Tomas Roggio, Yuri Danilchenko, Brian Requarth e Gina Gotthilf, da Latitud: "Queremos ser o principal investidor pré-seed de toda a América Latina" (Latitud/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 08h01.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2024 às 20h36.
À medida que avança no mercado, o ecossistema de inovação Latitud esbarrou em uma dificuldade. A empresa foi criada em 2020 como uma comunidade para apoiar fundadores de startups na América Latina e vem introduzindo novas frentes a cada ano.
Começou com fundos de investimentos em 2021 e, desde 2022, avança com uma plataforma de serviços, incluindo soluções para abertura de offshores e contas internacionais para startups. Mais recentemente, ao fazer o seu primeiro movimento inorgânico, a aquisição da consultoria Ballard & Associates, ampliou o leque de serviços com gestão de compliance e questões tributárias para startups.
Foi a hora de parar e dar nomes aos negócios, separando as operações. ‘O principal objetivo de realmente separar os negócios é o foco, porque há muita coisa que é destravada quando você tem um esforço concentrado, quando uma equipe está exclusivamente cuidando de encontrar, apoiar e elevar a próxima geração de fundadores de startups”, afirma Brian Requarth, um dos sócios da Latitud.
Com a decisão, de um lado está a Latitud Ventures, braço que já investiu em mais de 100 startups em estágio seed e pré-seed.
A operação esgotou os recursos do primeiro fundo, captado em 2021 no valor de US$ 12 milhões, e está operando com o segundo, anunciado em setembro e estimado para obter US$ 25 milhões - a angariação de recursos ainda está ativa. Com o veículo, a projeção é de alocar recursos em cerca de 60 startups, em cheques a partir de US$ 250 mil, nos próximos três anos.
E, do outro lado, está a área de produtos, com serviços em software que ajudam as startups a lidar com processos burocráticos quando precisam receber recursos financeiros de fundos estrangeiros e fazer as devidas declarações em países como os Estados Unidos.
Na divisão entre os sócios, o russo-brasileiro Yuri Danilchenko lidera a Latitud Products, e a brasileira-americana Gina Gotthilf e o argentino Tomas Roggio, head de ventures e membro fundador da Latitud, comandam a área de investimentos. Requarth, conhecido pela criação da VivaReal, empresa de imóveis adquirida pela OLX em 2020, mantém uma posição onipresente, com um pé em cada lado da operação.
A reestruturação, segundo os sócios, procura ainda trazer clareza aos clientes, no caso, fundadores de startups, sobre a operação da Latitud e a quem acessar a partir de cada demanda. “Quando transmitimos conhecimento aos fundadores, nós os ajudamos a encontrar mensagens muito claras que permitem às pessoas entender exatamente o que os seus negócios fazem. E é isso que estamos fazendo com o nosso também”, afirma Gotthilf.
A movimentação antecipa também prováveis indagações em relação a conflito de interesses. Como tem fundos próprios, a Latitud poderia ser questionada por outras gestoras de recursos em relação aos dados que as investidas dessas casas passam ao usar os produtos da empresa.
Embora diga que o modelo é comum no mercado de venture capital, os sócios reforçam que o novo formato funciona com uma espécie de muro, impedindo que os gestores das áreas, atuantes no dia a dia da operação, tenham acessos às demandas quem acontecem do outro lado. “Isso nunca foi um problema, mas pensamos que, ao nos separarmos, evitamos potenciais problemas futuros nos quais não conseguimos pensar no momento, mas que poderiam surgir”, diz Requarth.
Enquanto capta a segunda metade do fundo de US$ 25 milhões, a unidade de Ventures acumula 6 investidas. A ambição da plataforma é ser uma espécie de Y Combinator - uma das maiores aceleradoras do Vale do Silício (Estados Unidos) - para os fundadores da América Latina.
“Queremos ser o principal investidor pré-seed de toda a América Latina”, diz Roggio. Com tese de agnóstica de investimento, a Latitud tem acompanhado startups em setores com fintechs e tec fin, SaaS e negócios que usam AI generativa para impulsionar determinados mercados.
Além dos aportes em si, a empresa está aproveitando a nova formatação para mudar o seu formato de fellowship, programa de mentoria, acesso ao ambiente de inovação e aceleração. De grupos de mais de 100 pessoas, o número caiu para algo em torno de 15.
A busca é por ter um público mais seleto e dedicado e, por que não, mais próximo de criar a grande ideia. “Basicamente, a pessoa precisa ter atributos que sejam mais convincentes e que mostrem que, provavelmente, será um empreendedor de tecnologia altamente bem-sucedido e que estará construindo um negócio apoiado por recursos de venture capital nos próximos cinco a dez anos”, afirma Gotthilf.