clientes como Rappi, BMG, Serasa Experian e iFood, gira em torno de R$ 3 milhões — há casos, em que valor é dez vezes maior.

Uma diferença fundamental no atual negócio é a internacionalização. A maior parte da receita vem dos Estados Unidos. O Brasil aparece em segundo lugar, seguido pela Índia.

O próprio Ferraz se mudou para os Estados Unidos há cerca de dois anos, em um esforço para ampliar a penetração. Vive no Vale do Silício, onde a empresa mantém um escritório. No país, estão os times de marketing e vendas, também responsáveis por negociações com outras partes do mundo.

Segundo ele, a ideia da mudança surgiu como um aprendizado do que a InLoco. Basicamente, o pensamento era: antes que uma grande empresa americana desenvolva uma tecnologia, domine o mercado de lá e desça pelas Américas, o melhor é se adiantar e marcar presença num dos maiores mercados do mundo.

O que esperar de 2023

Na expectativa por cortar as ruas do Recife curtindo o Carnaval, após dois anos nos Estados Unidos e de restrições à festa por conta da pandemia, o CEO está ansioso também por outra data.

Está previsto para o mês de maio o retorno de um potencial cliente, nível global, sobre a aquisição ou não dos serviços da Incognia. Sem abrir nomes, ele diz apenas que é o maior marketplace que existe.

Confiante no resultado, já projeta o aumento do time americano, que deve triplicar e chegara 30 profissionais — no Brasil, o ritmo deve ser menor, ampliando em 15%. Atualmente, contando as operações do Brasil e da América do Norte, são 96 funcionários.

Além das contratações, os investimentos da empresa para este ano incluem o lançamento do produto em versão desktop. Ao contrário de países emergentes, nos quais os usuários fazem quase tudo pelo celular, lá essa demanda ainda é muito forte.

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